nem todas as coisas e nós

246 30 68
                                    

Alvo, em toda sua existência, nunca desejou tanto poder simplesmente apagar em um sono profundo.

Na cama ao lado, Scorpius dormia, as pernas encolhidas e coberto dos pés ao pescoço, como sempre. O Potter vez ou outra o olhava de esguelha, sentindo um calafrio na barriga sempre que o fazia.

A memória de pouco tempo atrás se repetia sem pausas em sua cabeça.

Quando abriu os olhos outra vez, afastando seus lábios dos de Scorpius, notou as bochechas do loiro muito vermelhas. E seu coração batia tão rapidamente que era difícil acompanhar o ritmo.

— Scorp, eu... — engasgou um pouco entre as próprias palavras, as orelhas queimando.

— Não diga que sente muito.

Alvo não conseguia ver os olhos azuis de Scorpius, não diretamente. O loiro encarava os lençóis da cama e seus dedos finos pressionava levemente ambos os lados das bochechas, em uma falha tentativa de se livrar da ardência.

— Eu não ia dizer isso. — se aproximou mais do amigo, deslizando um pouco o corpo pelos lençóis macios de sua cama e parando quando sentiu seu joelho contra o do loiro. — ia dizer que gostaria de ter perguntado se podia, antes.

Notou como os ombros finos de Scorpius vibraram e os lábios rosados se apertaram. Conhecia muito bem a reação, o loiro estava prendendo uma risada.

Sentiu-se mais confiante quando estendeu a mão destra e deixou um soco fraco no ombro do amigo, sorrindo quando escutou a risada reprimida finalmente escapar, logo antes do Malfoy levantar o rosto, o olhando com os olhos azuis cor de céu nublado.

Novamente, a sensação de que nada poderia simplesmente abalar a cumplicidade que havia na amizade invadiu sorrateiramente o peito do Potter.

Alvo sentiu que gostaria de dizer algo naquele momento, apesar de não conseguir formar nenhuma sentença muito coerente.

E sentiu outro calafrio quando Scorpius não desviou o olhar, passando a olha-lo com as pálpebras estreitas, atentas.

Ele não parecia mais tão assustado, agora.

— Sim.

Alvo o escutou, mas a capacidade de raciocínio em sua mente parecia reduzida agora, imaginando se seria mais fácil pensar se não estivesse olhando tão diretamente nos olhos tempestade de Scorpius Malfoy.

Sim, o que? — Scorpius não admitiria em voz alta, mas Alvo parecia um bobo, o olhando daquela forma.

Eu teria dito sim, se você me perguntasse.

Na quinta vez em que as memórias votaram a se repetir, Alvo quis desmaiar, com medo de já estar imaginando os acontecimentos e que, na verdade, ele nunca havia deixado um selinho casto nos lábios de seu melhor amigo.

Mas a culpa não era minha se aquilo não parecia real, o moreno pensou. Fora Scorpius que tornou tudo utópico demais, reagindo daquela forma calma e dizendo que sim, teria dito sim caso Alvo tivesse perguntado antes de fazer.

E Scorpius retornado a sua áurea habitual de plenitude, apertando o lóbulo da orelha do amigo como gostava de fazer as vezes, quando estavam deitado juntos ou próximos. Era um carinho singelo, mas muito característico do loiro.

"Boa noite, Al." Scorpius tinha dito, sereno. Depois, havia falado algo sobre estar cansado do dia e tinha ido pra própria cama, fazendo carinho em Newt antes de deitar.

B R O K E NOnde histórias criam vida. Descubra agora