Capítulo 1.2

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    Lembrei vagamente sobre um vírus que matava as pessoas. Devo ter visto em um noticiário ou algo assim. Tinha certeza que aquela mordida me condenaria a morte e que eu me tornaria um deles.
    Eu rasguei minha camisa e enrolei em volta do meu braço para parar o sangramento. Tentei me lembrar de algo mais.. como começou, quem eu sou, quem era a garota loira.. várias dúvidas. Mesmo se eu acabasse me transformando em uma daquelas coisas, eu gostaria de saber a minha história. Sem perceber, com o cansaço e a perda de sangue eu acabei dormindo no chão frio daquela cabana, ao lado do morto-vivo. Eu não sabia se abriria os olhos novamente.
   Por sorte, acordei no outro dia com o brilho do sol batendo no meu rosto. Não sabia o quanto tempo durava para que o vírus dominasse totalmente o meu corpo. Será que eu já havia me transformado e não notei? Quantos dias eu passei sem comer ou beber alguma coisa? Eu tava faminto, fraco, tonto... mas um ser humano ainda estava fora do meu cardápio... ainda não havia me tornado um deles.
    Levantei do chão com dificuldade. Verifiquei nos armários da cabana se havia alguma comida. Nada na cozinha, tudo vazio. Encontrei uma escadaria que levava para o andar de cima e comecei a subir com cautela. Lá em cima vi apenas um quarto simples, havia apenas um colchão onde eu poderia descansar melhor e de útil para carregar comigo apenas uma mochila e uma caixa de fósforos.
   Eu desci as escadas novamente após ouvir um barulho estranho. O barulho vinha do porão da casa, uma escadaria que levava para um lugar sem luz alguma. E se tivesse algo para comer lá em baixo? Eu já fui mordido mesmo, não tinha o que temer. Decidi então pegar o restante da minha camisa e enrolar em um pedaço de pau, usei o fósforo para criar uma tocha. A invenção não era ruim, mas a dificuldade que eu tive de acender a tocha era grande, pois a minha mão não parava de tremer. Quando enfim eu consegui, estava pronto para ir. Desci as escadas devagar e sem tentar fazer barulho, o que era impossível com os degraus feitos de uma madeira velha, cada passo que eu dava havia um risco do degrau não aguentar meu peso e se quebrar.
   O barulho que eu havia escutado anteriormente estava próximo, era um som de algo batendo contra a parede e adivinhem, era um zumbi que estava algemado. Ele não reagiu com a minha presença, não foi como o anterior que me atacou como um louco. Esse simplesmente ignorava a minha existência, batia com a cabeça na parede de tempos em tempos e eu pude analisar melhor aquela coisa. Com toda a cautela, eu me aproximei da coisa mantendo uma distância.
   Ele olhou para mim e continuou sem reação, talvez ele sabia que não podia me atacar e nem sequer tentou? Não sei.. será que ainda existe cérebro nesse cadáver? Eu aproximei meu dedo de sua face, aonde ele já conseguia morder, porém ele não o fez, continuava olhando para o meu rosto sem expressar nada. Eu decidi então continuar procurando comida por ali e por sorte havia várias latas de comida... Não só isso, achei diversas outras coisas. Havia uma geladeira, que não funcionava mais, onde achei água e algumas comidas estragadas; havia também armas brancas; lanternas, que por sorte duas delas ainda funcionavam e alguns livros.
   Ele era um sobrevivente e tinha uma história.
   Eu tinha uma companhia não muito agradável até a "zumbificação" ocorrer comigo.

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora