De volta ao lar

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No dia seguinte, ao ser despertada, Aurien recebeu a notícia de que havia uma comitiva pronta para levá-la de volta ao templo. O que foi uma grata surpresa, já que imaginava enfrentar mais resistências por parte do soberano.

Após uma noite atribulada, Aragon chegara à conclusão que carecia retroceder em sua postura ofensiva. Queria o controle sobre a grã-sacerdotisa, mas buscaria outros meios. Medir forças com os deuses não era o caminho. Não que tivesse temor ou medo, simplesmente o aborrecia a ideia de ter que tratar com eles. Porém, certificar-se-ia, pessoalmente, de que ela chegaria ao seu destino.

Não demorou muito para que o líder dos rebeldes descobrisse o que se passava. E sua protegida de volta ao templo, até então, havia sido algo inimaginável para ele. Foi um imenso alívio descobrir que ela sobrevivera. No entanto, não se deixava enganar. Sabia que por trás da concessão do imperador havia algum interesse obscuro. Uma armadilha, talvez.

Jamais facilitaria para o inimigo. Mandou investigar e descobriu que o templo ficara sob uma vigília oculta das sentinelas reais, em tempo integral. Certamente, Aragon esperava emboscá-lo, mas estava decidido a dificultar as coisas para ele. Então, mandou um intermediário ao templo.

— Minha senhora, podemos conversar?! – Inquiriu uma jovem, respeitosamente.

— Qual o seu pesar ou a sua petição?!

— Não é nenhuma coisa nem outra. – Retrucou — Sou Melinda, filha de Layus. Vim em seu nome. – Revelou.

Aurien não demonstrou o espanto que teve pela descoberta. Permaneceu imparcial. Das filhas de Layus, conhecia apenas Freya.

— O que o líder dos rebeldes deseja de mim?!

— Explicar-se!

— Há explicação para o que ele fez?! – Não tinha intenção de resposta. Não havia justificativa plausível para o que ele fizera. — O imperador tentou me convencer de que o atentado fora contra minha vida como forma de fazer o povo odiá-lo. – Revelou.

— Isto é uma calúnia minha senhora! Meu pai jamais atentaria contra sua vida. Ele é inocente dessa acusação. Acredite em mim, foi um acidente...

— Eu acredito! – Interrompeu-a — Eu não seria a grã-sacerdotisa se me deixasse seduzir por palavras lançadas ao vento. Mas me diga: o que seu pai fez foi menos grave?! Ele me usou como distração. – Justificou seu desapontamento.

— Aragon é um tirano! Merece morrer. – Exaltou-se. — Veja bem, o templo está vigiado por suas sentinelas. Ele a tem vigiado, isso é menos grave?

— Ora, criança insolente! Será que me julgas tão incapaz a ponto de não perceber o que acontece em meus próprios domínios?!

Naquele instante, Melinda percebeu que ela sabia de tudo. Nada estava encoberto aos seus olhos, o que a deixou intrigada.

— Eu não entendo! Por que permites esse ultraje, então?!

— Lutar nem sempre é a saída...

— Como não?! Que escolha aquele maldito tem nos dado?!

— Pondere suas palavras, elas me soam agressivas. – Repreendeu-a. — O povo de Meríade é orientado desde a tenra idade a ser contido e prudente e a saber usar as palavras com sabedoria. Comigo os ensinamentos não foram diferentes, porém nos anos de clausura aprendi mais com o silêncio do que com as palavras. O silêncio não exige nada dos outros e ao mesmo tempo requer tudo de nós. Silenciar é mais difícil do que o falar. – Disse-lhe, pacientemente.

— Eu não compreendo! O que a senhora quer me dizer?!– Questionou-a confusa.

— Que o silêncio diz mais sobre nós do que as palavras. Enquanto a palavra tem pressa, o silêncio requer domínio sobre nós mesmos... – Continuou explicando.

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