Capítulo 10

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Se passou semanas desde que falei com Harry durante a sessão de psicologia na enfermaria, parecia tudo estar voltando ao normal, os funcionários já não me odiavam mais, todos agiam como se nada tivesse acontecido. Afinal, somos só números né? Ninguém realmente se importa com as pessoas, somos todos descartáveis. Menos para Harry.

Harry ainda não falava comigo, não olhava na minha cara, não atendia meu corredor, ainda via ele chorando as vezes, ele ainda sentia.

Estávamos na janta quando ele sentou ao meu lado, senti meu corpo formigar por completo. Eu não sabia como reagir, fixei o olhar no meu prato de sopa e não tinha forças nem pra levantar a colher. Harry não está tão diferente, dava pra sentir a tensão e a falta de vontade dele de estar ali.

-Não tinha outro lugar.- Disse sem levantar o olhar do prato, enquanto levava uma colherada da sopa de feijão a boca.

-Ainda bem que não tinha.- Disse olhando para o maior, sentindo sua bochecha esquentar então logo a abaixando novamente.

-Cara, você é um folgado mesmo né? Você não tem noção do que fez da minha vida!- Alterou o tom de voz chamando atenção de pessoas que estavam sentadas perto.

-Harry, eu entendo que esteja bravo, irritado e me odiando mas não precisa gritar, as pessoas estão olhando e bom, sua mãe também. A gente podia conversar, você podia me ouvir.

-Ouvir o que? Eu já escutei coisas demais vindas de você.

-Você nem faz ideia da metade das coisas que eu ainda não te falei. Você só é um egoísta apaixonado.- o tom saiu mais alto do que esperava, sentia que se não falasse tudo o que precisava ali e agora nunca mais teria a oportunidade.

-Quem você pensa que é pra falar des...

-Harry, escuta aqui, se você ama aquele garoto eu realmente não posso fazer nada, pode me chamar de assassino, pode me chamar de louco, do que você quiser mas eu nunca, nunca em toda a minha vida menti. Então não venha querer falar que eu estou mentindo. Você nem me conhece, não faz ideia de quem eu sou, nunca deu a oportunidade de me conhecer. Tô cansado de você me julgando por algo que eu não tive a intensão. Você acha mesmo que se eu quisesse fazer aquilo eu não teria feito antes? Ou até mesmo estaria me gabando por isso? Aqui dentro você tem que se mostrar forte e a primeira coisa que eu faria seria mostrar pra todo mundo o que eu fiz pra me temerem. Mas você vê eu fazendo isso? Veja o Ottor, ele joga aos ventos que matou mais de cinco. Você é ridículo por não acreditar ou até mesmo por não ver com seus próprios olhos.- Louis falou tudo que sentia, que tinha vontade e Harry apenas ficou olhando incrédulo pela coragem do menor.

-Foi um erro sentar aqui.- Se levantou e saiu, dava pra ver claramente que as bochechas do maior estavam coradas.

Louis respirou fundo e continuou comendo, não tinha mais nada a perder, Harry já o odiava de qualquer forma.

Horas depois

-Me desculpa.- Louis foi pego de surpresa, levando um susto.

-Do que você está falando?- Perguntou se levantando da cama, ficando de frente com o maior.

-Eu entendi o que você quis dizer no refeitório. Não significa que eu te perdoo ou que eu tenha esquecido o que aconteceu mas eu entendi a situação. Entendi que você não fez de propósito.

-Nossa até quem fim, já estava achando que você era burro.

-Não sei porque eu ainda tento. -Deu as costas pro menor.

-Não, pera aí Harry, desculpa. -Segurou no braço do de olhos verdes.

-Não encosta em mim.

Louis recuou. Era óbvio que ele não confiava em Louis, isso era visível mas machucou, machucou muito. Louis odiava se sentir assim, frágil. Parecia que a função de Harry ali era esmagar seu coração, pisar em cima dos pedaços e ainda cuspir no que sobrou, Louis se sentia um pedaço de nada para o maior.

-Desculpa.

-Louis, eu preciso que você entenda, as coisas são muito difíceis pra mim, Zayn não era só mais uma pessoa, eu cresci com ele, ele foi meu melhor amigo por anos e quando eu me assumi ele estava lá, ele me ajudou, ele me ensinou a lidar com isso. Me ensinou a lidar com a homofobia da minha mãe, me ensinou a lidar com o fato de esconder isso dela. E aí eu comecei a me sentir muito confortável com ele e ele comigo. Quando entrei aqui, ele que me apoiou, eu odeio esse lugar e nunca soube lidar com essa situação de estar aqui, trabalhando forçado com algo que eu odeio. Não odeio as pessoas daqui, sei que elas estão aqui porque precisam, mas eu não, eu não suporto mais isso, e a única pessoa que me ajudou nisso tudo, você tirou de mim. Sinceramente, eu gostava de você, gostava da sua presença, gostava de ajudar você, mas agora eu não consigo. - Seus olhos estavam molhados, falar de Zayn doía ainda.

-Eu sinto muito, não sei exatamente o que te falar porque eu não entendo bem toda essa situação. Eu sei que preciso de ajuda com relação aos meus surtos, eu me cego e não vejo mais nada a minha frente mas não significa que eu goste do que eu faço.

-Okay Louis, eu entendi. Me da um tempo okay? É disso que preciso. Lidar com a morte dele não está sendo fácil, minha cabeça está um caos.

-Tudo bem, e eu sei que agora não é isso que você quer ouvir mas eu quero poder até ajudar a tornar isso mais suportável. Toda essa dor, todo esse ódio que você tem desse lugar.

Harry sentia seu corpo todo querer desmoronar, ele não queria Louis o ajudando, queria seu namorado, queria Zayn .

-É, realmente não é isso que eu quero ouvir, vou descer, tenho coisa pra fazer.

-Espero que algum dia a gente possa voltar a ser o que era.

Harry já estava saindo quando Louis pronunciou a última frase, o maior parou e se virou.

-A gente nunca foi nada, Louis.

Suicidal LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora