O dia acordou um tanto emburrado e as ruas estavam cheias de bruxas, monstros e esqueletos. O vento uníssono ajudava a dar vida para as fantasias e podia-se ver a animação das crianças mesmo debaixo das máscaras.
A Rosalee adorava comprar doces e distribuí-los na noite, quando os mais jovens vinham bater à porta. E adivinhem quem tinha que ir junto encher o carrinho? Eu mesmo. Não posso reclamar, eu gostava muito de fazer companhia pra ela e ajudá-la a decorar a casa. Era divertido.
A casa de festas que costumávamos ir às compras, ficava do outo lado da cidade, mas por sermos clientes vitalícios desde a época em que íamos com nossos pais, não a trocávamos por outra. Mesmo sabendo que era uma péssima ideia deixar pra última hora, lá fomos nós e como já era de se esperar, encaramos uma fila enorme na porta de entrada da "Fantasy".
Eu gostava daquele lugar, era como se os corredores refletissem memórias vivas e eu sempre acabava sendo arrebatado para um episódio específico: o dia em que compramos nossa árvore de natal - a que usamos até hoje inclusive. Eu não sei o porquê daquele fato ter ficado tão marcado em minha mente, talvez pela recente mudança da época, ou por ter sido uma lembrança feliz.
O ambiente ali dentro estava mais vazio do que o previsto. Acredito que a fila controlava a quantidade de pessoas que entravam para não superlotar. Eu e a Rosalee encontramos depressa a seção das guloseimas e fomos apanhando algumas opções. Compramos também umas abóboras para decorar a escada e algumas luzes que coubessem dentro.
- O que você vai usar à noite? - a Rosalee perguntou assim que chegamos às araras de fantasia.
- Eu tava pensando em uma calça e talvez um moletom - falei enquanto deslizava meus dedos por entre as roupas.
- Sánchez! É uma festa à fantasia!
- E eu vou ir fantasiado de mim mesmo - caçoei rindo bobo pra ela.
- Nossa que palhaço você - ela semicerrou os olhos - Já sei! - seu sorriso me assustava - Se não levar uma fantasia, não vou te emprestar o carro.
- Você não pode fazer isso!
- Sim eu posso - e eu sabia que ela podia mesmo.
Intercalei meu olhar entre ela e as opções à minha frente. Olhei desgostoso para as peças, tentando escolher algo que não fosse muito chamativo. Não consegui separar nada.
- Você não leva jeito pra isso. Me dá esse carrinho e vai lá pro provador - ela me empurrou até o outro canto do corredor.
Fui obrigado a provar inúmeros trajes, mas não me sentia confortável em nenhum deles. Foi um tanto engraçado, porque a Rosalee estava sentada na frente dos espelhos, junto com meia dúzia de mães acompanhando seus filhos. Até algumas das crianças pararam pra ver meu desfile de moda.
Enrolamos por uns bons 15 min até que me interessei por um conjunto. Ele me lembrava um pouco nossa terra natal, os chamados "traje de charro". Não hesitei em prová-lo e o resultado foi satisfatório.
- Nada mau, só acho que falta alguma coisa - a garota em minha frente franziu o cenho enquanto parecia procurar por algo.
Percebi quando ela focou no alvo e voltou trazendo uma máscara em forma de caveira, ou pelo menos parecia com uma. Os detalhes coloridos se destacavam em meio às roupas escuras. Coloquei-a sobre meu rosto e percebi que o objeto só ia até metade, deixando minha boca à mostra.
- Ok, agora está perfeito - com as palavras da minha irmã, fitei uma última vez meu reflexo no espelho e realmente o resultado me agradara.
Depois de me trocar, colocamos as mais novas aquisições no carrinho e seguimos o rumo. Faltava apenas uma hora para o meio dia. Tínhamos combinado de almoçar com a família do Gabriel e, à tarde, iríamos começar as decorações.
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Mexicano
Ficção AdolescenteThomáz Sánchez, um quase formado estudante de ensino médio. O último ano promete festas, brigas, amores e, quem sabe, uma amizade improvável.