Sopa de cores

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O episódio no carro me fez acalmar os nervos. E sim, eu estava precisando. Eu sabia que em algum momento a bomba de emoções iria explodir, só não queria que o alvo tivesse sido a Rose. Pelo menos o caminho até em casa foi deveras divertido, nós cantamos e rimos de piadas bobas.

Ao chegarmos, fomos direto para a sala encontrar algo para assistir. Como os dois estavam com preguiça de ir pra cozinha acabamos pedindo uma pizza. Agora que eu não tinha mais porquê cuidar tanto da minha alimentação podia dar umas escapadas com maior frequência, claro que não ia passar dos limites também. Olhamos o seriado por horas até o remédio me pesar a vista.

Subi para o quarto depois de dar um boa noite demorado pra Rose, agradecendo pela conversa mais cedo. Coloquei o celular pra carregar e acabei esquecendo de acionar os alarmes. O que aconteceu foi que quase não acordei para a prova, se não fosse pela minha irmã eu teria passado a manhã na cama. Levantei tão em cima da hora que o Gabe já tinha ido de a pé para o colégio. Ele até tentou me acordar com mensagens, mas não foi suficiente.

Ainda bem que eu tinha uma Rose para me levar às pressas pra escola. Mesmo assim, quando cheguei na sala já estava fechada. Olhei de relance pelo corredor e não vi mais nenhum azarado pra me fazer companhia. Respirei fundo antes de bater na porta e passei pelo constrangimento de apelar por uma chance.

- Sanchéz?! - o professor me olhou um tanto confuso - Está atrasado!

- Desculpe Sr. Finkler, mas um braço a menos! - apontei para a tipoia com um sorriso envergonhado.

- Tudo bem, dessa vez passa - ele disse me alcançado uma das folhas que tinha em cima da mesa.

Agradeci apanhando o papel e procurei por uma classe vaga. Pra minha sorte só tinha uma disponível e adivinhem atrás de quem? É, Spencer Gale. Fiquei um tanto receoso em ir até lá, mas não podia fazer a prova em pé. Tentei parecer indiferente e agi como se não o conhecesse. Devo dizer que meu coração acelerou as batidas assim que sentei de frente para suas madeixas loiras. Ele não ia tentar nada violento no meio de uma sala né?

Enfim, depois de ajeitar meu material voltei minha atenção à folha repleta de perguntas elaboradas. O teste não estava tão difícil quanto eu esperava, provavelmente porque tínhamos criado macetes para as fórmulas e como usar cada uma delas. Comecei a colocar as respostas no papel e no momento em que fui apagar uma questão errada minha borracha simplesmente voou e acabou caindo justo aos pés do meu colega da frente.

Suspirei enquanto fechava os olhos e pensava em uma forma de apanhar o meu pertence. Foi aí que o inesperado aconteceu: o Gale percebeu o triângulo branco caído ao pé da sua classe e se abaixou para pega-lo. Ele virou parcialmente para me alcançar o objeto e exibiu um quase sorriso.

Sussurrei um obrigado meio tenso, ficando confuso com a situação. Será que ele tinha visto que era eu mesmo? Talvez tivesse me confundido com alguém ou simplesmente fingido benevolência. Fugi um pouco do foco principal pensando naquele episódio, mas logo voltei para as fórmulas e cálculos. Mesmo sendo o último a chegar, fui um dos primeiros a terminar.

Como estávamos sendo liberados depois do teste, nem tive tempo de tirar satisfações com o Gale, já que ele provavelmente ficaria até os últimos minutos na sala. Deixei a coragem para o dia seguinte, porque não iria esperar por ele só pra conferir uma hipótese. Vai saber se aquele não tinha sido um caso isolado e ele continuasse a me evitar pelo resto do ensino médio.

Tentei esquecer o fato e mandei uma mensagem pra Rosalee avisando que tinha sido dispensado. Ainda era cedo e eu não sabia se ela poderia me buscar àquela hora. Em minutos recebi uma resposta dizendo que o Alex iria me pegar. Esperei na frente do colégio e ele levou menos tempo do que o planejado.

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