No dia seguinte, acreditavam estar no período da manhã, mas já estavam no meio de uma tarde ocultada pelo tempo. A missão agora era construir uma jangada, e isto demorou praticamente o restante de todo o melancólico e duro período de trabalho árduo.
Barnes ordenou que todos ajudassem, exceto a única mulher da tripulação e o padre, que ficou rezando junto à moça de pele cristalina.
Puseram-se mata adentro os outros quinze, divididos em três grupos de cinco. O trabalho fora tão custoso e cansativo quanto encarar a força da natureza como em dias passados... Padre Wilson teria dito que "Só Deus sabe como vocês fizeram aquela jangada". O plano inicial era montar a jangada em no máximo um dia, mas foram gastos quase três. A complicação em saber o horário era uma pedra no sapato, e assim aconteceu por toda aquela sequencia até a construção e toque final a nova navegação dos homens.
No início do terceiro dia de montagem, haviam juntado de quatro a quinze toras de madeira. Colocaram-nas cuidadosamente próximas a água, na beirada, para ser preciso, onde a água não tinha potência para levá-la. Cada tora tinha tamanho semelhante e se encaixaram de forma sutil. No improviso, Brown optou por combinar os mastros danificados da antiga navegação, tirando, claro as partes quebradiças da mesma. Eles eram maiores que as anteriores toras e formavam uma cruz na parte inferior. O processo fora feito com todos os quatro ou seis mastros e sobras utilizadas. Nenhum vão grande foi deixado entre elas. Posteriormente, foi a vez de amarrar e entrelaçá-las. Optaram por utilizar somente cinco das dez cordas que possuíam no barco e as outras cinco foram cipós resistentes encontrados por Brown e o brasileiro Cláudio. Todas as pontas foram amarradas com total firmeza. Para complementar, utilizaram partes que soltaram do casco do barco anterior e acoplaram por baixo e pela parte superior da nova construção, não deixando que nenhum espaço vazasse. O toque final ficou por conta das velas basicamente amadoras feitas pelas mãos de Sullivan e do turco Burak Çakir. Os tecidos gastos e arrebentados pela chuva passada e poderosa foram reutilizados de forma saudável para o projeto, e assim foi finalizada.
Ao término da construção, Barnes se juntou a todos no seguinte dia. A capacidade máxima era somente de duas pessoas. Ele e mais uma, apenas. Logicamente, nenhum tripulante inscrito tomou frente, em que pese o enxerido brasileiro ter cogitado levantar sua mão para se oferecer. Mas obviamente seria recusado, claro! Assim, o capitão optou por levar um de seus oficiais de confiança, e o escolhido foi Jimmy Brown, e todos concordaram firmemente com a ideia.
Na noite seguinte, os quatro oficiais se reuniram dentro da antiga embarcação e exemplificaram a situação. O capitão tinha um baú guardado num dos compartimentos em que só ele utilizara. Quando abriu, havia algumas armas de fogo e munição. Larsson ficou boquiaberto, Brown e Sullivan soltaram bons palavrões. Os dois últimos andavam somente com facas e o sueco com canivetes. Aquilo era demais para eles!
A ideia de irem armados até o farol não era muito ruim, claro, sequer sabia quem estava por lá, mas isto de fato pegou o trio de surpresa, e Barnes riu a toa do espanto de todos ali presentes.
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A Ilha da Loucura
MaceraPor volta da década de 90, o Capitão John Barnes e mais dezesseis envolvidos saíram em uma viagem de busca a respeito do desaparecimento de um companheiro de trabalho. Jonathan Hill e sua tropa marítima de exploração havia se aventurado em um estudo...