PECADO E PUNIÇÃO

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Aragon caminhava pelo templo. Estava fazendo isso para dar tempo de sua rainha descansar, antes de ter com ela mais um confronto. Iria exigir que retornasse ao palácio e não sairia dali com uma reposta negativa.

Seus passos firmes soavam como trovão naquele ambiente de silêncio. À sua passagem, todos se afastavam. Já estivera em outras alas, mas desta vez foi sair na biblioteca particular da grã-sacerdotisa.

Alicia congelou, instantaneamente, ao vê-lo adentrar. A reação dele não foi muito diferente da sua. Deparar-se com uma híbrida no templo pareceu-lhe um sacrilégio. Teve ímpetos de matá-la como mandava a lei, mas percebeu a proteção dos deuses sobre a moça e se deteve.

Saiu sem dizer-lhe uma única palavra, para sorte e alívio da serva, que teria morrido por falta de ar, pois sua respiração se detivera assim que ele entrara. Necessitou se sentar para recuperar ânimo. Agora sim, estava com problemas. Pensou.

***

Se tivesse tido forças, Aurien teria saltado para fora da cama, quando o imperador irrompeu em seu quarto furiosamente:

— Estás protegendo uma híbrida?! – Bradou

As centuriãs entraram alarmadas, prontas para defendê-la. Ele as olhou por cima do ombro, como se as advertisse.

Ela fez um gesto com a cabeça, despedindo-as. A porta foi cerrada, deixando-os a sós novamente.

— Isto não é de sua incumbência! –Foi cortante — Os assuntos do templo não dependem de sua vontade. Não podes interferir. Estou sendo o suficientemente clara?! – Questionou-o, muito séria.

Ele cerrou os punhos com fúria assassina.

— Não teste minha paciência! – Advertiu entre dentes.

— Então, não espere que eu aceite pacificamente suas intromissões em assuntos que só dizem respeito a mim e aos deuses.

Ele foi obrigado a assentir, enquanto um turbilhão de ira se apoderava de seu ser. Uma ira que precisava descarregar a qualquer custo. Agora, mais que nunca, tinha vontade de submetê-la aos seus caprichos.

— Pois tratemos de assuntos que são de minha incumbência. — ele diz friamente.

— Sim! O que desejas? — Questiona arqueando a sobrancelha.

— Há um rito, segundo as tradições do meu povo, que deve ser cumprido. Creio que seja algo comum a tradição humana também...

— Hum... Seja mais específico! — pediu com certa hesitação percebendo a aura sombria do homem à sua frente.

— A consumação da nossa união... — disse com sua voz grave —Basta que consintas!

Aurien sobressaltou-se, não esperava que ele lhe fizesse tal cobrança. Imaginou que ele queria apenas o poder que a união de ambos lhe concederia. Definitivamente não  estava preparada para conceder a ele mais do que já tinha concedido. Ainda assim,  não parecia algo do qual pudesse se desviar. Aragon mantinha uma postura irredutível.
— Pois que seja conforme sua vontade! — Consentiu, com profundo desgosto.

Ele sorriu enigmático, enquanto que deslizava o manto de seu corpo.

Ao que ela franziu o cenho, tentando digerir mais esse revés do destino. Desviou o olhar quando ele desnudou a parte de cima, não tinha a menor intenção de encará-lo nesse momento. Um arrepio perpassou sua espinha dorsal. Era como se uma densa escuridão a sobrepujasse de repente, cegando-a. Não entendia a razão disso, afinal a consumação não deveria ser nada demais, apenas sua obrigação de conjuge, a qual não desejava ser cobrada, ao menos não agora.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora