Os pingos da chuva batem contra as vidraças emolduradas e coloridas das altas e estreitas janelas, e meu foco se perde ali. Apoio a cabeça sobre uma das mãos e suspiro. O céu é lilás e não há sinal do sol vermelho se pondo atrás das colinas, lá longe. Provavelmente está perdido sob a neblina espessa e frígida que revestiu o horizonte. O gramado da estufa está amarelando e secando, e as árvores estão perdendo sua folhagem mais rápido do que consigo acompanhar. Suspirei outra vez, acariciando a mecha que caíra para frente do rosto com os dedos e coloquei-a para trás da orelha, virando a página do livro aberto sobre a mesa de madeira que muito já fora escovada.
Por maior que fosse a biblioteca de Hogwarts, ela não me parecera mais tão grande agora. Eu havia procurado em todos os lugares — literalmente todos —, mas ainda não achei nada sobre quem quer que fosse Oliver Salazar. Possivelmente, eu estava perdendo a hora do jantar outra vez e, com certeza, alguém há de me chamar a atenção mais tarde. Acontece que a curiosidade de entender o porquê de ele mentir sobre o trabalho e esconder o livro era tanta, que a fome me fugira completamente.
O lugar está vago e o cenário é totalmente escuro do lado de fora, quando Madame Pince surgiu bufando, mandando-me sair. Organizei os livros nas prateleiras atafulhadas de poeira, e os quatro restantes para levar comigo, os olhos me encaram como uma Pumaruna raivosa enquanto deixo minha assinatura. Mal pisara o corredor, a porta de madeira bateu e meus ombros estremeceram.
Abri os braços para libertar os livros, e todos eles bateram as páginas como as asas de um passarinho. Peguei o que voara mais próximo de mim e o abri. Segui o corredor para as escadarias e virei a crista no mesmo segundo que a quem vinha no sentido contrário. O susto faz-me recuar e apertar o livro contra o peito.
— Jonnatha!
— Anne! — suas bochechas enrubescem, e ele sorri. — Eu estava agorinha indo te procurar na biblioteca.
— Pois eu acabo de vir de lá.
— Loreynne me disse que era onde eu poderia te encontrar — disse muito afobado, as palavras se atropelando. — Uau! — assoviou, — quantos livros!
A voz me enrosca a garganta e eu afirmo com a cabeça, checando-os sobre os ombros, uma pequena enxurrada de pó borrifando das páginas.
— Ainda vai ler todos estes? — Os olhos saltando para fora, e os pulmões cheios de ar e animação.
— Vou sim, e tem mais alguns para eu encaixar depois.
— Uau! — assoviou novamente, a voz perdendo a euforia. — Imagino que foi esse o motivo de não ter vindo a seletiva de Quadribol como me prometeu...
Meus lábios se cingiram e as sobrancelhas arquearam. Apertei os olhos, virei o rosto e contive o praguejo que me subiu a garganta. Eu suspiro.
— John — sussurrei, — eu sinto muito! E-eu me esqueci... — ele gargalha fraquinho. Um sorriso tão doce e gentil que faz-me engasgar com a culpa.
— Sempre esquece... — deu de ombros. — Mas eu sei que Quadribol não é bem o seu estilo. Também... o campo estava uma lamaceira. Teria se sujado inteira se estivesse por lá, então... está tudo bem! — Acrescentou depressa.
Jonnatha coçara a nuca, timidamente, e eu mordo a língua para acoimar. Cerrei os punhos, ainda apertando o livro contra o peito e baforei pesadamente.
— Conseguiu passar no teste? — Perguntei acanhada.
Jonnatha ergueu o rosto, afugentando os olhos do chão e colocando-os sobre mim. Uma vibração por trás do castanho amêndoa respondia-me por si só, que sinto meus lábios se curvando.
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Hogwarts Myster - o Herdeiro de Slytherin Vol. 01
FanfictionAnnellyze nunca havia ouvido falar em uma câmara secreta até o momento em que encontrou o PRIMEIRO ALUNO imoto. Aparentava um transe compulsivo pela fenestra escura que espelhava seus olhos esbugalhados e mofinos. Depois de cinco anos pacatos em Hog...