A fera e o imperador

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Foi um verdadeiro alvoroço quando fera invadiu o palácio real em busca de Aragon. Não houve quem pudesse impedir sua passagem. A confusão se instalara pelos corredores. Ao chegar à sala do trono, encarou o soberano, furiosamente, depois se curvou a ele.

— Mas o que há com esse animal?!– Pronunciou-se.

Sua voz tranquila destoava da situação de perigo. Seus oficiais mantinham o animal sob mira de suas armas, esperando um comando de seu senhor.

Aragon fez um sinal com a mão para que se detivessem. Quando fera soltou algo no chão, ele levantou-se abruptamente do trono.

— Não... – Pandora quis adverti-lo.

Ele a ignorou. Aproximando-se, pegou o objeto. Reconheceu ser a pulseira da grã-sacerdotisa por conta dos dísticos na linguagem dos deuses. Não fora difícil supor que algo acontecera, já que ela nunca se separava daquela joia. Para assombro de todos, saltou sobre o animal, montando-o. Este partiu em disparada. As sentinelas os seguiram até os jardins, onde sumiram de suas vistas.

— Vão ao templo! Algo de ruim aconteceu por lá! – Ordenou Pandora, chegando em seguida.

Rogou aos céus para que não tivesse acontecido uma tragédia.

Aragon, por outro lado, ficara desconcertado ao se dar conta de que fera não se direcionava ao templo, pois tinha certeza de que seguiam para lá. A grã-sacerdotisa não tinha saído. Assim afirmavam seus vigias. Temendo ter caído numa emboscada, manteve sua arma ao alcance de sua mão. Estava mais que pronto para abater o animal caso se tratasse de uma armadilha.

A tempestade os encontrou no caminho. Percebeu, então, que se dirigiam à zona de morte. Recusou-se a acreditar que ela fora tão imprudente assim. E mais que isso, ela não sabia o quanto lhe facilitava as coisas. Sorriu com o pensamento que veio à tona. Seu sorriso era maléfico.

***

Aurien tremia convulsivamente. Sentia a consciência lhe deixar. Sabia que precisava sair dali com urgência. Fez um esforço para se pôr de pé. Tateou a pedra em busca de apoio que lhe permitisse subir. Não havia nada, apenas pequenas fissuras nas quais não conseguiria se segurar para escalar. Estava totalmente a mercê da natureza. O tempo pareceu se congelar, igual seu corpo que se enrijecia ante a agressão do frio. Gradativamente perdeu a consciência e o domínio de si.

Esteve sonhando e não se tratava de um sonho agradável. Acordou sobressaltada. Esperava o choque da onda de frio perpassá-la, invés disso, só um calor reconfortante.

— Aragon?! – Balbuciou.

Olhando em volta, notou estarem numa caverna e o aconchego vinha do corpo dele que a mantinha junto ao seu peito, sob seu manto. Automaticamente, afastou-se. Jamais tivera um contato tão íntimo com um homem. O rubor ficou estampado em suas faces. Ficara constrangida. Tentou ficar o mais próximo possível da fogueira para se manter aquecida. O barulho lá fora estava ensurdecedor. A tempestade piorara.

— Descanse! – Ele disse.

Ela o encarou, não sabia o que dizer. Voltou a olhar o espaço. Pouco adiante se formara uma poça d'água, provavelmente uma infiltração.

— Como chegou até mim?! – Ela, por fim, perguntou.

— Não lhe parece óbvio?! –Ele sorriu ao dizer, entendendo que ela queria iniciar uma conversa. –— Sua fera foi ao meu encontro. Confesso que foi uma surpresa e até agora me pergunto: por que eu?

— Quem mais se arriscaria a segui-la?! Não havia outra opção.

— Uma fera com uma fera?! – Ele riu novamente. — Parece até irônico de minha parte, mas não é. – Concluiu.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora