B R O K E N

sonhos cruéis e desejados

Louis não achou que o lugar essencial para uma conversa em particular seria, na verdade, uma caminhada sem pausas pelos corredores da escola.

Nívea Zabini estava explicando sua lógica que aparentemente fazia muito sentido.

— Se alguém escutar algo, vai ser só um pouco, sem contexto para ligar a conversa, então só relaxe e diga, isso está me deixando ansiosa. — ela falou, arrumando a barra do suéter que usava abaixo da capa enquanto andavam pelos corredores longos do terceiro piso, vez ou outra cruzando com outros alunos, que sequer os olhavam.

O loiro olhou de relance em direção a prima, procurando nas feições do rosto cor de oliva algum sinal de desconforto ou negação com aquela ideia de ter a conversa em um ambiente tão aberto, mas não encontrou, infelizmente, não tinha auto confiança para reforçar seu desejo de ir a um lugar isolado onde não precisasse falar enquanto anda.

O silêncio de Rose e os olhares oblíquos de insistência que Nívea lhe lançavam fizeram o Delacour enfim despreder-se do resguardo que mantinha suas suspeitas.

Olhou para um lado e outro antes de falar.

— Eu vi algo muito suspeito... tem uma menina da minha casa, cabelos curtos bem escuros e feições asiáticas, parece mais velha, menso assim não lembro de ter visto ela muitas vezes, além de uma. — após a primeira palavra, as outras deixaram facilmente sua boca, mas olhando as meninas um a cada lado de si, não viu nenhuma reação, então continuou. — já vi ela chorando antes, no dia que Scorpius desapareceu, eu disse a você e Alvo que ia procurar ele, então nos separamos e eu fui na enfermaria. Quando cheguei lá, o Scorp não estava, então eu já ia sair, procurar mais... mas essa menina me chamou, perguntando se eu tinha visto a apanhadora da Sonserina. Achei que ela estivesse chorando de preocupação, sei lá, talvez por ver a amiga ter se machucado durante o jogo, agora, eu penso diferente.

Quando parou pra respirar, não pode o fazer confortavelmente, sentiu um tapinha fraco em seu ombro, quando olhou de esguelha, encontrou olhos castanhos bem abertos lhe encarando de volta.

— E o que você pensa agora? ah, Lou, 'tá me deixando apreensiva. — Rose passou a mãos pelos fios cacheados, jogando a maior parte dos fios vermelhos enrolados para trás.

Falar e andar incomodava o loiro, mas com as duas o escoltando daquele jeito, viu que não teria como parar de fazer nenhuma das duas coisas.

— Hoje eu vi ela outra vez, na comunal. De início eu nem tinha relacionado ela a esse acontecimento da enfermaria, apenas fiquei assustando quando vi uma luva de crochê nas mãos dela, eu reconheceria uma daquelas até em outro mundo, a única pessoa que ainda costura daquela forma é a vovó, Rose. — as iris azuis de Louis desviaram dos olhos da prima, passeando novamente de um lado a outro do corredor para procurar alguém observando a conversa. — mas não eram as minhas, ou as suas, a única pessoa com um par de luvas verdes, uma mais escura que outra, é de Alvo! A gente não conversa sobre isso, mas até Hugo sabe que Alvo deu aquelas luvas para Scorpius depois que ele voltou da visita a família no hospital.

Niv estreitou a postura ao ouvir aquilo, também os olhos, que mesmo já oblíquos se tornaram ainda mais estreitos.

— Você... nada, continue, Lou.

Louis sabia o que Nívea estava prestes a perguntar e a menina sabia o que ele estava prestes a responder, talvez por isso deixaram aquela conversa preservada em um olhar de entendimento em uma promessa muda que falariam daquilo depois, provavelmente quando Rose não estivesse tão próxima.

— Então, aquilo não tinha como estar com ela, certo? Scorp não sai com ninguém que não seja a gente. Mas Ariani nem esperou a premiação para desaparecer do campo dizendo que ia a enfermaria, eu acho... — parou um pouco para pensar, mas logo retomou a fala. — foi uma hora de comemoração na comunal da sonserina até Alvo poder sair outra vez para poder procurar Scorpius, muita coisa pode ter acontecido nesse intervalo, inclusive a luva ter chegado nas mãos dessa menina quando deveria estar com o Scorp.