XVIII - A Taça das Casas

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Uma tremedeira tamanha instalara pelo meu corpo. Passos falhos e demasiados apressados sanam a distância entre Riddle e eu, e ajoelho-me ao seu lado, largando no chão a varinha de Rúbeo. Hesitante e insensata, estico-me, guiando-me até o seu rosto. Sinto minha testa se franzindo de agrura com a lástima de vê-lo ferido, então seu braço — antes ao redor do tronco — soltou-se e estatelou a mão contra a minha, refutando-me, trazendo-me para a realidade. Eu mordo o lábio inferior na tentativa de conter a minha ânsia.

Alguns muitos segundos levei para digerir melhor — o que pude — da situação, e meus olhos se abriram, pesados, ainda o fitando. A garganta encarcerada gaguejando, mas nem uma única palavra eu pude dizer. Tom debruçou-se ao chão e cerrou o punho — o outro braço voltara a lhe enlaçar o tronco com firmeza. Sua respiração estava agitada e muito alta. Mais alta do que os soluços de Rúbeo, ainda estirado não muito longe de nós. Minhas sobrancelhas se afundam no dorso. Tão cavo, que sinto as narinas tremulando.

Ele o fizera? Rúbeo quem o machucara desse jeito?

Eu arfo.

Meus ombros chacoalharam, tensos, com uma raiva que eu não soube de onde viera e minha visão alvoroçou-se em lágrimas. Engoli seco — um gosto amargo na boca — e arqueei o rosto, tentando contê-las. Eu respiro fundo.

Que aconteceu? ...Também, aquela... aquela coisa? Que tipo de criatura fora aquela? De onde viera?

Apoiei a mão à cabeça na tentativa frustrada de estimular à calma. Deslizo os dedos pelas madeixas bagunçadas e tomo fôlego. Nada ainda posso dizer, tampouco.

O corredor chia. Um balbucio baixinho que tende a aumentar, aproximando-se, preenchendo o claustro com toda a balburdia. Estou desalenta, sem brio e perdida numa situação anfiguri a qual não sei o que fazer. Nem mesmo o que procurava, já não procuro mais. Os passos pesados sessaram-se atrás de mim e as vozes agoureiras se calam. Uma débil luz vem crescendo o corredor e três borrões escuros refletem o chão. Eu me viro sobre o ombro.

— S-senhorita Antares? — Engasgou-se, Madame Vitally.

Professor Dumbledore vem à frente, a varinha sobejando luz ao corredor escuro. Em um de seus ombros, Madame Flowers, os lábios brancos de tão apertados, no outro, Madame Vitally, e nunca a vira tão zangada.

— Que é que estão fazendo aqui? — Perguntou a Madame Flowers, uma fúria reprimida na voz.

Seus olhos muito ásperos desapareceram em algum lugar pelas grossas rugas que se formaram em seu rosto raivoso e parcialmente iluminado. Aproximou-se bufando feito um Trasgo e recolheu as duas varinhas do chão, também, a minha, de minhas mãos.

— Hogwarts acaba de perder uma aluna e veja só vocês. Principalmente você, senhorita Antares! — Gungunou. A voz muito baixa e rancorosa. — Eu não quero, se quer, pensar o que professor Dippet fará com os três. Levantem-se todos e venham! Venham já!

Rúbeo apertou os palmos largos e grandes no rosto, fungou alto como o som de um trompete e levantou-se cambaleando.

Tom arquejou e afastou-se muito lentamente do chão para colocar-se sobre os joelhos, o tronco tremendo feito maria-mole. Equilibrou-se nos calcanhares e levantou bambeando. Ergo-me também e me aproximo, afim de o ajudar. À contragosto, ele me escapa. Afugentou-se para trás, porém, o movimento brusco o afoitou de tal jeito que os olhos se espremeram e o tronco dobrou-se ao meio. Apertou os braços no tórax e só não voltou para o chão, porque meu abraço o agarrou. Apoiei-o em meu ombro e Tom virou o rosto. A boca ofegando e resmungando ao respirar, os olhos me evitando a todo custo. Passou o braço por minhas costas e não mais protestou, no entanto.

Hogwarts Myster - o Herdeiro de Slytherin Vol. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora