Capítulo 1.1 - Um único sobrevivente em um mundo vazio

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Atualmente, alguma data de 1987

Querido, acorde...

Uma bela moça loira dos olhos azuis apareceu em minha frente estendendo a mão para mim. Levantei me da cama onde a pouco estava deitado e a acompanhei, segurando em sua mão. A loira usava um vestido longo totalmente branco e me puxava para algum cômodo da casa, sua beleza era impossível de descrever. Eu apenas segui a garota andando por aquele imenso corredor com o piso de madeira, tendo o som de cada passo silenciado pelo uso das minhas meias nos pés.

No final do corredor uma luz intensa me cegou, deixando impossível ver qualquer coisa. Fechei meus olhos e apenas deixei a loira me levar, ela tinha meu cheiro favorito e, de certa forma, me trazia paz, uma paz que me faltava. Meu desespero aconteceu quando não senti mais a mão dela. A loira havia soltado minha mão e agora estava de frente para mim. Eu não conseguia ver muita coisa com aquela luz queimando meus olhos, a última visão que eu consegui ter foi de ver aquela garota sorrindo.... eu já havia visto esse sorriso antes.

Abri os olhos com um breve grito de desespero e com a respiração ofegante. Todos os corvos que estavam ao redor do meu corpo começaram a voar decorando aquele céu negro que assombrava quem tentasse olhar para cima. levantei me com muita dificuldade e, em seguida, tentei dar alguns passos, mas logo cai no chão.

- Merda, aonde eu tô? - Coloquei minhas mãos na cabeça, que latejava. Olhei ao redor e minha visão, ainda turva, dificultava na tentativa de me localizar.

Vários corvos voaram ao meu redor, alguns pousaram em galhos de árvores, todos com o mesmo objetivo: esperar que eu morra. A região ao meu redor estava meio desertica, com apenas algumas árvores sem folhagem decorando aquela paisagem vazia, o que antes aparentava ser um lugar cheio de vida, com uma floresta e animais vivendo aqui, agora era apenas um lugar morto. O céu estava todo coberto com uma nuvem negra, era impossível ver até mesmo a posição do sol, mas o que havia acontecido para que tudo estivesse como em um apocalipse?

Levantei do chão após conseguir acostumar minha visão. Precisava descobrir toda a verdade, mas antes eu tinha que conseguir comida e água. Caminhei ao redor daquele vazio todo procurando água e não achei nem um riacho, eu estava andando no meio do nada. De repente, ao longe, vi uma cidade com prédios e várias outras construções.

- Deve ter alguém vivo... eu preciso chegar lá o mais rápido possível... - Disse já cansado e com bastante sede. A longa caminhada que tive buscando água tirou bastante energia. Eu tinha que arranjar comida e água de qualquer forma agora.

A pequena visão da entrada da cidade crescia a medida que eu me aproximava. Em passos curtos e mancando, chegar naquela cidade se tornou um desafio, meu corpo todo ainda pedia descanso, mas eu não sabia o que aquela região me aguardava a noite. Depois de alguns minutos de caminhada, enfim cheguei a cidade. A visão era ainda mais assustadora que aquela que eu vi quando acordei: carros capotados, casas destruídas, corpos de pessoas mortas e o pior de tudo... o silêncio. Sim o silêncio era perturbador, aquela imensa cidade sem barulho de buzinas, músicas ou risadas de pedestres caminhando.

Cai de joelhos no chão totalmente sem esperanças, aquela cidade fantasma me mostrou que eu havia dormido durante todo o apocalipse. Pelo meu rosto escorriam lágrimas enquanto minhas mãos tentavam arrancar a carne da face, eu estava me aproximando da loucura.

De repente, um som estranho chamou minha atenção. Rapidamente me levantei e fui de encontro a origem daquele som: um homem de costas, parado na minha frente cambaleando como se tivesse com muito sono e tentando se manter em pé.

- Com licença... Eu não faço ideia do que aconteceu aqui, poderia me dizer o que aconteceu para toda a cidade se tornar esse caos? - Toquei em seu ombro tentando buscar sua atenção. - ... senhor?

O ser virou o olhar acinzentado para mim e soltou um grito ensurdecedor. Sua pele inchada mostrava estar em um processo avançado de decomposição. Eu caí para trás assustado enquanto aquele morto vivo, sem perder tempo nenhum, avançou com a boca totalmente aberta em minha direção. Sem dúvidas aquilo não era um ser humano normal! Eu me esquivei rolando o corpo para o lado, fazendo o monstro cair no chão. Em uma fração de segundo o ser já estava tentando me morder novamente.

- Caralho! - Disse levantando do chão o mais rápido que pude e começando a correr em qualquer direção que me afastasse daquele morto vivo.

A adrenalina me permitiu correr como se meu corpo não tivesse sofrido dano nenhum sequer, mesmo estando exausto. Sem perder tempo, aquele zumbi já me perseguia, uma hora correndo com duas pernas e na outra usando todos os quatro membros para se mover. Corri até chegar em uma pequena cabana bem na entrada da cidade e rapidamente tranquei a porta.

Ouvi apenas um barulho enorme de alguém se chocando contra a porta com muita força, era pura sorte aquela porta ainda estar de pé, aquele foi o único som que escutei. Depois daquilo, tudo ficou em silêncio, o que aconteceu com o morto vivo? A dúvida de saber se estava seguro me aproximava da porta, eu tinha que verificar se, de fato, eu poderia sair dali. Mas e se ele estiver na frente? Essa duvida me matava, decidi então esperar um pouco. Suspirei e me afastei da porta com pequenos passos para trás sem perceber que me aproximava de uma das janelas da cabana.

Dessa mesma janela o morto vivo pulou em minha direção, quebrando o vidro e caindo por cima de mim. Tentei lutar contra o ser, porém em uma das mordidas investidas contra o meu rosto, ele acabou mordendo o meu braço em uma tentativa de defesa. Em desespero ao ver ele me morder, peguei um dos estilhaços de vidro da janela que formava uma ponta afiada e finquei em seu pescoço diversas vezes até que, enfim, o morto vivo soltou meu braço e caiu no chão sem se mover.

Com todo o ódio que sentia, mesmo vendo-o imóvel, eu finquei várias vezes o pedaço de vidro em seu peito, ignorando o sangue que jorrava da minha mão e do meu braço. Soltei o pedaço de vidro aliviado por ter me livrado daquele demônio. Olhei para meu braço respirando bem intensamente e percebi que havia segurado muito forte o vidro. Sangue escorria sem parar, mas eu já não ligava pois em meu braço esquerdo estava a marca que me condenaria a vagar como aquele que me deixou ela.

- Droga! - Disse olhando a mordida totalmente visível e dando um soco na parede com muita força. Encostei as costas na parede e fui descendo ao chão bem devagar até ficar sentado. - Droga, droga...

Sentado no chão, olhei para o corpo daquele zumbi enquanto uma poça de sangue se formou ao meu redor.

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora