O atentado

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Pandora fizera de tudo para dissuadir o irmão a acabar com a situação de clausura que vinha impondo à grã-sacerdotisa. Temia a população se voltar contra ele, pois a permanência da moça no palácio já começava a despertar suspeita.

Aragon, porém, não se intimidava nem se deixava convencer pelos sábios conselhos da irmã nem de seus conselheiros. Enquanto isso, Layus se planejava para resgatá-la e não mediria esforços para tirá-la das garras do tirano.

Apesar de saber que o inimigo jamais se conformaria com a derrota sofrida, o ego do imperador o ensoberbecia. Mas, mais que isso, parecia entorpecido pela presença perturbadora da moça. Deixara-se seduzir e só agora admitia para si mesmo. Andou pelo quarto com certa inquietação; sentiu como se desse um estalo em sua mente e subitamente despertasse do torpor.

Saiu de seus aposentos apressado. À medida que avançava pelos corredores, soldados e servos abriam caminho. Suas passadas pareciam trovoadas sobre o mármore. E o pensamento que povoava a cabeça de algumas dessas almas viventes, que se afastavam de seu caminho como se quisessem salvar a própria vida, era que não queriam estar na pele daquele que o aborrecera.

Estando diante da porta do quarto dela, não se ateve a protocolos, simplesmente invadiu o espaço; não encontrá-la o deixou intrigado.

"O jardim". –Pensou.

Seguiu para lá com mais urgência, menos cautela e muito mais fúria. Avistá-la com fera piorou tudo.

— O que esse animal faz aqui?

Aurien quase deu um salto; foi um tremendo susto, até porque não esperava vê-lo ali.

— Que mal ele fez? – Inquiriu-o recuperando o ânimo e voltando-se para o bicho, ordenou — Vá!

O animal não hesitou em obedecê-la.

— Não a quero andando em meus domínios. – Ele disse.

— Ainda é pela razão dela ter se curvado a mim?!

— Não suporto traidores...

— Imagino que não... – Meio que concordou. — Mas o que buscas? – Mudou de assunto.

— Resposta! –Foi incisivo — Eu fiquei cego, mas agora vejo claramente. O que fazias na comitiva de Layus?! – Indagou muito sério.

— Estava me questionando de quando teríamos essa conversa. – Começou ela, direcionando-se ao cais. Ele a acompanhou. Ao final da passarela ela se sentou, pondo as pernas dentro d'água. — Sente-se! –Pediu.

Um tanto contrariado, ele tirou o manto e fez como ela fizera.

— Descalce-se, sentirá melhor a água.

— Está testando minha paciência?

Embora perguntasse, a satisfez. Deixou os pés nus e enfiou-os na água, bastante impaciente. Ela percebeu sua irritação, mas ignorou a descoberta.

— Eu estava indo para um casamento. –Revelou.

— Devia ser de alguém importante para que saísses do templo. – Interrompeu-a.

—É o senhor quem o diz. Era o meu casamento. – Disse — Hoje eu estaria unida ao senhor Layus se seu general não houvesse me capturado. – Explicou.

Ele estremeceu ao ouvir a novidade, porém conseguiu se controlar.

— Desde quando os escolhidos dos deuses podem unir-se em matrimônio?

— É uma longa estória...

— Sou todo ouvidos.

Ela narrou-lhe tudo, desde o princípio. Não ocultou nada. Contou que certo dia fora nadar na cachoeira próxima ao templo e que se afogara. Layus a salvou.

A GRÃ- SACERDOTISAOnde histórias criam vida. Descubra agora