OS DEUSES VIVEM ENTRE NÓS

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Ao erguer a vista, Layus se deparou com Aurien flutuando no ar. Seus viçosos cabelos negros, haviam se convertido num tom esbranquiçado. Seus olhos estavam brancos como a neve. Estavam sem vida.

Um poder avassalador emanava dela, tornando a natureza revolta. A brisa afável que soprava do leste tornou-se bravia.

Enquanto isso, os generais de Aragon se aglomeravam em volta dele, ao passo que os de Layus surgiam de seus esconderijos.

Em silêncio, todos viram o imperador se levantar. Estava, aparentemente, confuso. O ferimento em seu peito havia desaparecido. Ele contemplou Aurien por um instante, depois se voltou para o inimigo.

— Tu não me pareces surpreso com o que ver! – Desconfiou o soberano.

— Não! Eu sempre soube o que ela era. O acidente no lago me revelou sua identidade. Nunca a salvei. Ela foi o que vi sair das águas. – Apontou — Depois ela perdeu a consciência e já não se lembrava de nada, então deduziu que eu a havia salvado. – Revelou.

— Miserável! – Bradou — A vida dele é minha! Não quero interferência! – Ordenou aos seus.

— Que seja conforme diz. – Concordou tomando sua espada.

O imperador não se fez de rogado, avançou contra ele com fúria assassina.

— Parem! – Uma voz ecoou, vindo de todos os lados e de lugar nenhum. Parecia o bramido de um trovão.

De repente, Lótus se manifestou entre eles.

— Filhos de Apolion, não lutem entre si! – Disse e voltou-se para Aurien, contemplando-a melancolicamente.

Nada a abalava. Estava quieta pairando no ar, parecendo vislumbrar o horizonte.

— Sua luta é contra ela! – Disse a deusa com voz entrecortada.

— Por quê? – Aragon foi direto ao ponto, embora soubesse que um questionamento insolente feito o seu era uma ofensa aos deuses.

— Ela abrirá o portal para o seu mundo, permitindo livre acesso aos deuses. Isso não acabará bem. Pode significar a sua destruição e de tantas outras civilizações.

— Que seja! Eu não a enfrentarei! – Ele negou-se.

Lótus o encarou. Estava incrédula diante da postura dele.

— Eu já vi acontecer! Eu estava lá; os dois também estavam.

— Impossível! – Proferiu Layus.

— A cada dez milênios, eu tenho tecido a teia de seu destino. É o meu castigo por tê-la gerado... Por ter amado a um humano sobre todos os outros...

Nesse momento os dois homens a encararam diretamente. Ela os encarou de volta. Não tinha mais porque desviar-se deles. Eles precisavam saber a verdade e ela precisava convencê-los a matá-la. Não havia saída; esse devia ser o desfecho de tudo.

Nos primórdios do tempo dos homens na terra, Lótus se apaixonou por um humano. Aurien foi fruto dessa paixão; uma filha de dois mundos.

A relação entre deuses e humanos era proibida por conta de uma profecia segundo a qual, o fruto de uma união como essas poderia lançar mão de um poder capaz de destruir mundos e os próprios deuses. Ainda assim, os deuses anciões permitiram que Aurien vivesse do outro lado, sob vigília e proteção da mãe.

Tudo corria bem, até que a jovem conheceu os filhos de Apolion. Ela se apaixonou por Layus. Os dois se amaram desde o princípio, o que despertou a ira de Aragon.

Apolion tinha seus próprios planos nefastos; queria o domínio sobre o mundo dos deuses e livre passagem pelos portais, mas apenas um poder o impedia: o poder do deus ancestral, resguardado em sua tumba, ao qual nenhum outro ser podia ter acesso.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora