Capítulo 2.1 - O lado obscuro da humanidade

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   Atualmente, alguma data de 1987

   Algumas gotas de chuva caíram durante a minha caminhada, mas não eram normais. Cada gota ardia em meu corpo como pequenas queimaduras levemente dolorosas, eu precisei encontrar algum lugar para me abrigar antes que a chuva caísse de fato.
   Rapidamente entrei em uma loja de brinquedos abandonada. A situação atual da loja não agradaria nem um pouco alguma criança que quisesse um brinquedo. Todos estavam velhos, quebrados e davam mais medo do que lembravam a infância. Mas foi um ursinho de pelúcia que chamou minha atenção.. eu tinha um igual.
   A chuva começou a cair. Eu peguei o ursinho empoeirado do chão e me esforcei para lembrar de algo da infância e, por sorte, eu consegui.

   Março, 1971.

   Aquele dia de aula tinha sido cansativo, eu estava exausto e nem sequer notei que cochilei enquanto meu pai me carregava nas costas. Ele estava orgulhoso, eu havia tirado a maior nota da turma. A escola não era difícil, a causa do cansaço foi as brincadeiras com os colegas no pós prova.
   Eu acordei lentamente e vi meu pai vestido com as roupas do exército. Aparentemente eu havia dormido na escola e nem vi o momento em que meu pai me pegou... ele poderia ter somente me acordado né..
   — Papai! — Eu o abracei pelas costas com força, havia muito tempo desde a última vez que eu o vi. Ele era bastante ocupado com as "coisas do exército".
   — Oi, meu filho! — Ele sorriu e continuou caminhando — Amanda e Mike disseram que você foi muito bem na prova. Papai tá orgulhoso!
   Ele me colocou no carro e sentou-se no banco do motorista. Apertou o cinto e em seguida partiu.
   — Vai ficar quanto tempo em casa pai?
   — O suficiente pra matar a saudade de você e sua mãe.
   Após alguns poucos minutos chegamos em casa. Minha mãe estava na porta aguardando ansiosamente a nossa chegada. Eu acenei para ela da janela do carro e ela acenou de volta. Meu pai guardou o carro na garagem e em seguida fomos ao encontro da mamãe. Eu corri e a abracei, ela retribuiu o abraço e deu um selinho em seu marido.
   — Nosso garoto foi muito bem na prova de hoje.
   — Sério? Aaah — Ela me abraçou — Não estou surpresa, eu conheço o filho inteligente que eu tenho — Apertou minhas bochechas logo em seguida. — Tem um presente te esperando no seu quarto.
   — Presente! — Corri rapidamente para meu quarto, subindo as escadas sem o cuidado necessário.
   — Christopher! Cuidado com a escada, você pode cair.
   Eu continuei subindo na pressa e quando cheguei no quarto havia um urso gigante, maior que eu até. Eu me encantei com aquele bicho de pelúcia e o abracei de imediato.
   — O que achou? — Disse meu pai chegando em meu quarto junto da minha mãe.
   — Ele é incrível pai! Obrigado!
   — E como vai chamar ele?
   — Alex.
   Alex era o nome do meu pai. Ele se emocionou com a escolha do nome. Talvez eu tenha escolhido o mesmo nome para que quando ele estivesse ausente, eu sentisse que ele estava ali perto..

   Atualmente

   — ... Christopher
   Eu larguei o ursinho de pelúcia assim que eu ouvi som de motos ficando cada vez mais alto. Eu imediatamente fui para fora ver quem era. A chuva já havia passado e eu consegui ver um grupo de motoqueiros se aproximando
   — Ei, ei, me ajudem!
   Fui para o meio da rua, bloqueando a passagem deles. Os motoqueiros pararam.
   — Tá perdido garoto? — Disse o que ia mais a frente de moto, provavelmente o líder.
   — Sim, sim... Eu acordei e o apocalipse já havia acontecido. Eu tento me lembrar do que aconteceu mas até agora eu me lembro de pouca coisa. Podem me ajudar? Onde estão todo mundo?
   — Olha, err....
   — Christopher.
   — Christopher.. não é seguro você andar por aí assim, tem muita gente malvada pela rua, sabe?
   Os demais começaram a rir, algo estranho estava acontecendo. Eu senti uma pancada forte na cabeça e apaguei em seguida.
   Acordei com uma dor de cabeça infernal. Eu estava com os braços amarrados nas costas em uma sala fechada com mais três pessoas, todas amarradas.
   — Socorro! Por favor! O que vocês querem comigo? — Um dos presos, uma moça, gritava sem parar
   Os outros dois continuavam calados, todos os três tinham marcas no rosto e corpo, sinal de espancamento. Afinal o que eles queriam?
   — O que tá acontecendo? Quem são esses caras? — perguntei em voz alta.
   — Acabou parceiro. Eles são de um grupo que costumam vender humanos como escravos. — Disse um deles após se virar para mim com o rosto sem muita expressão.
   — Como assim?
   — O que mais tem nesse mundo são bandidos que te tratam como mercadoria.
   Nesse exato momento as portas daquele quarto se abriram e de lá surgiram dois homens armados com rifles. Estes eram outros homens, diferentes dos motoqueiros que eu havia encontrado anteriormente.
   — Anda, levantem! — Disse o mais gordo da dupla. — Eu disse levantem, caralho!
   Ele apontou a arma para nossa direção, assim fizemos o que ele nos ordenou. Levantamos e começamos a caminhar para o lado de fora daquele quarto sob a mira de duas armas.
   — Por favor não façam nada comigo, eu só quero voltar para casa... por favor..  — Disse a garota enquanto chorava. Ela era jovem, aparentava ter a idade na casa dos 20. Teve o azar de cruzar com esses homens, assim como cada um de nós.
   Saímos de lá pela manhã. Aparentemente eu estava desacordado durante uma tarde e uma noite inteira.
   — Entrem. — Disse o parceiro do gordo apontando para uma jaula amarrada a um carro. Seríamos transportados como animais, eu, os dois rapazes e a moça.
   Entramos sem questionar, a moça ainda se debatia, e gritava por misericórdia. Eu ainda pensava no que fazer. A jaula foi trancada e em seguida o carro seguiu o caminho.
   Algumas horas haviam se passado da viagem, era tarde e até então ninguém havia dito uma palavra. A garota continuava chorando baixo no canto da jaula enquanto os outros dois aparentemente só haviam aceitado aquela condição. O mesmo cara que havia conversado comigo anteriormente olhou então para mim.
   — Qual seu nome?
   — Christopher..
   — Sou Thomas, do acampamento Rhodes. Eu saí pra buscar suprimentos e dei o azar de topar com esses caras. — Thomas aparentava ser mais ou menos da minha idade.
   — Acampamento?
   — Sim, lugares onde os sobreviventes do apocalipse se juntaram para se ajudar a sobreviver.
   — Dá pra vocês calarem a boca? — Disse o terceiro sujeito que estava calado até então. Este aparentava ser mais velho, destaque para a falta de cabelo no topo da sua cabeça. — Como vamos sair daqui? Eu tenho família.. a gente tem que sair.
   — Algum plano? — Perguntou Thomas.
   — Eu.. Eu não consigo pensar direito..

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora