Capítulo 5.1: Reação ao medo

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      Atualmente, 22 de julho de 1987

     Christopher

   Acordei naquela manhã bem cedo com uma pequena dor nas costas. Amélia, a dona da casa, tinha apenas duas camas fora a dela. Estas ficaram com Carol e Evelyne. O'Connor dormiu em casa, eu pensei que ele só voltaria no dia seguinte, mas fiquei feliz em ter ele por perto.
   Levantei do sofá aonde estava deitado e, sem conseguir raciocinar direito por conta do sono, segui o cheiro de café que vinha da cozinha. Amélia estava alí cantarolando e preparando o café.
   — Acordou bem cedo, ainda nem amanheceu.
   Me assustei com a voz que surgiu atrás de mim. Com o susto, todo aquele sono foi embora. Era Evelyne, já acordada e ajudando a senhorinha a preparar a mesa para um café da manhã.
   — Como que vocês acordam tão cedo? — Perguntei coçando os olhos.
   — Eu sou acostumada a acordar nesse horário para voltar a atender os feridos. Eu já até passei noites sem dormir. — Disse Evelyne.
   — Você é uma pessoa muito boa Evelyne. — Disse Amélia. — Eu teria orgulho de ter você como filha.
   Era prazeroso ver aquelas duas pessoas conversando. Tanto Amélia quanto Evelyne pareciam não pertencer naquele mundo pós apocalíptico. Tudo que eu tinha visto até então era um mundo que tentava me eliminar a todo custo, sejam os zumbis ou outras pessoas. Mas alí eu via bondade.. Amélia abrigando pessoas desconhecidas em sua casa e Evelyne tratando de pessoas doentes que também nunca viu na vida. Aquela era a primeira vez que eu havia visto uma cena que me trazia paz.
   Parecia estar em um ambiente familiar..
   — Eu queria saber se eu poderia dar apoio aos doentes do meu povo.. eles precisam de mim por lá.
   — O'Connor disse para ficar aqui. Esqueceu que estava sendo perseguida? — Comentei.
   — Eu sei, mas viu o tanto de gente que tinha precisando de atendimento médico? Eu não posso simplesmente ficar aqui.
   — Christopher tem razão. — Comentou Amélia. — Nem mesmo deixariam você atravessar os portões. Alexander deve querer vocês aqui mesmo entre os nobres.
   A senhorinha deu uma pausa e olhou para nós dois.
   — Eu vou junto, assim posso garantir que não vão atacar ela enquanto eu estiver por perto.
   — E por que seria diferente com a senhora indo junto?
   — Seria uma falta de respeito atacar alguém que está acompanhando uma senhorinha, não acham?
   Eu não duvidava que poderiam atacar Evelyne mesmo sendo acompanhada por uma nobre. Já vivi muitos acontecimentos ruins fora desse acampamento que me deixavam totalmente sem confiança nas pessoas que não conheço, e, pelo jeito que O'Connor estava, Amélia não seria uma uma garantia de segurança.
   Decidi que era melhor acompanhar aquelas duas.
   — Eu quero ir com vocês. Não posso deixar as duas sozinhas.
   — Christopher, é muito gentil da sua parte. Pois bem, vamos depois do café da manhã. — Disse Amélia.
   O'Connor chegou logo em seguida. A cara marrenta dele ao acordar deixava todos no local com receio de dizer um "bom dia".
   — Bom dia.. — O'Connor tomou a iniciativa em comprimentar o grupo.
   — Bom dia, O'Connor. O café está pronto.
   O'Connor sentou-se à mesa e pegou uma fatia de bolo que estava alí. Evelyne também pegou, por fim eu também peguei uma fatia. O bolo estava realmente delicioso.
   — Então, O'Connor.. — Amélia começou a falar. — Eu tava pensando em ir até a região da plebe com Christopher e Evelyne.
   — Hum... — O'Connor estava com a boca cheia de bolo. — Não vai ser perigoso para Evelyne?
   — Eu vou estar junto, nada vai acontecer.
   O'Connor coçou a cabeça pensativo antes de dar sua resposta.
   — Tudo bem. Só tomem cuidado.
   Eu achei estranho O'Connor ter aceitado numa boa. Amélia era só uma senhora da região nobre do acampamento, só isso era o suficiente para deixar Evelyne em paz com o líder que até então tentou matar ela no passado?
   — Como pode ter tanta confiança na Amélia? — Perguntei me questionando sobre a confiança de O'Connor em Amélia.
   — Amélia é da família do líder do acampamento. Por isso escolhi ela para ajudar a gente. Além disso, com vocês sob o cuidado dela, eu posso resolver melhor toda essa situação. — Disse O'Connor.
   — Ainda pretende nos levar para New Hope? — Perguntou Evelyne.
   — Sim, lá é uma pequena vila, mas vão viver bem por lá.
   O'Connor terminou de tomar seu café e levantou da cadeira. A unica arma que pegou foi seu revólver, o qual colocou em sua cintura.
   — Eu vou indo, tenho que resolver as coisas com Ryder. Cuidado vocês aí. E Christopher, — O'Connor virou seu olhar para mim. — Cuide das minhas armas, enquanto estiver nesta casa.
   — Certo..
   O veterano saiu.
   — Bem, somos os próximos a sair. — Disse Amélia.
   — Eu só preciso falar com meus irmãos e avisar que volto logo. — Disse Evelyne saindo da cozinha.
   — O'Connor não costuma confiar as armas dele em ninguém. — Disse Amélia guardando algumas coisas em uma pequena bolsa. — Vocês se conhecem a bastante tempo?
   — Alguns dias.. A gente teve alguns obstáculos antes de chegar aqui. Mas ele sempre foi uma pessoa meio ranzinza.
   — Ele sempre foi assim desde que chegou nesse acampamento...
   — Como assim você vai voltar para lá? Querem matar a gente.. — Disse uma voz masculina.
   Evelyne chegou na cozinha seguida de Eduardo.
   — Eu vou com Amélia, ela é parente do líder. Christopher também vai com a gente — Disse Evelyne. — Eu só quero poder ajudar as pessoas feridas do nosso povo, mesmo que sejam uma ou duas...
   — Eu... eu vou com você então.. — Disse Eduardo. — Preciso ter certeza que vai ficar bem.
   — Eu acho que tem alguém que precisa mais de você Eduardo. — Disse Amélia apontando para um dos quartos.
   Alí estava Carol, ainda dormindo. A pequena era mais apegada ao irmão Eduardo e ele quem a vinha consolando desde aquele dia.
   — Vai ficar tudo bem. — Amélia continuou.
   Depois de pensar um pouco, Eduardo mudou de ideia. Ele era bem protetor com suas duas irmãs, precisava estar presente em todas as situações para ter a certeza de que tudo ficaria bem.
   — Só me prometa que vai ficar tudo bem..! — Disse eduardo de cabeça baixa.
   — Eu prometo! — Disse Evelyne.
   Eduardo abraçou Evelyne.
   — Eu volto antes do por do sol. — Disse a garota.

A Última Era: Além Da Catástrofe (I)Onde histórias criam vida. Descubra agora