Capítulo 2.2

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   — Sabe aonde estão nos levando? — Eu perguntei aos dois caras.
   — Não faço ideia. Como eu disse, eles vão nos vender como escravos provavelmente. Bom.. caras como nós três são colocados para trabalhos pesados. — Thomas se aproximou de nós e sussurrou. — Aquela moça ali... dependendo do lugar para onde ela for, posso garantir que ela não vai passar de um objeto sexual.
   — ... Desgraçados — disse o mais velho que estava conosco.
   — Eu ouvi dizer que as pessoas morrem de uma forma horrível lá nessas áreas de trabalho forçado. Você é obrigado a trabalhar pesado mesmo estando doente, e se você acabar morrendo.. eles apenas te substituem por outra pessoa. Eu sinceramente prefiro morrer agora mesmo do que acabar morrendo naquele lugar.
   Thomas descreveu o inferno que era as tais áreas de trabalho forçado. Escravizar pessoas e fazer elas trabalharem além do seu limite até que morram... O mundo virou um lugar horrível depois de todo esse apocalipse. Eu sempre imaginei que se algo assim acontecesse, a humanidade se juntaria novamente para tentar dar a volta por cima e sobreviver, mas agora vejo o quão fodido são os seres humanos.
   — Eu tenho um plano arriscado. Não posso garantir que vai dar certo. — Disse Thomas ainda sussurrando.
   — E qual é?
   — Fingimos uma briga em que um de nós acaba morrendo, chamamos eles para vir ver a situação e aí atacamos quando eles estiverem checando se ele está morto. Uma pessoa vale um preço alto demais para eles simplesmente ignorarem se está morto ou não.
   — Que ideia idiota! A gente vai morrer se fizer isso. — Disse o mais velho.
   — E que outra ideia nós temos? — Thomas continuou defendendo seu plano. — Se deixarmos pra agir quando chegarmos na base deles ou sei lá aonde vamos ser levados, não serão mais dois caras, vão ser vários. Escapar vai ser impossível. Vai querer arriscar algo e morrer por aqui ou passar o resto da vida de maneira miserável e morrer da forma mais sofrida possível?
   — .... Merda.. Tá bom, vamos fazer essa bosta.
   Eu ainda estava pensativo sobre o plano. Era uma ideia horrível, o que garantiria que eles se importariam? Ou que não daria um tiro no que se fingiu de morto pra não ter dúvida? Mas ele está certo, não temos muitas escolhas.
   — Tá bem.
   — Ei garota — Thomas se aproximou dela sussurrando — Eu preciso que você ajude a gente.
   A garota continuou olhando o nada, estava em choque com toda aquela situação. Sentada abraçando as próprias pernas, ela parecia ignorar tudo ao seu redor com aquele olhar sem expressão nenhuma.
   — Você está me ouvindo?
   Nenhuma resposta.
   — Vamos ter que fazer isso apenas nós mesmo. Eu preciso que vocês tentem chamar a atenção deles assim que eu fingir estar morto. Você — Thomas apontou para mim — finja que tivemos uma discussão e você me enforcou. Cada um de vocês esperem até alguma brecha em que eles abaixarem a guarda, eu vou tentar golpear aquele que vier verificar. Seria uma boa ajuda se a garota ali no canto ajudasse também.
   Ele apontou para a pobre moça. Ninguém quis insistir nela, já era um plano suicida com poucas espectativas de sucesso, melhor deixar a garota em paz.
   E assim começamos a realizar o plano. Thomas deitou no chão e começou a fingir estar morto. O mais velho começou a gritar e a bater no carro.
   — Ei, tem um cara desmaiado aqui.. a-acho que ele está morto!
   O carro não quis parar, porém com a insistência daquele cara, o veículo parou, havia apenas a estrada cercada por um campo aberto e mais a frente algumas construções. Ambos os traficantes desceram do veículo já apontando as armas para a nossa direção.
   — O que aconteceu? — Disse o mais gordo dos traficantes.
   — Esse sujeito estava me enchendo o saco, eu só apertei o pescoço dele até quebrar. — Eu respondi fingindo desprezo.
   — Você não deveria ter feito isso. Ele vale dinheiro, sabia? — Continuou o traficante — Tragam ele para cá.
   O mais velho e eu arrastamos o corpo de Thomas para fora daquela jaula, a todo momento rifles eram apontados para nossa direção. Deixamos ele no chão ao lado do asfalto da estrada próximo daquele traficante mais gordo. Próximo dali havia uma floresta fechada, se tivéssemos uma chance de escapar, seria por ali. Enquanto o outro traficante apontava o rifle para o outro cara, aquele porco não tirava a mira de mim.
   — Corta o pescoço dele. — Ouvi a voz ao meu lado enquanto vi um canivete cair no chão. O gordo havia jogado para mim, sem parar de apontar aquele maldito cano para a minha cabeça. — Me mostra que não é apenas uma atuação de vocês.
   O desgraçado começou a rir, eu peguei o canivete do chão e, em minha cabeça, algumas possíveis ações surgiram, todas elas acabavam com a minha morte.
   Poderia tentar golpear ele com o próprio canivete... morte.
   Poderia jogar o canivete para que Thomas, que estava no chão se fingindo de morto, o pegasse e acertasse ele enquanto ele mirava em mim.. provavelmente ele me atiraria no processo. O que fazer?
   A faixa que cobria a mordida em meu braço deixava a mostra um pouco do ferimento, este que foi notado por um dos traficantes.
   — Que porra é essa? Você foi mordido?
   Ambos os traficantes voltaram os olhares e as armas para mim, na frente deles havia uma ameaça sem salvação que deveria ser exterminada naquele exato momento.
   Eu não havia percebido na hora, porém o outro cara que estava conosco tentou reagir e começou a entrar em combate com um dos traficante. Thomas se levantou para me ajudar em um dois contra um contra o gordo, porém, após um som de disparo, vimos o cara mais velho cair no chão se afogando no próprio sangue. Imediatamente o segundo traficante voltou a mirar em nós. Era dois contra dois, porém os dois estavam armados. Thomas e eu ficamos parados vendo o pobre homem agonizar enquanto espera lentamente uma morte.
   — joga fora o canivete — Disse o traficante, parceiro do gordo.
   Eu o fiz, joguei fora o canivete e levantei as mãos. Thomas fez o mesmo.
   — Droga cara, deveria ter ido pra cima dele sem pensar. — Thomas disse para mim.
   — Vocês não vão pensar em mais nada, vou matar os dois aqui. — ele mirou exatamente na minha cabeça, eu seria o primeiro — De joelhos!
   — James, eles valem dinheiro, não vale a pena matar todos. Eles vão ter o que merecem no campo. — O gordo tentou convencer o segundo traficante. — Nosso grupo está aqui perto, vamos repassar para eles e fic...
   O gordo não conseguiu nem terminar sua fala, ele foi surpreendido com um golpe no pescoço do mesmo canivete que eu havia jogado fora. No meio de toda a adrenalina havíamos esquecido da garota que estava no canto sem reação. Ela golpeou o traficante no pescoço não apenas uma vez, mas uma sequência incontável de vezes em um ataque de fúria. O segundo até pensou em atirar nela, mas a nossa reação foi mais rápida. Thomas e eu seguramos o cara e tiramos a arma dele.
   Havia acabado.. estávamos livres! Ao menos era o que havíamos pensado por poucos segundos.
   — Ei! Ouvimos barulhos de tiro. Tá tudo certo com a carga?
   Mais deles haviam aparecido. Thomas puxou a garota para trás do carro fora da visão deles. Eu me escondi atrás do mesmo carro, estávamos com as armas dos traficantes em mãos. Era apenas questão de segundos para eles descobrirem o que havia acontecido.

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora