A serva e a escrava

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Isis estava eufórica. Agradecia aos deuses em prece por terem saído vivas da arena. Adentrou na área de banho apressada, com urgência em falar com a escrava.

— É um alívio ver que sobreviveste! Obrigada por salvar minha vida!

Com o susto, Aurien tentou se cobrir, inutilmente.

Isis paralisou com o que viu. Quando percebeu qual seria sua reação, a jovem a deteve.

— Não faça isso! Eu imploro!

Nisso, foram chegando outras moças; Aurien cobriu-se rapidamente.

— Isis, não! – pediu outra vez.

A serva recuou a postura diante do pedido insistente.

— Por quê?! – Só conseguiu inquirir.

— Confie em mim, não faça nada que possa me revelar.

— Está bem! – Concordou.

Ao adentrar, Heleniak lhes chamou a atenção e advertiu Isis:

— Sua predileção por esta humana ainda há de custar-lhe a vida.

— Sim, senhora! – Meio que concordou.

—Voltem ao trabalho. – Ordenou.

Na manhã seguinte, Aurien seguia seu ritual de trabalho normalmente, até ser interrompida por Hannah.

— A selvagem que desafiou a fera. O que tens de especial para que ela tenha se curvado?

— Nada, minha senhora! Eu a salvei; ela me poupou.

—Tens razão. És apenas uma humana desprezível! –Desdenhou e a empurrou, fazendo-a cair.

— Pare com isso. – Intercedeu Isis, chegando apressada.

— Como ousa defendê-la? – Indignou-se.

— Continue a perturbá-la e avisarei a sua majestade. –Ameaçou -— Se ele não a puniu, por que o faz em seu lugar? – Questionou.

Hannah recuou sua postura agressiva.

— Deve ser porque não vale à pena. –Desdenhou.

— Que seja! Não a aborreça mais.

— Certo! Fique com seu animal de estimação. – Disse e saiu.

— Por que permite que a tratem assim? – A serva a indagou, ajudando-a se pôr de pé.

— Creio que não entenderias!

***

Quando o que aconteceu na arena chegou aos ouvidos de Layus, ele compreendeu que não tinha muito tempo até que a moça fosse descoberta. Ao tomar conhecimento disso, Freya fez uma resolução perigosa. Iria resgatá-la a qualquer custo.

Dias a fio se passaram durante os quais Isis passou a levantar suspeita por seu comportamento em relação à humana. Sua predisposição em defender e agradá-la a deixava incomodada.

— Isis, não continue com isso! – Pediu-lhe certa vez.

— Não me peça para parar. Não me posso deter. Devo-lhe isso.

— Nada me deves.

— Por favor, não me detenhas.

O pedido de Isis era uma suplica velada; embora aquilo causasse constrangimento, Aurien assentia. A serva chegou ao ponto de ir dormir na ala das escravas para ficar de olho em sua protegida. E foi assim que, naquela noite, percebeu a entrada de Freya e sua tentativa de se aproximar da moça.

Temendo que quisesse lhe causar algum mal, acionou os sentinelas. Não teve como a intrusa escapar. Foi presa. Aurien dormia profundamente e nada disso pressentiu.

A princípio, os guardas deduziram ser apenas uma invasora e a recolheram ao calabouço. Só notificaram o soberano pela manhã.

"Curioso." Pensou

— Tragam-me a prisioneira! – Ordenou

Os soldados tiveram pressa em cumprir seu mandado e tão logo a teve diante de seus olhos, desvendou o mistério.
Reconheceu-a.

— Ora, ora. O que temos aqui? Uma das belas filhas de Layus? – Sorriu — A que devo a honra?

Freya se manteve em silêncio de morte.

Ciente de que ela invadira a ala das escravas e de que Isis a denunciara, ele mandou buscá-la. A serva veio com a pressa que sabia que deveria ter sempre, em se tratando dos chamados dele. Prontamente, narrou-lhe tudo que desejava saber.

— E o que imaginas que a invasora procurava?

— Estou certa de que ela atentaria contra a vida de Aurien, majestade.

— Atentar? Hum... Não creio. – Refletiu. —Não me diga que pôs sua vida em perigo para resgatar uma selvagem?

Ele não esperava resposta. Sabia que ela não daria. Não tão fácil.

Por outro lado, Isis percebeu o equívoco que cometera. Algo difícil de ser remediado.

"O que foi que eu fiz"? Afligiu-se.

O imperador, já muito aborrecido com a postura desafiadora de Freya, ordenou:

— Leve-a daqui! Dê-lhe o tratamento dispensado aos prisioneiros. Vejamos se seu silêncio se mantém.

Não teve jeito. Freya amargou alguns dias na masmorra entre torturas e agonias.

Sorrateiramente, Isis foi vê-la; queria uma resposta.

— Aquele monstro mudou de tática? – Desdenhou a prisioneira.

— Temo que não! Não vim a mando dele. –Garantiu. — Eu preciso saber: tu vieste para matar ou resgatá-la?

— E que diferença faz?

— Faz toda a diferença. Eu mesma a libertaria se pudesse. – Confessou. — Gostaria de fazer por ela mais do que posso.

— Por quê?!

— É o meu dever! Não é o seu, também?!

Ao ouvi-la, Freya compreendeu tudo. Isis a entregara imaginando está salvando a vida de Aurien.
Enganara-se.

Agora a serva se sentia culpada por ter frustrado, talvez, a única chance da humana de escapar dali. Saiu da masmorra arrasada. Desnorteada, vagou pelos corredores do palácio por certo tempo, foi quando viu a prisioneira ser levada para a presença do imperador. Sabia que ela não sairia de lá com vida e correu para avisar Aurien.

Ao receber a notícia desconcertante, ela largou tudo que estava fazendo e correu para a sala do trono sem que ninguém pudesse detê-la.

A serva a seguiu a passos largos.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora