agitados duelos e olhares singelos

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Ser acordado da quietude de um sono tranquilo não é a melhor coisa que lhe pode acontecer.

Não conseguir acordar apesar de estar consciente, é assustador.

Scorpius podia sentir o fôlego apertar no pulmão, as sombras o circularem em um abraço indesejado, sussurros que bailam próximos ao ouvido, mas nunca perto o suficiente para que pudesse entende-los.

Incapaz de controlar os próprios sentidos.

Dormir havia se tornado essa constante usurpação de seu conforto e seus sonhos o traiam, sugavam sua energia como nada jamais pôde fazer.

Quando acordou, abrupto como quando se desperta de um pesadelo, não viu os arredores com clareza, talvez pelo escuro, pensou.

Sentiu o pelo do gato contra o tornozelo, o animal descansava no canto da cama, como de costume. Aos poucos, seu coração encontrava o ritmo que normalmente pulsava e tão lentamente como isso acontecia, o loiro passou a ver o quarto mais nitidamente, recuperando para si os próprios sentidos.

Diferente das outras noites em que acordou, a sensação de que algo o acompanhava não o deixou, dessa vez.

Pensou sobre a conversa que escutara entre seu pai e Hermione Granger, o que não favoreceu de forma alguma ou acalmou seus pensamentos.

Quem era Cassandra Voir e como ela poderia ter me lançado uma maldição, havia se tornado uma questão diária, apesar de nunca respondida.

Sempre que havia tempo - entre as aulas e nos finais de semana quando Alvo e Niv frequentavam os treinos - o loiro ia a biblioteca e passava horas lendo sobre todas as formas que se podia amaldiçoar alguém.

Se ele não entendesse como poderia ter acontecido com ele, ao menos estaria apto para devolver o favor, algum dia.

Apesar de sádico, esse pensamento o confortava.

Nenhum de seus amigos sabia, seu pai não fazia ideia de que ele tinha conhecimento da conversa e isso fez o loiro sentir-se traído outra vez, quando ele me contaria?

Sentou na cama, apoiado pelos cotovelos. Hoje era quarta feira e mais uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas - DCAT, para os íntimos - ocuparia as primeiras horas do dia e o loirinho tentou expulsar qualquer outro pensamento que não abordasse a boa notícia.

Era uma de suas aulas preferidas.

Depois de tomar um longo banho - quente dessa vez - ele vestiu a capa do uniforme sobre uma calça de tecido cinza simples e uma blusa social branca, dispensando os sapatos por enquanto.

Deslocou-se até a cama do melhor amigo, onde esse ainda dormia profundamente. Scorpius - apesar do costume - nunca pôde deixar de reparar em como Alvo podia ser espaçoso na cama e como tudo sobre ele, bagunçado.

Tocou o ombro do amigo, sorrindo ao ver os lábios entreabertos ressonando.

— Al. — balançou-o, aparentemente sem resultados. — Potter, você vai se atrasar.

Já preparado para puxar o moreno pelas orelhas ou desperta-lo com alguma azaração, foi surpreendido quando Alvo o agarrou pelo pulso, o puxando de súbito e fazendo com que perdesse o equilíbrio.

Caiu para frente, o tronco sobre o colchão e a cabeça no abdômen - coberto pelo pijama - do Potter, que passou a rir descontrolado.

— Idiota. — a voz saiu abafada, já que sua boca estava contra a barriga do amigo, isso também causou um arrepio no outro, imperceptível para o Malfoy.

— Bom dia, cobrinha. — sorriu divertido, assistindo o loiro levantar fingindo estar emburrado enquanto arrumava os cabelos loiros quase brancos. — nunca vou entender como você consegue sempre acordar mais cedo que eu.

B R O K E NOnde histórias criam vida. Descubra agora