Percorri alguns corredores em busca da garota, mas não tive sucesso no primeiro piso. Subi até o segundo andar e enxerguei-os assim que saí do elevador. Apertei o passo e logo que me viram levantaram preocupados.
- Hey o que houve? - dirigi a palavra mais ao Spencer do que para a garota que tinha enterrado o rosto no meu moletom.
- Nossa avó teve uma parada cardíaca em casa. A tia Peyton que mora com ela chamou a ambulância e quando chegou aqui avisou a gente.
- Ainda bem que tinha alguém pra socorrer ela - franzi o cenho enquanto acariciava uns cabelos bagunçados.
- É, mas meus pais se sumiram com uns médicos e não tivemos nenhuma notícia ainda - ele passou uma das mãos pela nuca - Não gosto de ver ela assim - o aceno com a cabeça foi em direção à irmã.
- Corrine, ei - levantei seu rosto e sequei seus olhos molhados com minha manga - Vai ficar tudo bem ok? Aposto que sua vó é forte como você!
Ela baixou os olhos e tentou esboçar um sorriso de canto ao mesmo tempo em que dava uma última fungada. Senti suas mãos geladas e pensei em pegar uma bebida quente naquelas máquinas automáticas. Puxei-a até o final do corredor e peguei três cafés, levando um pro Gale também. Sentamos nas cadeiras estofadas e esperamos por algum parecer.
Não demorou muito para que os pais dos Gale se juntassem a nós. Eles traziam notícias de que teríamos que aguardar os resultados dos exames saírem, o que provavelmente aconteceria no início da manhã. Eles até mandaram os filhos pra casa, mas nenhum quis sair dali. Resolvi ficar com eles por ali também, para dar forças naquele momento delicado.
Enquanto esperávamos, fiquei cuidando o trânsito hospitalar. O fluxo de pessoas até que estava calmo, talvez pela hora ou por ser um dia tranquilo mesmo. De repente, notei uma garota apoiada no meu ombro, sorri de lado vendo sua mão junto à minha e acariciei de leve sua pele. O Spencer continuava alerta, levantando vez ou outra para dar uma volta. Conversamos à beça durante a madrugada e eu pude perceber o quanto tínhamos nos aproximado em tão pouco tempo.
De verdade, eu nunca tinha imaginado aquele lado frágil dele. Antes de conhecê-lo melhor era como se fosse indestrutível e inabalável, mas eu estava totalmente errado. Fui arrancado do meu devaneio por um celular que começou a vibrar dentro do bolso, apanhei-o e fui até um canto para atendê-lo.
- Oi? - disse em meio a sussurros.
- Sanchéz o que aconteceu com a Corrine? - uma Rosalee preocupada respondeu do outro lado da linha.
- Calma, não aconteceu nada com ela. O problema é com a avó que teve uma parada cardíaca. Estou aqui desde às 3h esperando notícias.
- Sério?! Que horror! Tomara que ela fique bem!
- Sim. Ah, eu acho que não vou chegar a tempo da sua aula - disse entredentes olhando o horário em um relógio na parede.
- Fica tranquilo, o Alex passa me pegar - ela falou aquilo com um certo ânimo na entonação.
- Hmmm, Alex - sorri debochado.
- Quieto Sanchéz! Agora trate de cuidar bem da minha cunhadinha.
- Isso você nem precisa pedir - olhei de relance para ela e soltei um suspiro.
Desligamos depois da breve conversa e aproveitei o momento para notificar o Gabe da situação. Provavelmente ele me esperaria sem necessidade, porque eu não sabia à que horas sairia dali. Voltei para meu assento junto dos outros e não demorou muito para o médico vir até nós.
Felizmente os exames não apresentaram nenhuma alteração significativa. A vó da Corrine foi medicada e seria observada pelo resto da manhã. Se os parâmetros permanecessem dentro da normalidade receberia alta logo após o meio dia.

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Mexicano
Fiksi RemajaThomáz Sánchez, um quase formado estudante de ensino médio. O último ano promete festas, brigas, amores e, quem sabe, uma amizade improvável.