dor egoísta

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Alvo nunca imaginou quão intimidador seria um tribunal, até estar em um.

Gostava de pensar que o abraço que seu pai havia o dado minutos atrás ainda lhe trazia calor, mas sabia que em breve o frio das memórias o iriam envolver outra vez, pois o fariam reviver tudo, narrar os acontecimentos que ainda faziam o seu coração diminuir no peito.

O último mês estava repleto de caos e suas noites lhe serviam apenas para relembrar - com pesadelos - de que, mesmo quando as coisas vão bem, a destruição mora bem ao lado.

— O Sr. Potter gostaria de compartilhar conosco suas memórias do dia em questão? — era estranho ser chamado de senhor, pois eram assim que as pessoas se referiam ao pai dele, mas era ainda pior estar cercado de tantas pessoas determinadas a repassar incontáveis vezes o mesmo depoimento.

Bruxos adultos de capas escuras e pouca paciência.

— Eu disse antes: era a final da taça das casas, a sonserina ganhou por muito pouco e pela felicidade de ter vencido pela primeira vez em muitos anos a nossa casa organizou uma comemoração no salão comunal. — repetiu aquela mesma história, como fizera muitas vezes desde o acontecido. — Scorpius Malfoy era... é o meu melhor amigo e tinha amizade com várias pessoas do time, mas naquele dia ele estava muito distante, desde antes do jogo.

“Lembro de termos conversado pouco antes de eu ir para o café da manhã e ele não me acompanhou, disse que estava indisposto. — Alvo olhou para os próprios pés, suspirando antes de continuar e com os olhos ardendo. — não era raro Scorpius acordar se sentindo mal, então apenas disse que o esperaria antes do jogo, mas... ele também não apareceu. Eu e Nívea Zabini, uma amiga próxima e batedora na partida, o procuramos assim que o jogo acabou, precisávamos encontrá-lo.”

Porque sem ele a vitória parecia menos importante, guardou aquela frase sob sete chaves em seu coração.

Sua pausa fez alguns bruxos mexerem inquietos nas arquibancadas circulares que cercavam a cadeira alta de réu intimidadora que estava sentado. Kingsley Shackebolt, o ministro da magia, voltou a lhe fazer perguntas.

— Tiveram algum sucesso ao fazer isso?

Alvo ainda podia sentir a mesma agonia que havia experimentado quando não encontrava o seu melhor amigo em lugar algum na escola, de como - mesmo perguntando a cada aluno que viam pelos corredores - ninguém sabia sobre o paradeiro do loiro.

— Não, senhor. Fomos em cada lugar possível e perguntamos a todas as pessoas que passavam por nós diziam que não haviam o visto. — apertou os dedos contra a madeira onde apoiava o braço. — nossos colegas de time começaram a nos pressionar para voltar ao salão e comemorar, tivemos que ir. Eu esperava encontrar Scorp lá, ele não poderia ter desaparecido de dentro da escola, não é?

“Fui ao dormitório e troquei minhas roupas, mas ele também não estava lá, apesar de New- o gato dele estar. Tentei ficar na comemoração um pouco, mas eu estava realmente preocupado, então saí mais uma vez, dessa vez sozinho, para procurá-lo... e eu o vi: estava conversando com um outro colega de time, Aiden Lightwood.”

Estaria mentindo se dissesse que não juntou todas as suas forças para narrar aquilo, pois não era uma mentira: ele de fato havia visto Scorpius pela primeira vez naquele dia, mas o menino não estava somente conversando com o monitor.

Os dedos finos e delicados caminhavam para cercar os fios acaju de Aiden, que arfou surpreso com a aproximação repentina. Jamais estivera com o rosto tão próximo ao de um homem como estava agora próximo ao de Scorpius Malfoy.

Não conseguia, entretanto, entender o desespero que correu como sangue em suas veias quando as pupilas do garoto simpático que por tanto tempo observou cobria por completo o tom claro de azul prateado que costumava haver ali.

B R O K E NOnde histórias criam vida. Descubra agora