Injúria

64 2 0
                                    

Suponhamos que eu estava em uma zona de guerra. Ou eu morria em combate, ou eu saía com uma parte do corpo faltando. Não gostava de nenhuma das opções, mas não pude nem escolher uma delas porque meu adversário partiu para o ato e me acertou um soco no rosto.

A multidão a nossa volta pareceu se interessar pela briga e jogou todos os olhares para nós. O segundo golpe foi com mais força e eu nem tive tempo de pensar em me defender. Na verdade, eu continuava sem entender o que tinha acontecido. Ok, estava apanhando, mas por quê? Eu nem conhecia a garota que tinha me beijado!

A terceira pancada me derrubou bruscamente, quase me fazendo bater com a cabeça em um desnível do piso. Por sorte - ou não - quem sofreu o trauma foi meu ombro. Talvez pela adrenalina correndo pelo meu corpo levantei imediatamente e me esquivei de outra investida.

Agora mais próximos da piscina, tive que pensar rapidamente em algo, já que o Spencer não parecia querer parar. A maioria dos curiosos tinha saído de dentro da casa e buscava por lugares estratégicos a fim de filmar a ocasião. E enfim, eu dei um ponto final para o duelo.

Me pus de frente pra piscina e deixei que o loiro viesse ao meu encontro. Eu sabia que ele já não estava muito sóbrio e desviei dos seus punhos no momento em que tentou me atingir. Resultado: o atleta se desequilibrou e caiu como uma pedra dentro d'água. Fiquei cuidando para ver se ele iria emergir, mesmo ele tendo me atacado não queria o seu mal.

Não demorou muito para ele voltar a superfície, me encarando como se fosse um crocodilo assassino pronto a dar o bote. A plateia comemorou o meu feito enquanto vaiava com o garoto parcialmente imerso. Em meio ao tumulto o Gabe passou o braço por trás de mim e me tirou do cenário mortífero.

- O que aconteceu? - sua cara demostrava espanto e curiosidade ao mesmo tempo.

- É uma longa história - meu coração estava tão acelerado que pensei que sairia pela boca - Preciso ir para casa, mas não sei se os garotos tem como voltar.

- Acho que sei onde estão, vou ver o que querem fazer - ele disse dando as costas para mim.

- Vou esperar lá no carro - avisei-o e segui meu rumo.

Eu estava tão atônito que não tinha condições de dirigir. No momento em que entrei no banco do carona e tudo se aquietou, senti o ombro. Era como se um formigamento fosse de cima até a ponta do dedo. Não sabia ao certo se era apenas um desconforto ou algo mais sério. Conforme eu ia me acalmando a dor aumentava. Depois de alguns minutos o Gabe apareceu ali com os meninos.

- Sánchez! Você tá sangrando! - o Tristan quase berrou assim que me viu, ele não estava nenhum pouco sóbrio.

- Tá tudo bem - disse, mesmo um tanto tenso em receber a notícia sobre o sangue.

- O que foi que aconteceu? - o Peter franziu o cenho, me olhando de cima a baixo.

- Basicamente uma briga com o Spencer. Prometo que explico melhor amanhã.

- Eu vou levar o Thomáz pra casa, vocês tem como voltar? - o Gabe soltou com certa preocupação em seu tom.

- A gente dá um jeito, nem esquentem.

- Nos mantenha informado, viu? E lembre de me lembrar amanhã, porque eu vou esquecer assim que deitar na cama - o Tristan chegou bem perto do meu rosto, apoiando uma das mãos na minha coxa. Até naquela situação ele conseguia nos fazer rir.

- Pode deixar - eu disse, agora, esboçando um sorriso.

- Fique bem Sánchez - os três abanaram e tomaram rumo de volta à casa enquanto o loiro entrava no carro.

MexicanoOnde histórias criam vida. Descubra agora