Capitulo 3.3

11 2 0
                                    

   — Calma, eu..
   — Quando você foi mordido? — Perguntou O'Connor.
   — Já faz uns cinco dias.. — Meus olhos não desviavam do cano da arma. A qualquer momento eu poderia levar um tiro.
   — Cinco dias? — Comentou uma garota ao se aproximar de mim. Ela era a mesma que estava no topo de uma construção escapando dos zumbis. Era loira dos olhos castanhos. Jovem, aparentava ter de dezenove a vinte e um anos, seu cabelo chegava em sua cintura. — Uma pessoa infectada não demora tanto para se transformar em um zumbi. No mesmo dia ela já começa a apresentar os sintomas. Você foi mesmo mordido?
   A garota pegou em meu braço e viu o ferimento começando a cicatrizar.
   — Tem certeza que foi mordido por um zumbi? Se fosse ja deveria estar morto.
   O'Connor continuou com o revólver apontado na minha direção pensando consigo mesmo se devia abaixar a arma após ouvir as palavras da garota. O outro jovem apareceu no local segurando a mão da garotinha.
   — É melhor cobrir esse ferimento.. — Disse O'Connor abaixando a arma. — É melhor que ninguém descubra por enquanto que você foi mordido.
   A garota logo começou a enfaixar meu braço olhando para o ferimento.
   — Não sentiu nada de diferente esses dias que foi mordido?
   — Tipo o que..?
   — Existe uma série de sintomas que o indivíduo passa antes de se tornar um morto vivo. Na verdade a pior parte é quando você ainda está vivo e consciente.
   Eu estava sentando observando-a de joelhos em minha frente esperando explicações. A garota então amarrou ambas as pontas do pano, cobrindo assim meu ferimento.
   — Eu já vi vários casos assim. Primeiro a pessoa mordida começa a salivar bastante e sentir muita fome. Come cerca de cinco vezes mais o que comeria normalmente, depois de um tempo começa a vomitar tudo o que comeu. Assim, ela continua nesse ciclo de comer e vomitar. Depois de umas horas ou até um dia, uma febre alta começa a dominar a pessoa, dores de cabeça e uma sensibilidade alta a luz do sol também são sintomas.
   Todos ao redor prestavam atenção em cada palavra que a moça dizia, principalmente eu.
   — A pessoa sente tanta necessidade de comer que aquilo começa a mudar a personalidade dela, se tornando mais agressiva com as pessoas e agindo cada vez mais que nem um animal, e, de tanto querer comer, acaba mordendo partes do próprio corpo até que eventualmente.. essa pessoa começa a atacar outras pessoas afim de devorar elas.
   — Até aí ainda existe um ser humano ali. — Continuou o jovem loiro de cabelo curto, que estava calado a todo momento. Ele era o mais velho entre os três, não deixando de ser um jovem.  — Eventualmente eles morrem devido aos sintomas, mas mesmo após a morte.. essas coisas se levantam e continuam tentando devorar pessoas....
   Era pior do que eu esperava.. na minha mente, as pessoas simplesmente morriam devido as mordidas e retornavam como zumbis, não imaginava que passavam por todo esse sofrimento.
   — Mas e as pessoas que são mortas por essas.. coisas?
   — Elas simplesmente retornam com a mesma mentalidade de devorar outros humanos. — Disse O'Connor tentando esconder uma expressão triste.
   — Queria agradecer por ter ajudado a gente. — Disse a jovem. — Meu nome é Evelyne, esse é o Eduardo. A nossa pequena irmã se chama Carol.
   — O que fazem por aqui sozinhos? — Perguntou O'Connor — É perigoso andar por aí, vocês deveriam encontrar um acampamento de sobreviventes. Eu conheço um aqui...
   — Não vamos voltar para Rhodes! — Disse Eduardo.
   As duas garotas apenas ficaram em silêncio enquanto a cena ocorria. A noite chegava com o por do sol assombroso. O céu avermelhado parecia uma visão do inferno junto as nuvens negras que estavam acima de nós.
   — Acho melhor a gente encontrar um bom lugar para passar a noite. "Eles" são mais agressivos nesse horário. — Disse Evelyne.
   Aparentemente, devido a fotofobia, os zumbis são mais cegos durante o dia, atacam mais por instinto enquanto a noite eles tem a visão como aliada... continuar a caminhada pela cidade agora seria suicídio.
   O'Connor se aproximou da garotinha Carol, que não largava a mão de seu irmão mais velho.
   — Ta tudo bem?
   A garotinha acenou com a cabeça positivamente. Eduardo e O'Connor começaram a conversar enquanto eu estava próximo de Evelyne, que se sentou no chão olhando para mim curiosa.
   — Ainda não consigo entender como você não foi infectado... será que.. você pode ser a cura de alguma forma?
   — Eu não tenho certeza.. — Disse passando a mão em cima da mordida enfaixada.
   — Por qual motivo preferiram sair de Rhodes e vir para o meio do inferno? — O'Connor questionou Eduardo.
   Eduardo virou o rosto e olhou pela janela, já estava escuro lá fora. Sua visão pareceu perder o brilho.
   — Rhodes não traz toda essa segurança.. você precisa contribuir para viver lá, e as vezes precisam de pessoas para sair mundo a fora atrás de recursos.
   — É algo normal. A busca de recursos é necessário para manter o acampamento de pé.
   — Eu sei.. mas...
   — Estamos procurando nossos pais. — Disse a pequena Carol, interrompendo a fala de Eduardo. — Eles estão aqui nessa cidade, não é verdade irmão?
   Evelyne estava em minha frente e eu pude sentir a tristeza em seu olhar, mesmo que ela tentasse passar uma sensação de esperança com um falso sorriso.
   — É sim.. — Disse Eduardo.
   — Bem, está na hora de dormir Carol. — Disse Evelyne se levantando e indo em direção a sua pequena irmã. — Amanhã no cedo vamos atrás dos nossos pais, então melhor a gente ir para a cama agora mesmo.
   — Sério?
   — Sim. — Novamente aquele sorriso falso dado por Evelyne.
   Com isso Evelyne entrou em outro cômodo com Carol daquele mesmo lugar, enquanto os três homens estavam reunidos.
   — Já pode dizer o que realmente aconteceu. — Disse O'Connor olhando para Eduardo. — Tem algo a ver com Rhodes?
   — Sim..
   Eduardo olhou novamente pela janela evitando olhar diretamente em nossos rostos, talvez para esconder qualquer expressão triste.
   — Nossos pais eram opositores da liderança de Rhodes devido a forma de tratamento e trabalho forçado além da capacidade do indivíduo. Alguma pessoas acabaram morrendo ali. Tudo que meus pais queriam eram condições melhores de trabalho e lutavam por isso. Porém, assim como todos os outros opositores, meus pais foram mandados para "buscar suprimentos em outras regiões" e nunca mais retornaram.
   — E isso não é normal? Sair para buscar suprimentos — Perguntei
   — O que ele quis dizer é que deram uma desculpa para tirar os pais dele do acampamento e sumir com eles, dizendo para as pessoas do acampamento que foi zumbis ou traficante de pessoas. — Respondeu O'Connor. Ele parecia conhecer bem como as coisas funcionavam em Rhodes.
   — Sim.. saímos o mais rapido possível com medo de sermos os próximos.
   —  A irmã de vocês ainda tem esperanças de achar os seus pais, não acha que eles ainda podem estar vivos? — Perguntei
   — Pouco antes de sair de Rhodes, Ryder disse que encontrou o corpo deles.. eu não quis acreditar, mas decidi ver com meus próprios olhos.. e.. eles estavam ali..
   — Quem é esse Ryder? — Perguntei.
   — Ele é um dos viajantes mercenários. Não existe mais ninguém com um codenome tão idiota. — Disse O'Connor.
   — Ele quem me deu a dica de sair do acampamento. — Continuou Eduardo. — Enfim.. não tivemos coragem de falar a verdade para a Carol.. ela ainda acha que estão vivos.
   — A Carol já dormiu — Disse Evelyne chegando do outro cômodo. — É melhor a gente dormir também.
   — Amanhã conversamos melhor e vamos ver como ajudar vocês. — Disse O'Connor. Era até estranho ver ele ajudando aquelas pessoas, dias atrás esse mesmo cara não ligava se eu iria morrer para as mãos dos traficantes.
   Eduardo concordou e em seguida nos preparamos para dormir.

   ...

   Novamente a mesma garota loira apareceu vestida de branco com os pés descalços vindo em minha direção. Eu estava deitado sem poder me mexer, percebi que era um sonho mas não conseguia acordar.
   A moça se aproximou e passou a mão em meu rosto sem que eu pudesse me mexer. Me olhava com um sorriso amigável e me trazia novamente aquela paz que sentia sempre que sonhava com ela.
   — Acorda.. — Ela disse em um tom suave.
   — Acorda..!
   A voz começou a se distorcer e eu lentamente comecei a acordar. Percebi então que, em minha frente, estava O'Connor tentando me acordar.
   — Vamo Christopher.
   — O que.. aconteceu? — Me levantei ainda sonolento e muito confuso.
   Do outro lado do mesmo cômodo, Evelyne desesperada e chorando me explicou em poucas palavras o que estava acontecendo.
   — .. A Carol sumiu!

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora