Algo dentro do meu corpo palpitou. Considerei de ser minhas veias se agitando conforme o sangue percorria mais rápido, mas eu estava enganado. Perdurou, diligenciando uma forma de sair e talhou o arcabouço, atirando-se para fora em uma ardência absurda. A gorja esfolou-se com um bradado tenebroso e, quando dei por mim, estava ajoelhado, apertando as mãos contra o tórax. Está sensível. Algo como um formigamento ao toque, mas eu sabia que não havia de ser isso.
O encanamento se fechou ruidosamente, atrás de mim, e meus olhos sobrenadam o chão alagadiço até a garota. As íris castanhas desprovidas de vida encaram-me afrontosas. Eu rio soprado, involuntariamente, e uma pontada no rosto ameaça os meus lábios a se curvarem. Não o faço, contudo.
Agarro ao diário embebido e levanto-me, trazendo-o comigo. Era quase como se pudesse sentir o meu próprio toque. Os olhos desviam o corpo mortificado. Um gotejar anômalo chamou por minha atenção e, entre os meus pés, eis que vejo flutuando uma gota de sangue que ligeiramente dissolveu-se nas águas. Uma de minhas narinas parece respirar com mais facilidade que a outra, somente agora eu noto e trago o pulso — a mão que segura o diário — até a patente em meu rosto. Sei que, em poucos minutos, isso aqui estará rodeado por toda a Hogwarts, no entanto, pego-me apreciando a sensação de leveza e a pústula no meio do peito. Não era tão ruim ao fim das contas.
Largo de mão a garota e esgueiro-me para o banheiro masculino. Passei alguns bons minutos por ali, apoiado à parede, pressionando um lenço ao nariz. Em algum momento, ele há de parar de sangrar. Descartei o papel vermelho que se perdera do branco, e matei mais algum tempo foleando as páginas vazias do livreto molhado. O corpo se eriçando como a se recuperar de um tombo fatal. Gradativamente, as vozes estão se tornando barulhentas e incômodas. O enxame, agora, deve ser o suficiente para que eu passe despercebido e trombe com algum professor, eu suponho. Então eu voltarei até aqui e nunca que serei relacionado a isto de qualquer forma.
Guardei o diário para dentro da túnica e cisquei para fora.
Como se comprometida a ideia de me atarantar, porém, Antares chocou-se contra mim. O peito ruiu, arrancando-me um resmungo, e minhas pernas travaram no lugar. Ela estava chorando, eu percebo. Fazia-o desde mais cedo. Nunca entendi o porquê de tantas lágrimas. Se há algo que sei, é que não mudam absolutamente nada do que já está feito. Em outras palavras, são inúteis. Ela, até então, possui uma terrível discrepância com minha opinião. Caso o contrário, não haveria motivo para tanto choro. A culpa, a contraponto, era toda sua. Annellyze quem contrariou-me; desafiou-me. Encarou-me com seus olhos acusativos como se me tivesse em suas mãos. Que sirva de aprendizado! A garota terceiranista, no entanto, não possuía salvação. Nada mais era do que um grande empecilho no caminho. Ao menos, fora-me útil.
Annellyze, como todos neste mundo trinchado, não conseguia compreender. A magia tem de ser merecida, e nenhum sangue ruim a merece. Eles desonram tudo o que somos e tudo o que fazemos. Annellyze tinha de conciliar com isso.
Minhas mãos, a contragosto, estão apoiadas em suas costas. Há muitos olhos aos arredores e estou preso aqui na mira destes, até que Annellyze me solte. O olhar enraivecido me intriga. Eles reluzem muito bonitos, antes de sumirem por baixo da cortina de cabelos que se agitaram quando ela afundou as mãos em meu peito e impulsionou-me para trás. O tórax formiga agradavelmente. Aprecio essa sensação, antes de voltar a fitá-la. Gostaria de ter a oportunidade de ver seus olhos cheios de dor e raiva novamente, porém, ela correu, desaparecendo no corredor.
Encaro-a pela aresta dos olhos, questionando-me se era seguro deixá-la à solta desta forma. Alexandra era a atração principal, no entanto, receio que Dumbledore continue à minha cola, e se Annellyze resolver abrir a boca, eu terei problemas realmente grandes. Há me provado, uma vez, ser bem mais do que uma figura descartável. Trazê-la para mim ainda é uma opção. Primeiro, porém, terei de arranjar algum modo de recuperar a sua confiança.
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Hogwarts Myster - o Herdeiro de Slytherin Vol. 01
FanfictionAnnellyze nunca havia ouvido falar em uma câmara secreta até o momento em que encontrou o PRIMEIRO ALUNO imoto. Aparentava um transe compulsivo pela fenestra escura que espelhava seus olhos esbugalhados e mofinos. Depois de cinco anos pacatos em Hog...