Acordei com uma passada de rabo no nariz, apertei os olhos e mirei um vulto preto. Essa era a maneira mais usada pelo Nachos para pedir comida. Chequei o celular e por incrível que pareça, levantei meia hora antes do primeiro despertador. É, milagres acontecem.
Tive companhia para minhas higienes matinais: um gato entre as pernas. Descemos as escadas em um passo mais lento até a cozinha. Apanhei uma garrafa d'água da geladeira e servi uma porção de ração para o Nachos. Deixei o pote em cima da bancada e o chamei para que pudesse se deliciar com seu café da manhã.
A Rosalee apareceu logo depois que terminei de servir nossos pratos. Com o tempo que ganhei, resolvi preparar um lanche especial.
- Uau! Bom humor hoje?
- Parece que sim! - concordei olhando para os ovos na frigideira.
- Isso aí tá com um cheiro ótimo!
- Eu sei - debochei para a garota que sentava junto à bancada.
Ela me lançou uma careta e eu revidei. Comemos juntos e avisei que não voltaria para o almoço, íamos para a casa do Peter depois da aula. Terminei de me ajeitar e não demorou muito para que o Gabriel aparecesse na porta. Seguimos rumo para o colégio e, diferente da manhã passada, em uma caminhada sem corrida contra o tempo.
Confesso que os períodos pareciam passar mais devagar justamente por ser sexta-feira. O último, no entanto era o meu preferido: ciências. O decorrer da aula estava tranquilo até que a Srt. Smith resolveu propor um trabalho, em dupla. Eu não me importava de fazer com um dos meninos, mas: surpresa! Seria um sorteio, para que pudéssemos socializar com os outros colegas, já que era nosso último ano.
O trabalho valeria como uma nota de prova e era como se fosse uma feira de ciências, teria premiação e tudo mais. A feira era no final do mês, o que nos dava praticamente 3 semanas para a confecção dos projetos.
Eu já tinha inúmeras ideias em mente, independente de quem fosse comigo teria que ceder à alguma delas. Com toda certeza a pessoa se beneficiaria, já que sou bom nesse quesito, sem querer ser convencido.
Como eu era um dos que mais se manifestava na aula e tinha uma certa intimidade com a Srt. Smith - eu enchia a coitada de perguntas, mesmo em horários fora das aulas - ela me pediu ajuda para escrever o nome dos alunos em pequenos papéis. Depois disso ela passou nas classes deixando um papel dobrado pra cada um.
- Não, eu não vou fazer trabalho com o imbecil do Thomáz.
Esse era eu, e o garoto gritando meu nome, era o Spencer. Ele estava muito bravo por ter me sorteado. Fiquei sorrindo debochado para ele.
- Fazendo comigo, pelo menos você passa na matéria babaca - eu sabia que ciências não era o forte dele.
- Eu prefiro tirar um zero, do que fazer com você - ele veio até a minha mesa e apoiou as mãos nela.
- Bom saber que gosta de ciências Spencer, porque vai fazer de novo ano que vem - me levantei pra ficar na mesma altura que ele.
Ele apontou o dedo na minha cara e continuamos nos xingando. A Srt. Smith já estava acostumada com nossas cutucadas - todos os professores acho que já - mas hoje ela não estava com paciência. Bateu com força as mãos na mesa, o que fez com que todos parassem. Ganhamos uma detenção para depois da aula.
Combinei de me encontrar com os garotos depois da detenção, eles iam ficar na escola pra fazer algum tipo de trabalho. O fim da semana seria usado para testar o novo jogo do Peter.
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Mexicano
Teen FictionThomáz Sánchez, um quase formado estudante de ensino médio. O último ano promete festas, brigas, amores e, quem sabe, uma amizade improvável.