Epílogo | Today's News

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Londres, 5 de outubro de 1878

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Londres, 5 de outubro de 1878.

Ouro Desvanecido, texto por Alexander Winter.

Hoje nossa cidade amanheceu com uma notícia trágica e também, um tanto curiosa. Ontem à noite, por volta das oito horas da noite, horário local, a Scotland Yard anunciou formalmente o desaparecimento de Amelia Stratford, herdeira da Companhia Stratford.

De acordo com informações de vizinhos da família, a jovem deixou a casa onde vivia com a madrasta, o noivo, o casal de futuros sogros e o pequeno cunhado durante a noite do último dia 3, sem deixar avisos, por meio de um cabriolé, conduzido por um cocheiro que já trabalhava na mansão há algumas décadas. Alguns também relataram que ela teria saído por volta do mesmo horário no dia anterior, porém a pé e também sem deixar sinais de seu destino.

Nenhum dos moradores da casa, nem mesmo os empregados, souberam dizer onde a jovem poderia estar. Quando questionada, Elizabeth Helena Griffen, conhecida como grande confidente da moça, relatou que sua senhora estava perfeitamente lúcida e vinha agindo como lhe era comum. De acordo com fontes externas de nosso jornal, todos os interrogados confirmaram as informações da senhora Griffen.

Por isso, muitos devem se perguntar: onde uma moça tão linda, abastada, de uma família nobre, poderia se esconder? Estaria ela viva? Estaria ela morta? Pois bem. Já é de meu conhecimento que os leitores admiram essa minha coluna por causa de minhas análises por vezes torpes, ácidas e até mesmo desrespeitosas de casos criminais como este.

Sempre tento ser cuidadoso quando trato dos ricos da sociedade londrina, pois sei muito bem que eles têm a quantidade de libras necessárias para mandarem cortar a minha cabeça.

Porém, desta vez, não quero deixar-me levar por minha irritação matinal por este emprego ou pela podridão da cidade em que vivemos. Não, não. Dessa vez, quero ser franco, mas também um homem analítico. Esse caso, que à primeira vista parece tão simples, é, na verdade, a mais intrincada das situações que já me deparei.

Acompanheis-me, leitores, e vejam, se ao final deste texto tão longo, podereis compreender o que pensei enquanto pressionava cada tecla de minha preciosa máquina de escrever.

Caso tu, leitor, venhas acompanhando os mexericos sobre as relações entre as famílias ricas de Londres, saberás que a senhorita Amelia Stratford estava noiva do senhor Robert Irving, outro jovem surpreendente, também herdeiro de um grande império industrial, as Empresas Irving. Soubestes também, por meio de nossos informantes, que no último mês, ambas as famílias passaram a viver juntas na cada da noiva, uma forma de "aproximá-los antes do casamento."

Tudo isso lhes parece muito fútil, não é? Casamentos não deveriam envolver tanta proximidade, vós sabeis disso, mesmo em meio às extravagâncias dos abastados. De fato, é impossível ter conhecimento de como estava a relação entre noivos. Mas como o bom conhecedor de matrimônios arranjados que sou, creio que os dois não deveriam se gostar.

Uma má relação com o noivo não soa o suficiente para uma possível fuga, a não ser que fosse algo tão intragável que beirasse a violência. Mas ora, deveis lembrar-se dos acontecimentos terríficos que abalaram a família Stratford há mal duas semanas. O senhor Charles Stratford, que comanda a empresa desde que seu irmão, Andrew Christopher Stratford faleceu, também veio a encontrar o fim de sua vida. Todos vós sabeis o quão a morte de alguém querido podes impactar-nos, independentemente das nossas riquezas.

Agora, penseis bem: a senhorita Amelia não mantinha boa relação com seu noivo, não parecia ser próxima da família Irving muito menos dava-se bem com a madrasta. Adicioneis à todas essas intrigas a morte de seu pai e então penseis o que a mente dessa jovem se tornou.

Exato! No mínimo alguma espécie de turbilhão, quase beirando a loucura, uma mulher jovem e abandonada, à mercê de si mesma. Nem mesmo as suas libras acumuladas no Banco de Londres poderiam salvá-la da melancolia e da angústia de perder alguém que ama.

Juntando todas essas informações, passei a analisá-las uma por uma, tentando encontrar uma razão lógica para que ela desaparecesse. Devo vos admitir que não foi uma tarefa fácil, mas foi extremamente prazerosa. Já faz alguns meses que casos interessantes não caem em minhas mãos, como sabeis bem, caso acompanheis essa minha miserável coluna jornalística.

Creio que não havia apenas um único motivo para que a senhorita Amelia viesse a fugir, e sim vários. Ela estava presa naquela linda mansão, quase como uma masmorra, esperando para que outros lhe decidissem o destino. Dinheiro, meus caros leitores, nem sempre poderá sustentar toda a nossa vida. Mesmo esses aristocratas querem fugir das próprias realidades, enfrentando o cinza londrino contra suas casas reluzentes de ouro.

Como sempre, deixarei aqui a minha verdadeira opinião, sem tirar nem pôr. Sei que muitos de vós irão discordar de mim e até mesmo espreitar pelos escritórios do jornal, esperando pela oportunidade de dar-me uns sopapos. Mas a imprensa é livre, e eu, portanto, dar-me-ei o direito de expressar-me na minha própria página.

Acredito que Amelia Stratford possa sim ter fugido. Para onde? Bem, isso são detalhes. Como? Vos sabeis bem que,com o dinheiro e os contatos certos, pode-se tudo. E isso, certamente, essa moça tinha de sobra. Mas sem dúvidas, seja lá onde ela esteja agora, deve ser infinitamente melhor do que a situação em que ela se encontrava.

Claro que eu deveria considerar alternativas mais óbvias, como sequestro ou assassinato. Neste momento, consigo ver as cabecinhas de meus leitores fumegando, tentando entender a como cheguei nesta conclusão. Não vos preocupeis, meus caros: vós não são obrigados a compreender meus pontos de vista.

Eu ainda considero tais possibilidades. A violência é, de fato, a maneira mais fácil de explicar o que se passa no nosso febril país. Entretanto, prefiro afundar-me em minhas próprias teorias, do que me afundar em suposições tão comuns, e até mesmo, infundadas.

Isso não quer dizer que a senhorita Stratford não será encontrada. Quando o ouro desvanece, meus caros, ninguém jamais deixa de procurá-lo. Enquanto o seu brilho puro restar, haverá alguém para perseguir o tesouro inestimável, o metal mais puro originado das minas mais profundas.

E com essas palavras, concluo mais um artigo terrível para uma coluna ainda mais duvidosa.

Espero que tenham uma ótima semana, meus leitores.

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