Tic-tac-tic-tac.
Tic-tac-tic-tac.
Os cliques do relógio eram a sua única certeza de que ainda estava acordado.
Espreitando os olhos semiabertos, ele espiou na direção da janela, posicionada bem atrás da larga cama. Pensando que o sol já havia se encoberto em nuvens, imaginou que não faria mal finalmente abrir as cortinas e trazer um pouco de vida ao quarto.
Grande erro. Assim que seus orbes castanhos refletiram o céu azulado, ele sentiu os olhos arderem, irritados com tamanha claridade. Ele ergueu as mãos, que por um milagre, estavam livres de luvas. Os dedos ásperos tocavam a pele delicada nas pálpebras, tentando aliviar a dor. Lembrou-se de que o médico pedira para que ele não o fizesse, ou acabaria com mais problemas na visão do que já tinha.
Mas para ele, isso pouco importava.
Robert já estava morto por dentro.
Desde que acordara naquela manhã, que já parecia tão longínqua, ele soube que algo estava errado. Desde o céu tingido de um limpíssimo azul claro até o burburinho frágil entre os corredores, tudo parecia fora de seu lugar. Não foi necessário andar muito para perceber o que havia ocorrido, principalmente quando todos os moradores da casa já estavam reunidos antes mesmo das sete da manhã.
Quando escutou a notícia pela primeira vez, ele não quis acreditar. Como alguém tão determinada e teimosa como Amelia, uma das pessoas mais racionais que já havia conhecido—se tirasse seus pais da lista—havia simplesmente desaparecido? Aquilo deveria ser um engano, ela deveria ter saído para trabalhar, ou até mesmo ido conversar com uma amiga!
Ah, sim, uma amiga. Aquela cozinheira gentil—mas um pouco enxerida—havia mencionado algo sobre uma querida companheira de sua noiva, uma amizade mantida desde a infância. Ele não conseguia lembrar o nome da moça agora, mas isso tampouco importava.
O que importava era Amelia.
E, principalmente, onde ela havia se metido.
Ele mesmo havia feito sua busca. Vasculhou aquela casa inteira, descobrindo até cômodos que jamais teria pensado que existiam se não fosse o desespero por encontrá-la. Abrira porta por porta daqueles corredores, apenas para encontrar quartos e salas vazios, com poeira empilhada em manchas castanhas e asquerosas.
Até mesmo nos jardins ele procurou, espreitando entre árvores desfolhadas e pequenos arbustos, esperando encontrá-la escondida entre as estátuas de pedra e bancos cobertos de limo. Mas para seu infortúnio, não havia nenhum sinal dela.
Como um grão de pó soprado pelo vento, Amelia se fora.
Com as buscas pessoais infrutíferas, a Scotland Yard havia sido acionada. Para ele isso havia sido um grande exagero, mas também não poderia reclamar. Estariam contando com o apoio de homens capacitados, os mesmos que estavam tratando do assassinato do senhor Charles. Entretanto, mesmo sábios e robustos, aqueles senhores não pareciam muito interessados em ajudá-los.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fios de Cobre
Historical FictionUm casamento. Uma garota independente. Segredos à perder de vista. Amelia Stratford é mais uma jovem abastada da alta sociedade londrina. Determinada a acabar com seu iminente casamento, ela não mede esforços para se livrar do frio, arrogante e be...