PRESSÁGIOS

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Aurien desejara ter saído correndo dos aposentos do imperador, mas não ousou deixá-lo sozinho em sua debilidade. No entanto, optou pela poltrona, por mais que ele insistisse para ela ir para a cama. Estava confortável no enorme assento, feito sob medida para acomodar o soberano. Adormeceu, ao contrário dele, que se limitou a observá-la.

Não pode deixar de notar que em dado momento ela começara a se agitar. Alguma coisa perturbava seu sono e percebendo que ela sofria, resolveu chamá-la. Saltou da cama e cambaleante a alcançou.

— Acorde, querida! – Chamou-a, tocando-lhe a mão e dando uma leve sacudida.

Ela abriu os olhos, sobressaltada e vendo-o diante de si, jogou-se em seus braços de tal forma que quase o derrubou.

Ele a sentiu tremer. Não indagou seus motivos. Tampouco, ela falou. Ela aceitou o acalento em silêncio, e em silêncio, ele a acalentou. Levou-a para a cama e a manteve junto ao seu peito.

O aconchego àquela altura pareceu-lhe uma dádiva, que ela não teve forças para recusar. Os pesadelos que tivera no acampamento rebelde vinham se repetindo com frequência. Via-se morrer com o coração trespassado por uma adaga. Desta vez, só mudou o algoz. Era Layus quem a matava.

Sempre acordava com a dor extenuante de ter o peito rasgado pela lâmina afiada. Sempre estava sozinha ao acordar. Sem o abraço que necessitava para acalmá-la. Mas desta vez, teve Aragon. Ele foi o amparo de que precisava. Sua respiração demorou a voltar ao normal. Parecia que o ar do quarto havia ficado rarefeito.

Sentindo que ela havia se acalmado, ele a questionou:

— O que perturbava seu sono?

— Minha morte! – Foi franca.

Ele sobressaltou-se. Não esperava que fosse algo tão terrível.

— Sinto-o! – Balbuciou tremente.

Por alguma razão, temeu perguntar como se dava essa morte.

Ela percebeu que o peito dele arfava. Estava contrito.

— Não há o que temer! – Ela disse com a suavidade de sempre — Quando eu partir haverá um sumo sacerdote para me substituir e o senhor poderá nomear uma nova rainha. – Explicou calmamente.

— Falas como se sua morte estivesse decretada. – Meio que a censurou.

— Sim! Assim é!

— Não permitirei...

— O senhor será a causa! – Revelou.

— Como?! – Alarmou-se.

— Não me peça para falar disto! Não consigo reviver tudo de novo, não agora. – Disse afastando-se dele.

— Aonde vais?! – Questionou-a ao vê-la se levantar e se direcionar a saída.

— Preciso pensar! Vou andar um pouco! – Explicou e saiu.

Aragon ficara visivelmente perturbado ante a revelação. Por muitas luas planejara contra a vida dela, porém esta já não era mais sua intenção. O que desejara impedir acontecera; ligara-se a ela, embora não conseguisse admitir em voz alta.

Parecia a repetição da história de séculos atrás. Ele ligado a uma mulher humana que o rechaçava por preferir Layus. Atormentado por tais pensamentos, não conseguiu mais dormir.

Com Aurien não foi diferente. Os passos a guiaram até o lago. Sua superfície estava congelada. Lamentou. Deitou-se, então, de bruços na ponta do cais e pendeu o braço para fora do amadeirado; com a ponta do dedo fazia círculos sobre o gelo. A frieza alastrando-se pelo seu braço. A sensação era boa. Gostaria de poder mergulhar.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora