Saímos da casa e fomos em direção ao outro lado dos muros, alí era onde ficava o povo chamado de plebe. Na frente dos portões havia alguns guardas já se posicionando para interromper nossa passagem.
— Identifiquem-se.
Amélia tomou nossa frente.
— Amélia Sokolovich.
O guarda logo cancelou todo aquela postura de superioridade ao ouvir o sobrenome Sokolovich.
— Senhora, o que pretende fazer dentro da plebe? — Disse o guarda.
— Quero só dar um passeio, não se preocupe, eu estou muito bem acompanhada. — A senhora disse apontando para mim e para Evelyne.
— Não seria melhor que alguns guarda ficassem em sua proteção?
— Não, eu já tenho minha proteção. Abram os portões.
O guarda, mesmo não concordando, ordenou que os portões fossem abertos. Assim, nós três atravessamos até o lado pobre do acampamento. A primeira diferença que percebi foram as ruas pavimentadas ficando para trás. A terra molhada pela chuva de dias atrás dava lugar à um lamaçal de grudar os sapatos. Toda aquela região que lembrava uma verdadeira cidade antes do apocalipse agora dava lugar a uma região totalmente pobre.
Continuamos nossa caminhada até uma tenda, a mesma que haviamos visto anteriormente, alí era onde os feridos recebiam seus cuidados.. ou os que conseguiam aguentar até sua vez. A fila era imensa e haviam vários doentes e feridos no chão da região esperando algum atendimento, todos cobertos daquela lama.
Passamos andando por aquela fila e alguns feridos acabaram ficando muito irritados achando que estávamos furando a vez.
— Quer atendimento? Vai para o fim da fila! — Disse um dos feridos na fila.
— Vocês querem se fazer de espertos? — Disse um cara com parte do seu rosto enfaixado, este parecia querer pegar algo na cintura.
— Calma! Ela é uma amiga.. — Disse uma garota saindo da tenda ao perceber uma discussão. — Ela veio para ajudar.
— Aquela é Evelyne. Uma enfermeira que atendia aqui, tenham respeito com ela. — Outro dos doentes disse em defesa de Evelyne.
— Venham comigo!
A garota nos levou para dentro da tenda. Alí, outras enfermeiras ajudavam várias pessoas deitadas em macas improvisadas. Elas corriam de um lado para o outro tentando ajudar. Não haviam bons equipamentos para ajudar no tratamento destes feridos, alguns passavam por procedimentos sem uso de anestesia. Dava pra ouvir gritos bem altos vindo de alguns lugares fechados das tendas.
— Eu vou ajudar. — Evelyne disse colocando sua máscara e suas luvas.
Evelyne logo atendeu um paciente que mal conseguia falar. Sangue escorria de sua barriga e este estava perto de perder sua consciência.
— Meu... irmão....
— O irmão dele foi pego.. — Disse a amiga de Evelyne. — Os guardas estão fazendo uma limpa na região.. estão executando qualquer um que acham estar indo contra o líder Alexander.
— O que? — Amélia ficou surpresa. — Como?
— Se forem na praça próximo ao portão de entrada do acampamento, vão ver os atos que estão cometendo. — A enfermeira disse com uma tristeza no olhar. — Eu poderia acompanhar vocês até lá.. mas tenho muitas pessoas para ajudar...
— Vamos lá Christopher, eu preciso ver isso. — Disse Amélia.
— Mas e a Evelyne? — Perguntei
— Vou ficar bem, voltem o quanto antes. Por favor. — Respondeu a jovem loira.
Saí da tenda com Amélia e ela me levou diretamente para a mesma praça que a enfermeira havia dito. Chegando lá, várias pessoas estavam ao redor de um palco. Assistiam com pavor uma cena que acontecia nesse mesmo palco..
Quando vi, eu me assustei..
Cinco corpos pendurados por uma corda, todos sem vida. Eu ouvia as pessoas ao redor comentarem com medo sobre a paranoia do líder em julgar as pessoas sem ter provas de que eles estavam cometendo algo contra a liderança dele. Pelo simples boato, pessoas eram mortas em público.
— Meu Deus.... — Amélia disse tapando os olhos.
Eu abracei a senhorinha observando vários guardas chegarem com mais pessoas. Os infelizes carregados pelos guardas estavam com um saco na cabeça e com suas mãos amarradas em suas costas. Ao tirar o saco de suas cabeças, eles demoraram alguns segundos para entender o cenário onde se encontravam. O desespero deles vinha quando viam os corpos sendo retirados das cordas e percebendo que os próximos serão eles.
Era desconfortável ver o desespero daqueles sujeitos.
— Eu tenho que saber a causa disso.
Amélia seguiu furiosa em direção aos guardas. Eu ainda tentei impedir, mas ela acabou sumindo em meio a multidão. Tive medo dela acabar sendo atacada, então acabei seguindo também rumo ao centro daquela situação.
Ouvi duas vozes discutindo enquanto eu tentava driblar a população para chegar em Amélia.
— O que significa isso?
— Calma senhora!
Quando finalmente conseguir tomar a frente daquela população, vi Amélia discutindo com um dos guardas. Este agia de maneira calma com a senhora por saber que ela era uma nobre, enquanto o resto da população era tratada com desprezo.
Parecia que iria estourar uma guerra naquele exato momento, várias pessoas armadas no meio da população começavam a coçar seus revólveres em suas cinturas. O povo já estava cansado do que estava acontecendo e faltava pouco para uma merda acontecer.
— Alexander Sokolovich está louco. — Disse um dos habitantes sussurrando para que não fosse ouvido pelos guardas.
— São ordens do líder. — Disse um dos guardas para Amélia.
— E o que ele pensa que tá fazendo? São vidas sendo tiradas. Espero que exista um bom motivo além de um "eu acho" que eles vão fazer algo ruim. — Disse Amélia.
— Eu só sigo ordens...
A situação começou a ficar tensa.O'Connor
Saí naquela manhã em direção ao local onde havia marcado de me encontrar com David, o Ryder. Ele disse que me ajudaria levando o pessoal para outro acampamento. Em uma garagem, estava Ryder debaixo de seu carro ajustando alguma coisa.
— Ryder.
O sujeito ruivo saiu debaixo de seu carro e olhou para mim com o mesmo sorriso que sempre dava ao me ver.
— O'Connor, meu amigo! Essa lata velha ta cheia de problemas.. — Ele disse chutando o carro. — Eu preciso de umas peças para fazer essa coisa funcionar de novo.
— Hum.. e como pretende fazer isso?
— Você sabe. Fazendo missões para Alexander. Ele me propôs ir em uma casa aqui perto do acampamento próximo ao mar, procurar o corpo de um jovem daqui da nobreza que acabou sendo preso no desabamento de uma casa. Ele e outros jovens saíram para um desafio e acabou acontecendo esse desastre. A família quer o corpo para um enterro digno e aí que a a gente entra.
— Quer que eu vá com você então. — Eu disse apoiando as costas no carro.
— Quer ser ajudado? tem que me ajudar também, amigo. E vai ser bom relembrar os velhos tempos em que fazíamos esse tipo de missões juntos.
— Sabe que eu to contigo nessa. Quer ir agora?
— É melhor. — Disse Ryder lavando a mão suja de graxa. — Quero voltar antes do anoitecer.. sabe o quanto os zumbis são perigosos à noite.
— Certo.
— Assim... — Ryder disse coçando o rosto. — Meio que... meu carro não tá funcionando...
— Hum.. — Resmunguei sabendo o que ele iria pedir.
— E o líder te deu uma nova moto. Não quer testar ela fora da cidade?
Eu iria aceitar de qualquer jeito. Não negaria um favor à um amigo.
— Vamo indo. — Disse andando em direção à Harley-Davidson.
— Isso aí! — Disse Ryder rindo. — Posso ir dirigindo?
— Nem fodendo!
— Só um pouco, cara.
Liguei a moto e o ronco do motor me dava alegria.
— Senta aí e vamos logo fazer essa porra.
Ryder ligou uma pequena carroça à moto para que o corpo pudesse ser transportado alí
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A Última Era: Além Da Catástrofe (I)
Action"O que teria acontecido com o mundo?" O caos agora domina a terra, mortos vivos andam por todas as cidades como um exército vindo transformar a vida de qualquer ser vivo em um inferno. Acompanhe a história de um sobrevivente que presenciou o início...