A escrava, a arena e a fera

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Sob supervisão de Heleniak, Aurien passou a servir no palácio cuidando dos jardins, trabalho para o qual não ofereceu resistência.

— Mostra-lhe como deve fazer. – Heleniak ordenou à sua serva Isis.

— Hum, o soberano mandou mais uma selvagem para a morte. – Meio que resmungou.

— Ele manda, nós obedecemos! Cuide para que essa dure mais.

— Verei o que posso fazer.

Isis mostrou-se benevolente com a nova escrava. Ensinou-lhe como proceder no cuidado com as plantas e indicou-lhe quais eram letais para humanos.

Ao passo que ela cuidava desses afazeres, Layus recebia a perturbadora notícia de que o imperador a tinha sob seu poder.

Decidido a pôr fim ao impasse, convocou uma reunião urgente com seus generais, dentre eles, suas filhas: Kira, Freya e Melinda. A gravidade da situação tornou a discussão acirrada.

— Não há o que discutir meu pai. Ofereça-me em troca da vida dela. – Adiantou-se Freya.

— Isso está fora de cogitação! – Negou-se o pai.

— Concordo! Fazer isso seria o mesmo que declarar abertamente que ela é importante para nós. – Kaleb intercedeu.

— Acaso não fizemos isso ao oferecer como barganha um dos generais de Lamark? Freya tem razão. Ofereça uma de nós como moeda de troca e o soberano aceitará. – Declarou Melinda.

— Ela tem razão. – manifestou-se Kira— Devemos tirá-la de lá, antes que a descubram. É nosso dever. Não nos negue isso papai. – Tentou convencê-lo.

— Basta! Não enviarei nenhuma de vocês para o sacrifício. Acharemos outra solução. – Foi incisivo.

***

Embora houvesse essa tensão em relação ao destino de Aurien, ela pouco se abalava. Nada parecia perturbar sua serenidade, o que desconcertava a todos no seu novo convívio, inclusive a própria princesa, que se perguntava o motivo de sua firmeza de espírito. Pois nem mesmo as provocações de alguns senhores a perturbavam.

Naquela manhã, em especial, Isis a deixou sozinha no jardim interno da ala norte, para ir cuidar de outros afazeres. Tudo seguia normalmente, até ela ouvir um barulho como o de um trovão, que vinha da parte do jardim que lhe fora proibido de entrar.

O som angustiante a fez ignorar os avisos de perigo e seguir para lá. Deparou-se, então, com um animal gigantesco enlaçado pelo pescoço por uma das plantas carnívoras; ele lutava, ferozmente, para se soltar. Novamente, ignorou o perigo e o fato que ou o animal ou a planta poderiam estraçalhá-la e lançou mão de uma lâmina afiada e cortou os laços que o prendiam.

Tão logo se viu solta, a fera avançou contra ela para devorá-la, deixando-a petrificada. Aquela era uma fera selvagem, predador da mais alta escala evolutiva, temida por todos, sem exceção.

No entanto, Aragon o domesticara. No mais, ninguém se atrevia a aproximar-se da fera sem que houvesse uma barreira de segurança separando-os.

Aurien manteve-se quieta; o animal andou à sua volta, espreitando-a. Pode sentir sua respiração forte bafejá-la.

Se por um lado a fera a ameaçava, a planta assassina também não desistira; um laço, sorrateiro, arrastava-se pelo chão como uma serpente, tentando alcançar as pernas da moça. Desta vez, a fera se antecipou e dilacerou o laço com as garras. Depois fungou forte no rosto da jovem, a ponto de balançar seus cabelos, deu um esturro e, como se num sinal de gratidão, afastou-se.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora