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  Eu estava sobre as costas de uma girafa, e ela andava pelo mar, cada vez mais para dentro

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  Eu estava sobre as costas de uma girafa, e ela andava pelo mar, cada vez mais para dentro. A água tocava minha cintura e eu me deliciava com aquilo, quando de repente o animal foi perdendo o controle e não sabia nadar, então suas pernas se contorceram e eu fui levada ao fundo junto com ela.

  Mexi rapidamente a cabeça, para em seguida descansá-la sabe-se lá onde, então abri os olhos: meus pés estavam sobre o peito de Chan, meu tronco espalhado pela minha prancha e meus cabelos espalhados por suas canelas.

  Enquanto que o garoto me observava roncar com um sorriso. Estiquei os braços e bocejei, me levantando e sentando sobre a prancha:

  ㅡ Ai minhas costas! Não dormi bem esta noite...

  ㅡ Não parece que dormiu mal... Aliás, não sei o que você mais faz, se é roncar ou se mexer, pensei que estava dançando contorcionismo.

  Soltei uma risada fraca, eu não tinha como corrigir tal hábito, nasci com ele e provavelmente morreria com ele também.

  Olhei em volta: a fogueira estava apagada, a luz do Sol adentrava de pouco a caverna, as toalhas estavam jogadas bem longe da árvore. O que serviu de óbice para a minha observação foi o frêmito que minha barriga emanou, eu realmente tinha muita fome.

  Ajuntei o pacote e a garrafa vazios, jogaria fora mais tarde. Dobrei as toalhas e guardei na bolsa, guardei também meu macacão e chinelos na bolsa.

  ㅡ Então... obrigado por conversar comigo ontem, por me abrigar da chuva e por me suportar roncando a noite toda.ㅡ à porta da caverna, pendurei a bolsa sobre um ombro e debaixo do outro enfiei minha prancha.

  ㅡ Foi prazeroso... ainda que tenha sido uma aventura gigante...

  O menino sorriu de lado, pegando suas coisas também.

  ㅡ Eu agora vou para casa, sem dúvidas preciso de um bom banho.

  ㅡ Até amanhã.

  Então saí dali, despertando olhares curiosos de alguns turistas. Eu provavelmente estava fedendo, porém nem faria questão de conferir tal coisa.

  Cansada e com bastante fome, empurrei a porta, fazendo as mulheres se levantarem dos sofás rapidamente:

  ㅡ Você está inteira? Dormiu bem? Vou fazer seu café.ㅡ vovó Fátima apalpava meus braços.

  ㅡ Eu nem fui trabalhar porque estava sumida.ㅡ disse Park Sun Ji.

  Minha mãe, que estava escorada na lateral da geladeira com os braços cruzados, desencostou o tronco e fez uma careta:

  ㅡ Que bom que voltou, pelo menos não preciso chamar a polícia e agora posso trabalhar.

  Ajuntou a bolsa e saiu pela porta, gritando pela mesma se a mãe não vinha. Vovó Sun Ji, porém, fora um pouco mais sensível ao repousar a mão em meu braço e beijar o topo de minha testa, saindo também de casa.

  Minha avó paterna ordenou que eu fosse tomar um banho e colocasse as roupas sujas para lavar em seguida. Antes de ir para o banheiro, esvaziei minha bolsa e coloquei tudo na lavanderia que ficava na garagem.

  Ao tirar o biquíni já dentro do banheiro, senti meu corpo bastante dolorido e concluí que aquela tinha sido uma das piores noites que passei fora de casa. Então parei ante o espelho, com as mãos segurando os seios:

  ㅡ Você é uma idiota.

  Com certeza se não estivesse com Bang Chan, eu teria corrido para casa mesmo na chuva e no outro dia teria levantado com um resfriado severo. Mas porque era ele, com aquele guarda-chuva amarelo, eu não podia fazer nada a respeito, apenas entrar naquela caverna e fingir não ter medo dela.

  Graças a ele, entretanto, percebi que o que falavam acerca da caverna não passava de lendas estapafúrdias de gente sem o que fazer. Ao contrário do que diziam, era um lugar bastante agradável e bonito de se ficar, mas não o suficiente para passar a noite sobre uma prancha de surfe.

  Ainda nua diante do espelho, me peguei pensando na vergonha que passei na frente de Chan ao colocar os pés sobre seu peito e roncar sem escrúpulos, e também pensando sobre como ele era bonito.

  Dei um tapa em meu próprio rosto e entrei no boxe, abrindo o chuveiro e sentindo aquela agradável água quente cair sobre meus músculos rígidos, até soltei um gemido de felicidade ao finalmente ver um chuveiro com água quente.

  Fechei a ducha e me enrolei na toalha, sequei os cabelos com o secador elétrico e calcei as pantufas, ao abrir a porta senti um exímio cheiro de comida, fazendo com que as lombrigas inexistentes em minha barriga clamassem por algum alimento. Entrei no quarto e coloquei um short jeans e uma camiseta azul com algumas ondas desenhadas à mão.

  Saí bocejando e rastejando sobre meus próprios pés. Deslizei preguiçosamente o quadril pela cadeira, apoiando os cotovelos na mesa posta:

  ㅡ O que fez para mim, vovó?ㅡ perguntei esticando o pescoço para tentar ver o que tinha na panela.

  ㅡ Fiz o omelete com salame e muçarela que você adorava quando criança. ㅡ colocou a frigideira sobre um descanso ㅡ Tem também pizza de ontem à noite e café.

  Meu cérebro dizia que aquilo tudo era muita comida, mas minha barriga dizia que eu conseguiria comer absolutamente tudo e ainda seria capaz de pedir mais.

  Realmente comi tudo, ainda pedi mais um pequeno gole de café para engolir a primeira dose do remédio da ansiedade ao invés de chupá-lo como era o correto. Vovó me insistiu para ir dormir, mas eu queria mesmo era contar a noite passada para ela.

  ㅡ Não tem como ser uma aventura, foi aqui perto.

  ㅡ Querida, ㅡ agarrou minha mão entre as suas duas ㅡ você viveu uma aventura, e com alguém que ama...

  Estalei a língua e desvencilhei minha mão. Olhei para o lado, passando a língua entre os dentes tentando não gritar com a senhora ali sentada no sofá ao meu lado:

  ㅡ Vovó, está mais para alguém que eu odeio do que alguém que eu amo. Aquele menino me chamou de linda logo na primeira vez e ele é bem incisivo e grudento, como ousa dizer que eu o amo?

  ㅡ Bom, você pode não o amar ainda, mas ele parece gostar muito de você, o dê uma chance.

  Os olhos brilhantes e ternos de minha avó foram o que fez as minhas defesas se desarmarem e me fazer pensar melhor a respeito. Será que era por isso que ele era daquele jeito? Será que era por isso que ele não me xingou quandoㅡem todos os sentidos ㅡ lhe botei os dois pés no peito? Será que...? Eu não tinha mais o que perguntar.

  Então por ora, acatei minha confusão e me arrastei até o quartinho da bagunça, deitando no colchão para tirar um cochilo.

O mar que habita em mim- Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora