Eu já sabia que o ocorrido havia de ser ruim. Antes de constatar o terror nos olhos dos alunos; antes de captar o tilintar de goteira ecoando até o corredor. Todos deviam estar aqui, ainda assim, o saguão fora tomado de uma mudez taciturna, rigorosa e incontestável.
Eles me deixaram passar. Dispersaram-se à minha frente, simplesmente, como um corredor humano que me guiou até a entrada do banheiro feminino. Estava escuro. Uma das lâmpadas devia ter queimado e a outra estava muito fraca, piscando, mas sem nunca acender. Espatifei o solado numa poça que embebia o piso até além do que meus olhos podem ver, ao entrar, e fortuitamente soltei um suspiro pesado e agourento. Fato era que, ainda que me preparasse por dias, jamais estaria pronta para a cena que me deparei a seguir.
Era ela. Soube que era no momento em que a vi. Apesar do escuro; apesar das roupas desarranjadas; apesar da pele marmorizada e veias esverdeadas. Era ela, e eu sabia. Seu corpo estava ladeado pela água que pingara a torneira, empoçara a pia e alagara o chão. Os olhos estavam fixos nas caixonetes, embora sequer pudessem enxergar os dedos hesitantes do sol — que se punha atrás da floresta negra — insinuando-se através das janelas, a polvilhar de luz as cabines.
— Ei...
Seus ombros não enrijeceram quando me aproximei com passos oscilantes e esponjentos, e também não pestanejou quando acariciei seus cabelos úmidos e o rosto gelado com os dedos trêmulos de nervoso. Nada mais via; nada mais sentia, exceto talvez a escuridão. Alcancei, cautelosamente, os óculos redondos caído não muito longe de suas mãos, e um cruel vislumbre finalmente me ocorreu. Uma lufada acometeu-me repentinamente os pulmões e os olhos arderam ao se embebedar em lágrimas, a mandíbula cerrou até fazer pulsar as veias da garganta e apertei os pequenos óculos até ferir-me no meio da palma. A mão livre só pôde tapar a boca, e nada mais.
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Hogwarts Myster - o Herdeiro de Slytherin Vol. 01
FanfictionAnnellyze nunca havia ouvido falar em uma câmara secreta até o momento em que encontrou o PRIMEIRO ALUNO imoto. Aparentava um transe compulsivo pela fenestra escura que espelhava seus olhos esbugalhados e mofinos. Depois de cinco anos pacatos em Hog...