Aquela sensação me corroía, você querer matar alguém é totalmente diferente de surtar e fazer por acidente. Eu sentia cada membro do meu corpo formigar, sentia como se cada célula minha me chamasse de assassino. Sentia o ódio das pessoas em mim todas as vezes em que elas me olhavam, sentia o desprezo, o nojo.
Passei dias sem falar com ninguém, o psicólogo tentou, os médicos tentaram, até mesmo os funcionários que não estavam me odiando tentaram mas eu não queria que ninguém falasse comigo a não ser ele. Queria que ele me perdoasse, queria que ele soubesse que não foi de propósito.
Porém ele nunca mais iria querer falar comigo.
Eu me sentia apático, mais magro que o normal, sentia o vão entre minhas pernas comerem a se formar. Eu não comia, não dormia, não tomava banho, só conseguia lembrar do que eu fiz.
Teve um velório, teve um enterro, teve a despedida e todos os funcionários e até mesmo alguns pacientes foram convidados, aqueles que podiam sair ou algo assim. Vi Harry várias vezes sentado olhando pro nada, via ele chorando também, eu não podia fazer nada pois eu que fiz aquilo.
Harry não atendia mais meu corredor, não atendia nem mesmo o meu bloco, isso me corroía todos os segundos.
Eu não tinha mais forças. Eu não tinha mais esperança.
Eu não queria mais ter vida.
Senti o sangue quente correr por meus braços, ouvi as gotas caírem no chão, uma após a outra, senti que estava ficando mais fraco e frio, até não conseguir mais mexer meu corpo. Meus olhos fecharam. Eu parei de sentir qualquer coisa.
Abri meus olhos e senti meus braços ardendo, meu corpo ardendo, minhas mãos inchadas, com ataduras por toda a extensão do antebraço. Mexi meus dedos de forma lenta, acompanhei o movimento com os olhos. Reparei que havia alguém atrás da cortina que separava meu box do outro.
Não tive forças pra ficar acordado, os remédios ainda faziam efeito sobre mim e adormeci de novo.
Sonhei.
Estava um dia calmo, ensolarado como Louis gostava. Estava em um gramado verde com uma pessoa ao seu lado, Harry, ele olhava para cima, via as folhas de uma árvore se mexer com o vento, sentia que aquilo poderia salvar sua vida, somente aquilo. Virou sua cabeça pra cima e fechou os olhos novamente.
Louis abriu seus olhos e estava na enfermaria do hospital. Suspirou. Sentiu uma mão em sua perna, era o psicólogo.
-Louis, precisamos conversar. Você teve um progresso bom enquanto esteve na solitária, por qual motivo teve uma recaída?
-Não quero conversar. Não quero falar com ninguém.
-Louis, você precisa colaborar, estávamos progredindo. Suas vozes na cabeça voltaram?
-Não, não voltaram.- Se virou na cama com dificuldade.
-Então porque fez isso? Já conversamos sobre colaborar e conversar quando necessário.
-Por causa dele.
-Dele quem?- indagou o psicólogo.
-De Harry.
O doutor olhou para Louis, ele sabia da verdade, sabia dos sentimentos do mesmo, sabia da vontade de Louis em matar Zayn e sabia também que ele havia desistido dessa ideia depois de algum tempo. Após muito custo, muita conversa e muito esforço, convenceu Harry a ir na enfermaria para ajudar Louis. O que Harry menos queria era ajudar ele.
-Louis? O que você precisar falar para Harry? Ele está aqui.- Louis olhou para Harry que desviou o olhar.
-Harry.- Tentou se levantar mas estava muito fraco e caiu na cama de novo, o médico teve reflexos rápidos e tentou ajudar o menor enquanto Harry nem se moveu, estava de braços cruzados e encostado em um pilar da enfermaria.-Eu juro que não foi por querer, e-eu tive um surto, eu nem vi quem estava na minha frente.
-Não acredito em você.-Disse chegando mais perto do rosto do menor- Você disse que iria fazer isso.
-Mas eu não ia, eu não ia... Não ia.- Seu tom de voz foi ficando cada vez mais baixo.
Harry virou para o psicólogo e perguntou se podia sair, ele não deixou.
-Louis, você sabe o que fez?- Perguntou ele.
-Infelizmente sim, doutor.
-E porque fez?
-Não escolhi a pessoa. Eu fiquei muito bravo por algum motivo e acabei fugindo de mim, senti meu corpo agir e eu nem pensei, comecei andar pelos corredores e encontrei alguém que mandou eu fazer algo e descontei nele. Acabou que era Zayn, mas eu juro que não fiz por mal, não agi premeditado. Eu não fiz isso.
-Eu acredito, Louis.
-O QUE? COMO VOCÊ PODE ACREDITAR NELE? ELE DISSE QUE MATARIA ZAYN POR A GENTE NA...- Harry se tocou que estava falando demais.
-Pois não, Harry? Pode continuar?
-Ele namorava Zayn, eu sinto algo por ele e jurei fazer eles terminarem mas eu não fiz isso, não machuquei Zayn de propósito.
-Sim, eu sei disso, conversamos sobre nas sessões mas porque você queria separar eles, Louis?
-Doutor, eu quero ficar com Harry, eu amo ele. Ele me faz bem, ele é a única coisa daqui que me faz realmente bem.- Louis olhou para Harry que se encontrava em estado de choque pela verdade que o moreno havia contado.- Não se preocupe Harry, ele não pode contar absolutamente nada que é dito em sessão. Ele não vai contar nada para sua mãe, não é doutor?
-Exatamente. Continue contando, por favor Louis.
-Eu sinto que esse lugar não é meu, não sou eu que errei lá atrás, não fui eu que acabei com a vida de alguém e sinto que é errado eu estar aqui. Só Harry faz eu me sentir em casa e ver ele com outro me matava, sentir ele me tratando como só mais um paciente me ofendia. Isso me deixou extremamente mal e eu surtei. Ameacei Zayn, falei que faria, peço desculpas por isso mas eu não queria mais fazer isso.
Harry já havia ouvido demais e disse que sairia. Não aguentava uma só palavra de Louis, era coisa demais pra sua cabeça, não sabia se acreditava ou se não queria acreditar no menor, era tudo muito complicado e recente, nem conseguira se despedir direito de seu namorado por não ser assumido. Só queria um tempo para sua mente, para tudo.
Queria poder abandonar aquele lugar, queria se sentir livre de toda aquela loucura dos pacientes, da sua mãe, do Louis. Não aguentava mais tudo aquilo.
O psicólogo deixou Louis em sua cama e foi conversar com Harry. Louis estava acabado, foi a conversa mais dolorosa que teve em sua vida, só queria morrer e tudo isso passaria.
Fechou os olhos na esperança de nunca mais acordar.
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Suicidal Love
FanfictionLouis sofre uma vida inteira de injustiças e decide se vingar, considerado incapaz pelo júri e então mandado para o hospital psiquiátrico em que Harry, futuro psicólogo, trabalha para passar o resto da vida.