Capitulo 3.2

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   — Precisamos evitar ao máximo os zumbis. — Disse O'Connor. — Tiros pode chamar atenção de todos eles de uma vez, e enfrentar uma horda é suicídio.
   Entramos mais afundo na floresta para evitar chamar atenção daqueles mortos-vivos. Mais a frente voltariamos a trilha normal seguindo a estrada, mas por enquanto era perigoso estar ali.
   — Estamos a poucos quilômetros de Petrovy, capital do país e aonde tudo aconteceu. Por isso essa quantidade de zumbis. Precisamos evitar essa cidade, a radiação lá é alta demais.
   — Petrovy.. — Refleti olhando para o chão
   Aquele nome era familiar..
   — Não se lembra de nada mesmo?
   — ... Não
   Caminhamos por mais algumas horas até voltar a trilha normal. Nesse momento os zumbis haviam ficado para trás com aquela sensação estranha que me pesava a consciência.
   Enquanto O'Connor caminhava em minha frente aproveitei pra ver a marca da mordida em meu braço. Já haviam dias que aquela mordida estava no meu membro, a ferida estava aos poucos sumindo porém nenhum sinal de que eu estava me transformando. Me questionei se era certo eu continuar indo para Rhodes, me questionei também se aquele realmente era o método para se transformar em um zumbi. Seria eu uma pessoa especial?
   Paramos para descansar após horas de caminhada, eu sentei no chão cobrindo novamente o ferimento. Se aquele cara souber, ele provavelmente vai meter uma bala na minha cabeça sem pensar duas vezes.
   — O que pretende fazer em Rhodes? — Perguntei durante um dos nossos intervalos para descanso.
   — Tenho um conhecido por lá, ele me deve o pagamento de alguns serviços. Vou ver se consigo um veículo, armas e alguns suprimentos cobrando ele. — O'Connor estava sentado em uma pedra bebendo água. Seu rifle estava jogado no chão, mas o revolver sempre na cintura a mostra dizendo "se fizer algo que não deveria eu acabo com a sua vida".
   — Deve ser uma divida grande...
   — É sim.
   — E o que fazia? — Perguntei
   — Falei que eu era do exército, não falei? — Ele esperou até minha confirmação para continuar sua fala. Eu confirmei e ele seguiu. — Depois que todo o apocalipse aconteceu, o nosso país virou uma terra sem lei. Era cada um por si e as pessoas faziam atrocidades para se manter vivas. Ainda ocorre hoje em dia, você mesmo quase foi vendido como um escravo. Bom.. eu ganhava um dinheiro trabalhando de assassino de aluguel.. algo que me arrependo.
   O'Connor se levantou e pegou seu rifle do chão. Era hora de voltar a caminhar.
   — Tem uma cidade próxima, vamos passar lá e ver se tem algo de proveito para levar para Rhodes e quem sabe ganhar uma recompensa.
   Assassino de aluguel.. será que era certo eu andar com esse cara?
   Seguimos adiante ate chegar na tal cidade. Já era tarde e pela posição do sol tinhamos cerca de 3 ou 4 horas de luz ainda. Estávamos caminhando em meio a outro lugar vazio e sem vida. Um vento forte e quente cortava a pele como em um deserto. As cidades ficaram mais quentes devido aos bombardeamentos, não só as cidades.. provavelmente o clima no planeta ficou alguns graus mais quente com todas essas bombas machucando a nossa terra.
    — Cuidado!
   O'Connor atirou com o revólver em um zumbi que avançou em minha direção. Ele caiu no chão 'sem vida' com um único tiro.
   — Obrigado.. eu não vi ele chegando.
   — Deveria prestar mais atenção ao seu redor...
   O'Connor e eu paramos após ouvir um som bem baixo semelhante a um grito. Parecia ser de uma garotinha. Após localizar a origem do som, vimos que haviam alguns zumbis ao longe amontoados e inquietos.
   — Tem uma pessoa ali, parece ser grito de uma criança. — Eu disse observando aqueles zumbis.
   O'Connor não perdeu tempo e se aproximou imediatamente do local tentando não chamar a atenção dos zumbis. Me aproximei tomando precaução da mesma forma. Os gritos vinham de uma garota de aproximadamente dez anos presa em uma escada que levava ate o topo de uma residência de três andares. No topo dois jovens loiros tentavam acalmar a garota de mesma cor de cabelo e encorajar ela a subir o restante da escadaria. Logo abaixo, algumas dezenas de zumbis grunhiam esperando a queda dela.
   — Mais sobreviventes. — Disse me aproximando de O'Connor que via tudo escondido atrás de um carro com seu rifle na mão.
   A mão da garotinha escorregou e ela acabou caindo de barriga em uma das barras de ferro da escada. No desespero ela abraçou aquilo com força.
   — Ai meu Deus.. — Gritou um dos jovens que estavam ali em cima, uma moça de cabelos longos.
   O outro que estava do lado dela começou a descer as escadas para buscar a garotinha. O'Connor, que estava do meu lado me jogou o revólver da cintura e começou a disparar com o rifle na direção dos zumbis chamando a atenção deles. Era a primeira vez que ele havia confiado uma arma nas minhas mãos.
   Alguns dos zumbis foram caindo, mas ainda haviam várias dezenas deles, dessa vez vindo em nossa direção.
   Na tentativa de escapar daquela horda, O'Connor e eu acabamos tomando rumos diferentes. Eu corri para trás de um dos vários carros abandonados da rua, por cima de mim voou um dos zumbis agressivos em um bote que deveria ser em mim. Ele bateu com força em um outro carro quebrando o pescoço no processo. A sua cabeça ainda grunhia, porém o resto do seu corpo não respondia mais.
   Levantei e continuei correndo dando alguns tiros para trás, acertando alguns tiros, errando outros. Contei 5 balas só nesse momento. Para minha sorte, um dos zumbis agressivos bateu em um dos poucos carros onde o alarme ainda funcionava. Isso atraiu a atenção de uma dezena dos zumbis lerdos, que pararam de me perseguir. Os mais agressivos ainda focavam em mim.
   Na correria acabei entrando em uma lojinha próxima a um posto de gasolina abandonado. Após entrar eu me escondi atrás do balcão tapando a boca pois minha respiração ofegante poderia ser o suficiente para chamar a atenção daquelas coisas.
   Passei alguns minutos ali tentando manter a calma quando comecei a ouvir passos próximos a mim. Um grunhido me alertou que era um deles, tirando qualquer pensamento que eu tivesse que poderia ser algum ser humano.
   Um grito ensurdecedor me deixou desesperado, ele provavelmente havia me encontrado e iria dilacerar meu corpo.. era o que pensei, o som de uma batida forte silenciou aquela coisa. Me levantei apontando o revólver afim de ver se era aliado ou inimigo, por sorte eu conhecia aquele rosto.
   — Ei, abaixa essa arma. Ta tudo bem agora.
   Era O'Connor, ele havia derrubado aquele zumbi com um bastão de madeira.
   A expressão dele mudou imediatamente e em poucos segundos ele pegou a arma da minha mão e a apontou para minha cabeça. Eu estranhei aquela reação, a pessoa que me salvou agora ta apontando uma arma para mim.
   — Seu braço, você foi mordido! — Ele disse verificando quantas balas haviam no revólver. Para meu azar, ainda havia uma última bala sobrando.
   Olhei para meu braço e vi que a faixa que estava cobrindo a mordida havia caído no meio da correria.

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora