BRINCANDO COM O INIMIGO

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 — Definitivamente, fiquei louca!

Evelyn se acusava, enquanto se direcionava, sorrateiramente, ao jardim da ala leste. À medida que avançava, seu coração dava um salto. Não sabia se de medo ou reprovação. Um encontro às escondidas, àquela altura, parecia loucura. Pensara em desistir, mas não era uma mulher de se acovardar.

Lamark fora pontual. Tão logo pôs os pés no jardim, uma luz desceu sobre ela. Desapareceu.

— Nunca cogitei um encontro numa nave alienígena! – Ela brincou ao ser materializada na sala de teletransporte e ser recepcionada pelo príncipe, em pessoa. Tentava aliviar a tensão.

— Eu teria pensado em algo mais apropriado, mas a senhorita o desejou assim! –Replicou sem entender sua manifestação de humor.

— Certo... certo! Não me leve tão a sério...

— Não entendo! Não devo levá-la à sério?! – Confundiu-se.

— Oh, sim! Não... hum! Vamos começar de novo! – Pausa para respirar fundo — Só estou nervosa! – Admitiu — Quer dizer, agora o senhor pode até me matar e ninguém ficará sabendo. Não estou dizendo que é sua intenção. Okay, talvez seja, né? Sei que não gostam muito dos humanos... – Foi falando.

O príncipe a encarava com absoluta concentração. Evelyn a encarou de volta. Ficou sem graça.

— Oh, me desculpe! Estou falando demais.

— Não me temas! Não busco sua vida. Além do mais, se o fizesse, a grã-sacerdotisa buscaria minha cabeça pessoalmente. – Disse-lhe com voz grave.

— Não me parece o estilo dela. Não conheço ninguém mais diplomática.

— Até a diplomacia encontra algum limite! – Suavizou o sentido — Acompanha-me! – Pediu, oferecendo-lhe o braço.

Ela sorriu. Não o fez esperar. Lamark a conduziu por um extenso corredor. Tudo estava deserto. Ouvia-se apenas o som abafado de seus passos no metal reluzente. Sentia-se num filme de ficção científica dos tantos que assistira, exceto pelos aliens verdes e monstros espaciais.

Um pouco mais adiante, na parede antes intacta, surgiu uma porta. A atravessaram. A primeira vista, não havia nada de especial ali, a não ser um assento amplo e acolchoado com algumas almofadas e uma mesa circular a frente, posta com bebidas e aperitivos.

Um sofá e uma mesa no centro de uma sala, por resto vazia, não foi bem o que ela esperava. O simples era melhor do que o extravagante. Pensou.

— Estás preparada?! – Ele a questionou.

— Sim! – Respondeu, embora em sua cabeça se perguntasse para que deveria se preparar.

O príncipe acessou um teclado digital na parede. Ouviu-se um ruído como se de engrenagens se movendo. Subitamente, o chão e o teto desapareceram.

— Deus do céu! – Ela gritou, agarrando-se a ele, de olhos fechados, como se ele fosse sua tábua de salvação.

— Abra os olhos! Não há o que temer! – Garantiu.

Ela os abriu, bem devagar. A sala inteira ficara transparente. Os únicos móveis pareciam flutuar no vazio.

— Jesus Cristo! Estamos em órbita. Essas coisas a gente avisa pra não pregar sustos! – Pronunciou atropeladamente.

— Perdão! – Pediu com um sorriso — Ainda há um chão sob nossos pés! – Disse, incentivando-a a caminhar até o assento.

Segurou-a pela cintura e a conduziu. Evelyn tinha a sensação de que a qualquer minuto despencaria para uma queda vertiginosa. Foi um alívio imenso sentar-se. Sentir o chão e não vê-lo era o mesmo que não ter nada firme em que pisar. Os sentidos, realmente, pregavam peças.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora