Capítulo 5.4

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   O'Connor

   Ryder, que estava apenas assistindo, resolveu então quebrar aquele silêncio.
   — É... — Ryder pigarreou. — Sobre minha recompensa...?
   — Sim, você tem razão.. a recompensa. — Alexander se levantou.
   Ryder me olhou como se dissesse para eu ficar quieto. Levantamos nós dois e Alexander nos levou até o lado de fora da mansão, novamente naquele mesmo galpão. Lá, ele ordenou que um dos guardas trouxesse algo. Vindo de lá, o guarda trouxe um sujeito, não entendi muito bem aquela recompensa.
   — Esse cara aqui é meu mecânico de confiança. — Alexander disse colocando sua mão no ombro do sujeito. — Ele vai colocar seu carro para funcionar.
   — Opa! A gente ta indo diretamente até o meu canto arrumar aquela máquina velha. — Disse Ryder.
   — Tudo bem. — Alexander disse para Ryder e em seguida virou para mim. — Você poderia ficar para a gente conversar um pouco, O'Connor?
   Ryder olhou para mim com uma certa negatividade, ele não queria que eu ficasse alí e eu entendia o motivo. A conversa que eu tive com aquele líder chegando próximo à paranoia poderia me custar a vida, mas eu estava pronto para enfrentar ele se fosse o caso.
   — Tudo bem. — Respondi. — Ryder, eu volto logo.
   Fiz um movimento de dois toques com dois dedos na testa. Aquilo era um sinal antigo nosso que significava "se eu não voltar, fuja com nossos amigos.". Os amigos eram todos aqueles que eu disse que eu disse que levaria até New Hope. Ryder acenou positivamente com a cabeça.
   — Quando voltar, o carro vai estar pronto. — Ele disse virando de costas e saindo junto ao mecânico.
   Ficamos só Alexander e eu em frente a mansão dele. Eu observei Ryder ir embora até novamente ser chamado pelo líder.
   — O'Connor, lembra de como todo esse acampamento foi fundado? De como eu liderei pessoas em meio ao caos? Como eu fui a luz no meio da escuridão para tanta gente?
   Eu me virei e comecei a observar o que Alexander tinha para dizer.
   — Quando o apocalipse aconteceu eu estava totalmente seguro nessa ilha. — Ele caminhou do meu lado até se apoiar no corrimão da escadaria da sua mansão. — Eu poderia ver todo mundo morrer e não mover um passo sequer para ajudar. Não era minha obrigação.
   Alexander se sentou na escadaria de sua mansão.
   — Mas o que adiantava continuar vivo com minha família, porém sozinho no mundo? Mesmo um milionário e dono de uma ilha imensa, o que meu dinheiro significaria em um mundo vazio?
   Ele olhou para mim com tristeza no olhar.
   — Eu faria de tudo para evitar que todo esse desastre tivesse acontecido. Acho que todo mundo, se tivesse a chance, voltaria no tempo e tentaria algo para evitar todo aquele apocalipse. — Alexander suspirou. — O que estaria fazendo nesse momento se não tivesse acontecido nada disso?
   — Provavelmente ainda estaria comandando uma equipe de soldados na guerra. Provavelmente continuaria sendo um marido e pai ausente. — Me sentei ao lado de Alexander. — Infelizmente só dei valor no que eu tinha comigo depois que eu perdi. Quando ouvimos na frente de batalha sobre Petrovy estar cheia de infectados, foi quando me dei conta de que as duas únicas pessoas importantes na minha vida estavam em perigo. Quando voltei, minha mulher estava transformada em um zumbi e havia mordido minha filha. — Abaixei a cabeça. — A mordida foi tão forte que chegou a arrancar o braço dela. Os gritos e choro da minha pequena ainda infernizam minha mente até hoje.
   Um silêncio tomou conta de nós dois. Lembrar daquela cena me deixava mal, mas eu ainda mantinha aquela expressão fria de sempre. O silêncio foi cortado com a chegada do filho de Alexander em frente à mansão.
   — Oi filho! Papai estava aqui conversando com um velho amigo. — Disse Alexander sorrindo para seu filho.
   — O senhor me disse que me ensinaria a atirar essa tarde.
   — E eu sempre cumpro minhas promessas, meu filho. — Alexander disse olhando de canto para mim.
   — Senhor! — Um guarda surgiu correndo. — Está rolando uma discussão na plebe. — Ele parou um pouco para respirar, estava cansando devido a corrida que havia feito para chegar até alí. — Eles estão se revoltando e.. Amélia, sua tia, está envolvida!
   — Minha tia? — Alexander se levantou sério e olhou para mim. — Vê o que essa gente pode fazer? Aqueles traidores que você colocou na casa de Amélia estão fazendo a mente dela.
   — Eu nem mesmo sei o que está acontecendo. Mas posso afirmar que deve ter uma explicação para isso.
   — Tem uma explicação, O'Connor. Revolucionários querendo me tirar do trono. Pessoas que devem morrer e que estão corrompendo a cabeça da minha pobre tia. O'Connor, — Alexander estava furioso. — Se você me trouxer a cabeça de todos os que vieram com você, eu te dou uma vida de luxo até o fim da sua vida.
   — Olha.. eu...
   — Te dou terras férteis. — Continuou Alexander. — Te garanto que nunca mais vai passar necessidades.
   — Eu não posso fazer isso.
   Alexander se calou e ficou me encarando por longos segundos.
   — Tudo.. bem.. eu entendo. — Ele colocou uma das mãos na testa como se tivesse uma dor de cabeça. — Talvez você tenha razão, eu estou mesmo enlouquecendo... me desculpa pela proposta louca que eu te sugeri.
   Alexander entrou em sua mansão sem dizer mais nada e sem ouvir o que eu tinha para dizer. Seja lá o que tenha acontecido, eu precisava ir até a região da plebe. Precisava ver com meus próprios olhos.
   Corri até a casa de Amélia passando por vários quarteirões de casas. Cheguei lá e imediatamente abri a porta procurando por pessoas que estivessem alí.
   — Amélia? Christopher?
   Eduardo surgiu junto com Carol, que trazia consigo sua boneca nas mãos.
   — O que aconteceu? — Perguntou Eduardo.
   — Sabe aonde todos os outros foram? Eles podem estar em perigo...
   — Meu Deus... sei sim. Evelyne e os outros estão na tenda hospitalar próximo à entrada do acampamento.
   — Eu preciso ir lá. — Disse virando as costas e saindo novamente.
   Antes que eu passasse a porta da casa de Amélia, Carol pegou no meu casaco.
   — A gente vai com você. — Disse a pequena.
   — O que? Não! — Respondi.
   — Eu deixei minha irmã ir, eu preciso ter certeza que está tudo bem. Eu vou, dessa vez, não podem me impedir de ir.
   Aqueles dois jovens ficaram me olhando como quem me obrigassem a levar eles comigo. Eu pensei bem, levar eles até o conflito seria arriscado, porém, deixar eles aqui com o que eu ouvi recentemente de Alexander também não me parecia a melhor opção.
   — Tá bom, eu levo vocês. Mas não se afastem de mim nem um segundo sequer. — Disse saindo da casa de Amélia e indo até a moto.
   — Tudo bem. — Eduardo respondeu me seguindo junto com Carol.
  
  
  

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora