Capítulo 4.1 - Acampamento Rhodes

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   Atualmente, 21 de julho de 1987.

   Chegamos no acampamento Rhodes. Caminhamos por uma longa ponte que passava alguns metros acima da água do mar. Apos nossa chegada proximo ao portão, alguns fuzis foram apontados para nossa cabeça. O'Connor tomou a dianteira da situação, ele parecia calmo, talvez conhecia os procedimentos. Eu, por outro lado, estava com medo de acabar recebendo um tiro no processo. Todas as vezes que uma arma foi apontada na minha direção, foi com um propósito claro de me matar.
   — Tenham calma, sou eu, O'Connor.
   O trio de irmãos ficaram atrás de nós apenas observando sem muita animação em seus rostos.
   — O'Connor, é bom ver você de novo, mas por que está andando com esses três ai atrás? — Um dos guardas apontou para os irmãos, sem tirar a arma da nossa direção.
   — Eles estão comigo.
   — Eles fugiram do acampamento e descumpriram as ordens do líder. — Continuou o guarda.
   — Me levem para conversar com o líder, tenho certeza que ele não vai negar minha presença. — Disse O'Connor.
   — Certamente que não vai negar, O'Connor. Primeiro preciso verificar se não estão contaminados.
   Nesse momento fiquei nervoso, o resto da equipe também ficou preocupada comigo porém sem demonstrar nada para que os guardas não fossem alertados.
   O teste era simples, um dos guardas chegou próximo a O'Connor e acendeu a lanterna em seu olho e em seguida em sua boca. O'Connor não estava infectado.
   O próximo foi Eduardo, também não estava infectado. Seguindo o teste, Evelyne e Carol foram as próximas e novamente não deu nada.
   Minha vez..
   O'Connor e os outros olharam com um pouco de preocupação para mim enquanto que, em minha frente, aquele mesmo guarda acendeu novamente a lanterna e a colocou em meu olho. A minha reação foi óbvia, a luz me incomodava ao ponto de me fazer lutar para mantê-los abertos. Seguindo, ele mandou abrir a boca e eu o fiz. Ele verificou por alguns segundos e em seguida.. me liberou. Eu não estava infectado.
   — Estão liberados. — O guarda disse enquanto os portões se abriam.
   — Parece um teste simples, mas é bem eficaz. Desde os primeiros momentos, a luz machuca os olhos do infectado de maneira que este não consegue suportar a dor ao ser focado por uma lanterna. — Disse Evelyne caminhando ao meu lado em direção ao portão
   Seguindo esse raciocínio, a verificação da boca deve ter algo a ver com a salivação que o infectado apresenta como primeiros sintomas.
   — Para uma segurança melhor, eu vou acompanhar vocês até o líder. — Disse o guarda. — Preciso ficar de olho em vocês por um tempo.
   — A gente entende. — Disse O'Connor.
   O'Connor entrou na frente seguindo o guarda guia e o resto de nós o seguiu sendo vigiado constantemente pelos outros guardas daquele portão. Lá dentro vi a imensidão do lugar. Era uma cidade dentro de uma ilha cheio de pessoas circulando para todos os lados. Ver aquilo depois do que eu passei do lado de fora era inacreditável.
   — Incrível né? — Disse O'Connor vendo minha surpresa ao ver o lugar.
   — Sim, na verdade isso só me faz ter uma duvida. Se aqui é seguro, por que você quis sair?
   — Vai conhecer o motivo em breve.
   Os olhares dos moradores daquele lugar não era muito amigável, eles olhavam desconfiados para nós.
   A primeira parte das casas depois dos portões eram simples, algumas feitas de madeira, porém a grande maioria eram tendas simples com poucos metros de espaço. As roupas de vários moradores eram feitas de panos remendados, alguns somente conseguiam uma vestimenta decente. Não era raro ver pessoas jogadas no chão, algumas bêbadas.. outras doentes. Haviam algumas tendas médicas naquele lugar, mas não era capazes de atender a imensidão de pessoas que sofreram com todo esse apocalipse. Pessoas desmembradas pelas bombas dividiam espaço com as pessoas que foram afetadas com a radiação do lugar.
   Era uma situação triste...
   — Evelyne — Disse uma das enfermeiras saindo da tenda e vindo ao encontro da loira.
   — Oi.. — Evelyne respondeu sem jeito.
   — Você saiu quando mais precisavamos de você! Fiquei preocupada quando descobri que iria sair do acampamento. Vários feridos chegaram essa semana, você com certeza faz falta por aqui.
   Evelyne era uma enfermeira?
   — Sério..? — Evelyne olhou para o resto do grupo — ... Eu tenho que ajudar eles.
   — A gente tem que ficar juntos Evelyne.. — Disse Eduardo em voz baixa
   — Ele tem razão, melhor eu falar com uma amiga onde vocês podem passar um tempo antes da nossa viagem para outro acampamento.
   Evelyne concordou e se despediu da colega explicando parte da situação, sem mencionar a perseguição.
   Assim, seguimos caminhando até chegar em um outro lugar rodeado de muros, o guarda que estava de guia ordenou que abrisse o portão. Entrando alí, vimos uma situação mais diferente: as construções já eram mais arquitetadas, as ruas mais limpas e sem aquele monte de gente circulando e aquelas pessoas caídas doentes no chão. Alí, a realidade era diferente. As pessoas eram mais valorizadas que da primeira parte daquela cidade de sobreviventes, seus hospitais eram bem mais planejados assim como todo o resto das infraestruturas.
   Novamente, aqueles olhares julgando, dessa vez senti uma certa diferença. Na primeira parte da cidade os olhares eram de medo, talvez por pensarem sermos mais doentes para a grande fila de condenados, ou até mesmo contaminados pelo vírus que traria a extinção para aquela população. Aqui eram de pessoas que nos achavam inferiores. Dava pra sentir o desprezo naqueles olhos, o que me dava bastante raiva.
   — Eu preciso deixar eles com uma amiga minha dessa região. — Disse O'Connor para o guarda que nos guiava. — Eu vou falar com os líderes sozinho.
   — Ela mora aqui perto? — Perguntou o guarda.
   — Sim, bem próximo daqui.
   Seguimos então para a casa da tal amiga de O'Connor. Esta, quando abriu a porta e viu O'Connor, ficou bastante feliz, parecia que se conheciam há tempos.
   — Que prazer em ver você de novo... — Ela abraçou o veterano e em seguida percebeu a presença de mais quatro pessoas. — ... hmm.. precisa de um favor meu, não é?
   — Você me conhece tão bem, Amélia. — Disse O'Connor com uma risada sincera. Aquele realmente não era o mesmo cara ranzinza que eu havia conhecido. — Esses são Christopher, Eduardo, Evelyne e aquela garotinha é a Carol.
   Amélia era uma senhora de idade. Bem humorada e cheia de energia, ela carregava mais positividade que o resto daquela cidade inteira.
   — Você deve estar com fome. — Disse Amélia ao ver a pequena Carol escondida atrás de Eduardo. — Entrem todos, tem bastante comida.
   Todos entramos na casa, menos o guarda, que ficou de aguardo do lado de fora. A casa era bem espaçosa e cheia de materiais, ficamos todos impressionados ao ver aquele lugar por dentro, com exceção de O'Connor, que já havia estado alí antes.
   — Amélia, preciso falar com você. — O'Connor se afastou do resto de nós para conversar mais isoladamente com Amélia.
   — Esses jovens são irmãos, parece que o líder decidiu que queria eles mortos. Eu preciso levar eles a New Hope. Preciso da ajuda dela.
   Essa foi a última fala que eu ouvi de O'Connor antes de ele se isolar junto a Amélia.
   — Eu estou preocupada com você, Eduardo..
   Um flash bateu em minha mente e, por um momento, eu vi a mesma garota loira dos meus sonhos em uma fração de segundo. Porém, em seguida, Evelyne era quem estava alí.
   Percebi então que a tal loira dos meus sonhos tinha certa semelhança com Evelyne. Ambas loiras, porém Evelyne tinha olhos castanhos e uma aparência mais jovem, enquanto a mesma que me visitava as vezes tinha olhos azuis e uma aparência mais madura.
   — Eu vou ficar bem.
   Eduardo se mantinha calado, ver sua mãe zumbificada afetou muito sua mente. O que me deixava curioso era o fato daquele zumbi não ter atacado Carol, porém agiu agressivamente com o resto de nós.

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora