E finalmente o cenário emburrado que prevalecia há alguns dias desabou em água naquela manhã fria de segunda-feira. A chuva só piorava o fato de que eu teria que sair da cama e arcar com todos os problemas que rodeavam minha mente.
Levantei contra gosto um pouco mais cedo, já que estava demorando o dobro do tempo para me organizar. O banho foi mais difícil do que eu pensei e quase chamei a Rose para me ajudar. Meu ombro gritava fora do apoio e eu teria que aturar aquilo por três longas semanas.
- Sabia que quando a gente precisa pedimos ajuda? - a Rose apareceu na porta do meu quarto enquanto eu tentava vestir a tipoia sozinho.
- Eu estou quase conseguindo - no momento em que disse aquilo o objeto que tinha na mão escorregou e foi de encontro ao chão.
- É, tô vendo - nós rimos enquanto ela vinha até mim e juntava o acessório.
- Que pena que não vou poder ir pro colégio com essa chuva - disse mirando o tempo pela janela.
- Não seja por isso, eu levo você e o Gabe antes de ir pra facul - ela franziu o cenho depois de encaixar as fivelas.
- Eu tenho a melhor irmã do mundo - sorri debochado pra ela que logo fez o mesmo.
- Não vai se acostumando não, isso é só coisa de momento - a garota ajeitou com cuidado a tipoia em meu braço depois que terminou de entrelaçar as tiras.
- Valeu maninha - agradeci assim que ela finalizou o processo.
- Tenta ficar longe do Gale tá? - ela me olhou preocupada.
- Ele é quem vai passar longe de mim - revirei os olhos e mirei um gato que veio nos saudar.
- Eu espero que sim. E se tiver qualquer outra daquelas mensagens me avisa.
- Pode deixar mãe - brinquei, agora com o Nachos em meu colo.
Avisei o Gabe que tínhamos carona e ele apareceu por ali depois do café. Eu enrolei até o último segundo para sair de casa e quase fui arrastado pelo loiro. A Rose nos deixou quase na porta do colégio e tivemos que apertar o passo até a entrada por causa da chuva.
- Por acaso você virou algum tipo de celebridade e não me contou? - o Gabe pediu, já que todos os olhares caíram sobre mim quando adentramos pela porta.
- Eu estou tão desinformado quanto você - disse enquanto alternava algumas espiadas ao longo do corredor.
- Mas parece que eles não - o garoto também mirava as pessoas nos observando.
- Talvez eu tenha uma ideia do que possa ser - dei uma pausa e sussurrei para meu companheiro - Alguém subiu o vídeo da festa em que eu e o Spencer estamos brigando.
- Ah eu vi! Querendo ou não, foi você quem deu o último golpe - ele sorriu de canto.
- Se for parar pra pensar sim, mas fui eu quem levou a surra.
Continuamos conversando até encontrar os outros garotos. Enquanto ficávamos de bobeira perto dos armários enxerguei de relance o Gale. Meu sorriso foi se esvaindo aos poucos, até que eu ficasse totalmente sério. Atrás dele vinha a garota de olhos verdes e meu estômago embrulhou de imediato.
Assim que eles chegaram mais perto, notei a surpresa ao me verem naquele estado. Pelo jeito não sabiam que eu realmente tinha me machucado. A Corrine intercalava o olhar entre a tipoia e os hematomas em meu rosto. Sustentamos o olhar, mas desta vez o sorriso que sucedia aquele episódio não aconteceu. O Spencer também pareceu espantado, mas desviou o olhar rapidamente e puxou a irmã para outro corredor.
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Mexicano
Ficção AdolescenteThomáz Sánchez, um quase formado estudante de ensino médio. O último ano promete festas, brigas, amores e, quem sabe, uma amizade improvável.