VIII - Troca de Presentes

408 35 77
                                    

O quase silêncio é quebrado por um grito esgoelante e, no corredor seguinte, Andrew dispara — os braços para o alto —, perseguido por um Tentáculo Venenoso enfurecido. Gargalhadas escarcalhadas explodem das gargantas de alunos da Grifinória, e Allen e Marcos bramiram incentivos para que Andrew continue correndo, a menos que quisesse comemorar o natal junto de sua falecida bisavó.

As malas já estavam prontas e, além do castelo, não há mais sinal do verde, exceto o escuro de um ou outro pinheiro já quase encoberto pelo manto de neve. Em menos de quarenta horas a maioria de nós estará em casa, em férias de natal, e como se já não bastasse o ritmo lento que alguns alunos entornaram, os próprios professores não parecem mais levar suas aulas à sério. A maioria deles, ao menos.

Diffindo!

O Tentáculo estatelou o chão como se não pesasse mais do que alguns gramas e, no final do corredor, Andrew se encolhia atrás da barra do vestido marsala e mostarda de Madame Flowers. O rosto amargurado, os lábios crispados e curvados para baixo, como se repensando a responsabilidade de ter de salvar um aluno e cometer tamanho sacrilégio; a varinha de teixo tremelicando na ponta dos dedos. Não guinchou com Andrew ou mesmo por causa das gargalhadas, também não nos puniu com metade da matéria do mês como lição de casa para a próxima aula. Guardou a varinha nas vestes, ao invés disso, e recolheu o Tentáculo esmarrido do chão com um cuidado desigual.

— Voltem ao trabalho... imediatamente — disse em um tom surpreendentemente calmo e, simultaneamente, absurdamente firme.

As gargalhadas clandestinas desapareceram no ar como se nunca houvessem existido, e os alunos voltaram a colher as sementes de Tentáculos para envasá-las, tendo a certeza de imobilizá-los adequadamente antes. Jonnatha, que estava no final desta fileira, depois de Allen, encolheu-se embaixo da mesa longa onde trabalhávamos e engatinhou nessa direção, parando à minha frente. Eu me afasto e ajeito a saia num ato involuntário, ele deixa um riso soprado escapar.

— Madame Flowers está por aqui? — Cochichou.

Procuro-a de um lado a outro, estava debruçada em cima do Tentáculo estirado sobre sua mesa de trabalho, um olhar catártico e os lábios ainda franzidos.

— Acho que ela está ocupada no momento...

Jonnatha levantou-se para ver a cena e, outra vez, riu soprado.

— Coitada, deve ser uma perca difícil.

— Deixe-a em paz, sim? — John gargalhou.

— Desculpe-me, afinal, não foi por isso que vim até aqui.

Os lábios de Jonnatha esticaram-se no rosto e ele sorriu abertamente, o braço direito discretamente agarrando-me pelo ombro.

— Hum... eu conheço esse olhar — livro-me ligeiramente de seu abraço.

— Acho que vamos passar o final do ano juntos.

— E por que pensa assim?

— Meu pai disse que vamos ver um amigo no natal, e eu aposto a minha varinha que esse amigo é o seu pai.

Senhor Denebola, o pai de Jonnatha, trabalha no Departamento de Execução das Leis da Magia, assim como papai e, ocasionalmente, ocorre de terem de trabalhar juntos, como há três anos atrás, quando tiveram de conter uma rebelião de bruxos no Hyde Park instigados por Grindelwald em plena luz do dia. Foi necessário quase uma semana para apagar a memória de todos os trouxas, sem falar naqueles que conseguiram fotografar. No dia seguinte, tornou-se a matéria em destaque de todos os jornais que se prezem, e o Ministro da Magia, Leonard Spencer-Moon, teve de intervir pessoalmente para que o caso pudesse ser desmentido; abafado mais precisamente, na minha opinião.

Hogwarts Myster - o Herdeiro de Slytherin Vol. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora