O chão não estava mais confortável do que na noite anterior, mas acordar com a luz do sol atravessando as árvores e a tagarelice suave dos pássaros poderia ser pior. Eu me estiquei com cuidado, feliz por perceber que meu ombro e minha perna estão muito melhores.
Espere, se o sol já estava alto no céu...
-Que horas são? - perguntei para ninguém em específico - argh, queria ter meu celular aqui.
Eu me virei, vendo algumas latas vazias empilhadas em volta da fogueira apagada, mas não tinha nenhum sinal de mais alguém ali. O desespero fez meu coração bater mais forte no meu peito até eu ver Sarah surgindo do meio das árvores carregando uma pequena pilha de gravetos nos braços. Aproveito que ela ainda não percebeu que estou acordada para admirá-la, os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e as mangas da camisa dobradas até o meio dos braços a deixavam linda mesmo que alguns pontos da camisa e da calça estivessem rasgados.
-Boa tarde - ela falou ao perceber que eu estava acordada.
-Tarde? - perguntei, confusa - por que dormi tanto? Onde estão os outros?
-Eles tomaram café da manhã e saíram pra procurar uma nova fonte de água - Sarah explicou - Gil estava muito empolgado com isso.
-Mas nós temos muita água engarrafada do navio - falei, ainda um pouco confusa.
-Que nós usamos pra beber - ela falou - gastá-la em cozinhar e tomar banho seria um desperdício, mesmo que seja tentador despejar algumas garrafas sobre a minha cabeça agora e fingir que estou tomando banho.
-Eu não julgo você - comentei - um banho quente soa como a melhor coisa que existe agora.
Sarah colocou a pilha de gravetos na fogueira apagada e sentou ao meu lado.
-Se eles foram à procura de água, porque você está aqui? - questionei, curiosa.
-Bem, eu não iria deixar você sozinha e inconsciente - a loira explicou como se fosse óbvio.
-Vocês poderiam ter me acordado mais cedo e nós iríamos juntos - rebati, cruzando os braços.
-O sono é o melhor remédio, Juliette - Sarah argumentou - eu disse ao Gil que ficaria cuidando de você.
-Vocês dois se dão bem, hein?
-Ele e eu não entendemos, eu acho - ela respondeu, dando de ombros - o que eu não posso dizer sobre muitas pessoas.
-Obrigada por ficar por perto então.
-Se eu te deixar sozinha, quem sabe o que poderia acontecer? - e lá estava aquele tom provocador novamente.
-As chances são que eu ficaria entediada e tentaria pensar como escreveria meu artigo: "Trinta e duas maneiras que eu quase morri encalhada em uma ilha".
Ou "Vinte maneiras de conseguir que uma médica bonita repare você" pensei, rindo mentalmente.
-Pelo menos você não ficaria entediada.
-Eu prefiro a sua companhia - eu comentei e ela me olhou com uma sobrancelha arqueada.
-Eu não sabia que eu me qualifiquei como companhia - ela rebateu.
-E o que mais você seria?
-Bem você sabe o que dizem sobre comer uma maçã por dia e os médicos... - ela deixou no ar me fazendo rir. Dou-lhe uma cutucada brincalhona e um sorriso irônico cruzou os lábios de Sarah. Foi surpreendentemente quente, iluminando todo o rosto dela e eu acabei criando a missão de ver esse sorriso com mais frequência.
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Castaway - A Aventura do Amor
RomanceJuliette é uma jornalista que estava escrevendo uma matéria sobre o novo navio de cruzeiro Diaz, quando uma tempestade atinge a tripulação. A mulher naufraga em uma ilha mágica junto a outras cinco pessoas. Sarah é uma médica fria e direta por fora...