enfim conversas e sorrisos instáveis

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Alvo, devido ao súbito de emoções que surgiram ao notar que estava sendo observado por - um agora desperto - Scorpius, quase derrubou o pequeno garoto de seus braços. Por sorte não o fez, mas sinceramente não sabia se estava nos eixos o suficiente para confiar a vida de outra pessoa nas próprias mãos, ainda que fosse um medimago.

Era uma cena única, do tipo que ninguém simplesmente imagina poder acontecer: estava encarando seu melhor amigo desaparecido agora encontrado, enquanto segurava o filho misterioso dele nos braços o encarando depois de salva-lo de um cativeiro que quase tirou sua vida. Se tudo desse - não daria - errado, ao menos Alvo teria uma história ímpar na memória.

Além de tudo, não sabia o que falar. Pensou todos os dias no dia que o veria de novo e agora que estava ali, passos de distância, sua mente dava nós e as pernas pareciam fixadas ao chão.

Scorpius, estranhamente, parecia muito calmo. Permanecia estóico observando, talvez ainda estivesse sob o efeito calmante das opções, o que não seria difícil devido a quantidade ingerida mas últimas horas.

Ainda que não estivesse realmente.

— Ele quer um pouco de carinho, por isso estava chorando. — mesmo arranhada e baixa, a voz calma de Scorpius soou pelo quarto, as pálpebras batendo lentamente, agora sim causa da letargia comum a medicação. — você só precisa acariciar os cabelos dele.

O Potter, ao invés de dizer algo sobre aquilo, talvez fazer uma das milhares de perguntas em sua mente, relaxou. Trazendo ar aos pulmões, melhor acolheu o pequeno Kiran em seus braços que pareciam grandes demais para aquela criança, deixando a mão destra livre para afagar os fios loiro-dourados, a reação fora instantânea: um sorriso de dentes minúsculos e Kiran se aninhando ao seu peito, que tornou-se quente.

— Se era o que queria porque não me contou, Kiran? Acordou a cobrinha, agora tenho que dizer alguma coisa e eu estava me preparando. — Alvo tinha certeza que o loirinho entendia o que ele falava e aquele sorrisinho repleto de dentes de leite estava, na verdade, rindo de si. — que bom que acordou, alguém estava sentindo sua falta.

Alguém, Alvo quis rir das próprias palavras. Tantas pessoas sentiam a falta de Scorpius Hyperion Malfoy que era quase o crime egoísta manter o seu despertar em segredo, mas depois de tantos anos renegando a própria vontade e mantendo-se longe - ao menos a vista alheia - de tudo relacionado ao loiro a fim de curar a própria dor, ele se permitiria ser um pouco egoísta.

Scorpius não respondeu, mas ainda o assistia acariciar as madeixas do bebê, embebido de sono. Aquilo desconcertou um pouco o moreno, que não sabia exatamente como prosseguir, não encontrava palavras ou meios para se expressar, ao menos não de modo socialmente aceitável, já que seus desejos profundos pediam para que pulasse naquela maca e enfim abraçasse o corpo machucado a fim de cura-lo com o seu próprio.

Alvo estava pronto para falar, ele não sabia exatamente o que sairia de sua boca no momento seguinte, mas estava pronto quando foi interrompido.

— Sempre imaginei se ele choraria em outros braços, já que sempre só esteve nos meus. — as palavras deixaram os lábios de Scorpius devagar, pois algum lugar doía em si, como era normal nos últimos tempos. — acho que eu estava errado.

Sem perceber, apesar da intenção, Alvo aproximou-se da cama o suficiente para sentar ali caso quisesse. O simples movimento o fez retardar as próprias palavras, já que foi preso na armadilha perigosa que eram os olhos de Scorpius.

— Bem, você não 'tá errado. Mais cedo, quando segurei vocês dois, Kiran chorou bastante. — tentou um pouco de humor, mas não funcionou.

Pelo contrário, suas palavras de alguma forma subverteram algum sentimento estranho no loiro, que fechou os olhos com força e abriu-os, assustado ao ver a mesma imagem. Desespero ficou nítido em cada mínima observação da linguagem corporal que Alvo pôde fazer, antes que tudo se tornasse mais grave, sentou na ponta da cama segurando Kiran com um dos braços agora e tocando a testa quente de Scorpius com a mão agora livre.

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