09. Sobrevivendo

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Evelyn sentou na beirada da cama, despiu-se e fixou seus olhos no velho baú de mogno escuro onde guardava seus objetos pessoais durante as temporadas de verão com a família. Desde a morte de seu pai, nunca mais teve a oportunidade de desfrutar desses dias especiais.

Anos se passaram e muitas coisas mudaram, deixando Evelyn com uma onda de incerteza. Apesar disso, estava ansiosa para voltar para o conforto de seu apartamento em Manhattan.

Desapontada, jogou-se nos macios lençóis, duvidando que conseguiria dormir. Decidiu esperar até que o cansaço a vencesse antes de deitar-se.

Ela levantou-se e caminhou até a varanda suspensa, abrindo as portas de vidro para receber uma lufada de vento gelado em seu rosto. Momentaneamente, perdeu a compostura; seus olhos se encheram de lágrimas e seus lábios assumiram uma expressão triste. Permaneceu com a cabeça apoiada no batente da porta por alguns minutos.

No entanto, algo chamou sua atenção: cochichos vindos do lado de fora da varanda. Caminhou até uma das barras de proteção e tentou ver quem estava ali a essa hora da noite. Seus olhos pararam em um vulto próximo ao imenso carvalho, e seu sangue congelou. 

Era uma voz que ela reconhecia à distância: Michael Bolton. Ele estava distraído conversando ao celular.

Evelyn sacudiu a cabeça e rapidamente saiu da varanda, mesmo estando curiosa para descobrir com quem Michael estava falando. Respirou fundo e fechou as cortinas.

Quando Michael virou-se na direção da varanda e ajeitou sua camisa, pôde ouvir algumas palavras que ele disse no telefone antes de desaparecer na escuridão. Apertou os lábios e jogou sua camisa dos Celtics antes de se jogar de frente nos macios lençóis, resmungando algumas palavras abafadas pelo travesseiro.

Virou-se e fixou os olhos no teto, perdida em pensamentos por alguns minutos. Estava cansada de ficar naquele lugar sem fazer nada, tentando evitar problemas. Sabia que o casamento de sua irmã era um sonho realizado e que não poderia abandoná-la, mesmo que isso a deixasse inquieta por dentro.

Suspirou e, em pouco tempo, adormeceu. Podia ouvir o som do vento nas árvores próximas à janela enquanto seus músculos relaxavam gradualmente.

Então, viu a silhueta alta se aproximar. Antes que pudesse fugir ou gritar, sentiu uma grande mão pressionando seu peito, diretamente sobre seu coração. Seu coração batia freneticamente, cheio de medo por esse terrível pesadelo que não tinha tido por dias.

Uma risada aguda ecoou pelo ar, parecendo atravessar sua alma. Os olhos castanhos procuravam desesperadamente pelo rosto, mas em vão. Murmurou algumas palavras enquanto suas mãos delicadas se agarravam aos lençóis.

O som de batidas na porta despertou Evelyn do pesadelo. Assustada, abriu os olhos e percebeu que havia batido a lateral do rosto no criado-mudo. Ao abrir a porta, a luz do corredor invadiu o quarto, revelando Charlotte, que a observava com um olhar sereno.

— Está tudo bem, Eve? Estava passando e ouvi seus murmúrios. Como você não respondeu, decidi verificar se estava tudo em ordem — disse Charlotte, preocupada.

Evelyn assentiu e agradeceu. Pegou o copo do criado-mudo, e sua mãe continuou parada, observando-a.

— Pode ir, estou bem. Obrigada! Foi apenas um pesadelo — respondeu Evelyn, ainda um pouco confusa.

Suspirando, repreendeu-se por seus pensamentos. Os ventos fortes produziam barulhos ainda mais intensos. Evelyn se reclinou na cabeceira da cama, permanecendo acordada com medo de adormecer novamente e voltar para aquele pesadelo.

Amor  Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora