XIV - Um Baita Mal-Entendido

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Um terrível arrepio parecia estar presente por todo o meu corpo, mesmo nas mãos onde, também, podia sentir algo queimando — aquecendo. Meus olhos se abriram pesadamente e, por mais que talvez eu devesse, não fiquei nenhum pouco surpresa quando me deparei com o cenário absurdamente claro.

— Senhorita Antares, eu peço, não se mexa! — Alertou-me a voz de Madame Vitally. Viro o rosto nesta direção e, a claridade que ofusca os meus olhos, agora, é alaranjada. Eu resmungo. — Mandei não se mexer! — A voz é mais firme, porém, o tom continua baixo.

Parto em uma segunda tentativa de abrir os meus olhos e, na medida do possível, mantê-los assim. Minhas mãos ardem, minhas articulações parecem estar desligadas e, o frio, as tomaram abruptamente. O calor está descendo por minha cintura e, encolhendo o pescoço, consigo enxergar o porquê. Incendio.

Meu corpo travou, tentando lidar com um espasmo muscular interrompido, e não demoro em perceber o motivo. Minhas pernas não podem se mover. Estavam presas em um pequeno iceberg que Madame Vitally estava derretendo com magia. Eu arfo, afundando a nuca no travesseiro e apertando os ardidos e gelados palmos contra o rosto. Maldita Alexandra. Quando ela disse petrificada, eu não imaginei que, literalmente, eu seria uma pedra de gelo.

— Antares, fique quieta, ou vou lhe queimar! — Presumi que fora o aviso final. Eu me esforço para obedecer.

Por onde o afluxo ardido passara, há coagido uma tremedeira involuntária que, em pouco tempo, espalhara por todo o meu corpo. Os finos pelos dos braços e da nuca estão arrepiando e minha mandíbula choca-se compulsivamente contra o maxilar, em um tilinto insuportável. Madame Vitally suspira.

— Vai sobreviver! — Diz, apagando a varinha.

Ela se debruça para cima de mim, checando à fundo minha vista. Meus olhos se arregalam tanto, que sinto dor nas cutículas. Ela se afasta.

— Sente-se bem, senhorita Antares?

— Frio! — É o que consigo formular, depois de demorados segundos.

— Não é para menos. Parece que um de seus amigos andou brincando com o feitiço Glacius. Lembra-se quem foi? — Franzi a testa, fingindo pensar, antes de balançar a cabeça. — Hunf! — Resmungou. — Senhor Visser e senhorita Pentagron trouxeram-na hoje, durante a manhã. Disseram-me que estava no corredor, por quê?

— E-eu, ahn... — fecho os olhos, apertando-os, e apoio uma das mãos contra a testa. O arrependimento fora imediato. Por mais gelada que estivesse a testa, os dedos estavam piores. — Ouvi... um barulho! — Menti.

— Que barulho?

— Eu não — balanço a cabeça. — Desculpe-me, Madame! Eu não me lembro.

— Quem fez isso com você? Consegue se lembrar de algo? — Virei o rosto.

Seus braços se cruzam na altura do peito e, engolindo seco, meus ombros se encolhem. Eu não podia dedurá-la. Não tinha certeza do porquê de Alexandra sempre estar pelos corredores, no entanto, eu não diria nada.

Os lábios se entreabrem e a testa continua franzida. Eu sei que ela pretendia advertir-me de algo, quando meus pulmões se encheram e um incômodo nas narinas fez-me espirrar. Detesto ficar doente.

— Bom! — suspirou. — É melhor que se recupere antes de voltar às aulas, senhorita Antares. Vamos evitar uma afluência de alunos resfriados, por favor!

— C-claro! — Sorri amarelado.

— Vou buscar um chá para a senhora. Espere aqui!

Como se eu fosse à algum lugar, pensei.

Hogwarts Myster - o Herdeiro de Slytherin Vol. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora