A oferenda do príncipe

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Naquela noite, Lamark, um dos príncipes do reino, interceptou uma importante carga destinada ao líder rebelde. Devido ao aparato de proteção, ele julgou ser algo de valor inestimável e ao deparar-se com uma jovem distintamente vestida, imaginou ser uma das filhas de Layus. A ânsia de agradar o imperador e ser recompensado o fez imprudente. Levou-a ao palácio real e solicitou uma audiência.

—Deve ser muito importante o que tens a dizer para que solicitasses uma audiência urgente. – Começou Aragon, sem aparente paciência.

—Sim, majestade. Eis que trago comigo uma preciosa carga que interceptei dos rebeldes. – Disse-lhe.

— E o que seria? – mostrou-se curioso.

— A filha de Layus! – revelou cheio de si. — E a ofereço a vossa majestade como prova de minha lealdade. – Completou e fez um gesto para que um general a trouxesse e pusesse de joelhos ante o soberano, que se levantou do trono abruptamente e foi até ela com fúria assassina. Ao descobrir-lhe o rosto percebeu o equívoco.

— Por que testas assim a minha benevolência? Está tentando me enganar? – Enfureceu-se.

— Como assim, meu senhor? – Indagou temeroso.

— Como se atreve a pôr diante de mim uma selvagem afirmando ser a filha de meu inimigo? – Exasperou-se.

— Não compreendo majestade! Homens de Layus morreram para protegê-la.

— Será que não percebes? Foste enganado. Provavelmente, uma das filhas dele estivesse disfarçada de soldado, e conhecendo o gosto do líder rebelde pelos selvagens, esta deve ser uma dama de companhia de suas crias. – Declarou quase perdendo a compostura. — Tire-a da minha presença. – Ordenou a um sentinela, que praticamente saiu a arrastando para a ala dos escravos.

— Perdão, meu senhor... – Implorava Lamark sem saber o que dizer.

— Começo a ter dúvidas se o título de príncipe lhe cai bem. – Meio que o ameaçou.

— É o bastante, meu irmão! Dê-lhe uma segunda chance, ele tem nos sido muito leal! – Intercedeu, Pandora.

—Que seja! – Concordou voltando ao trono— Agora saia da minha frente antes que eu me arrependa! – ordenou.

— Agradeço, majestades!

***

A mais nova prisioneira se refugiou num canto do recinto procurando não ser incomodada. Contemplava o lugar, não com olhos de cativa, mas com certo deslumbre e uma serenidade que não se via nas outras escravas.

Por outro lado, a notícia de sua captura caiu como uma bomba no quartel general dos rebeldes.

— O que houve lá? Por que desviaram da rota? – Questionou Layus aos remanescentes de seus soldados.

— A ponte estava destruída e tivemos que contornar o precipício e buscar outra passagem. – Explicou um de seus generais.

—E agora meu pai, o que faremos? – interrompeu Kira, preocupada.

— Temos que tirá-la de lá antes que seja tarde. Há de termos algo com que Lamark seja forçado a barganhar. – Declarou.

Arrependia-se amargamente de ter aceitado fazer aquela viagem de carruagem e não em uma de suas naves. Como pudera se deixar convencer de uma coisa absurda daquelas? Ponderava.

***

O príncipe foi pego de surpresa ao ser noticiado de que um dos emissários de Layus desejava lhe falar e mais surpreso ainda em ouvir a proposta dele. O líder dos rebeldes oferecia um de seus prisioneiros de guerra em troca da moça.

Ele despachou o emissário prometendo pensar na proposta, mas só queria ganhar tempo para avisar ao imperador, que o recebeu impaciente.

— Outra vez aqui?

— Imagine o senhor que hoje nas primeiras horas do dia recebi uma proposta desconcertante, – Disse e fez uma pausa observando a reação de seu soberano. Queria ter a certeza de que seria seguro prosseguir. — Layus oferece um de meus generais que está em seu poder, em troca da moça. – Revelou.

—Tragam-na aqui! – ordenou o soberano a um soldado. — É inadmissível que a selvagem valha um dos nossos. – Dizia soberbamente.

A jovem, agora com vestes mais modestas, adentrou com a mesma postura nobre de antes. Algo que certamente irritava o imperador. Ela percorreu o espaço até o trono como a mais fina dama e chegando perto dele, inclinou-se na mais perfeita reverência.

— Mas que criatura intrigante! – pronunciou-se Pandora. — Não vejo medo em seus olhos. – Comentou com o irmão.

— Acredite, tu verás medo! – Suavizou a ameaça e, dirigindo-se a moça, indagou. — Como se chama selvagem?

— Aurien, meu senhor. –Respondeu suavemente.

— Agora eu vos pergunto, Aurien, quem és para que Layus barganhe um preço tão alto por sua libertação?

— Nada mais sou do que aquilo que o meu senhor determinou que eu fosse: uma escrava. – Declarou cordialmente.

— E será uma escrava morta se não me disser o que desejo saber. – ameaçou.

— Não compreendo os motivos que levaram o senhor Layus a ofertar alguém importante em troca de uma vida tão insignificante como a minha, sendo que meu papel é servir. Nada mais sou que uma serva, meu senhor. – Explicou calmamente.

—Levem-na daqui. – Bradou austero. — Faça o rebelde saber que ela está em meu poder! – Ordenou a Lamark.

Pandora ficou curiosa com sua postura, pois imaginava que o irmão a mataria, e quando todos se retiraram, indagou-o:

— O que pretende Aragon?

— Entender nosso inimigo. – Disse tranquilamente.

— E o que faremos com ela enquanto isso?

— Que ela nos sirva como os outros selvagens.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora