Capítulo 27

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Adrian

Com os punhos cerrados e o maxilar travado dou mais um soco no volante na minha frente, mais outro, outro e outro.

A cada soco, a buzina do carro soa alto, mas eu não me importo.

Mais uma vez. Mais uma vez Richard Collins tira de mim aquilo que amo!

Sim. Eu amo intensamente a Julie Clark. Quando a vi pela primeira vez sabia que a queria na minha cama, mas agora, a quero na minha vida. E com certeza meu pai sabe disso e por isso tirou-a de mim, mais uma vez, como ele sempre fez.

Dirijo pelas ruas como um louco, passando pelos sinais vermelhos e fazendo ultrapassagens arriscadas. Na minha mente eu só consigo dizer foda-se o mundo!

Pela primeira vez, eu não quero mais saber de nada, não quero manter a pose de durão, não quero engolir meu ódio e fingir que está tudo bem. Pela primeira vez o que eu quero é explodir, explodir com todo mundo, gritar com tudo e todos, quero mostrar que eu não tenho tudo sob controle, que eu não sou um sem coração.

Pela primeira vez.

Pela primeira vez eu quero mostrar meus sentimentos.

Estaciono meu carro em frente à casa dos meus pais, desço e caminho com pressa até a porta.

Toco a campainha!

Uma...

Duas...

E várias vezes seguidas causando um barulho incômodo. Mas não para mim.

A porta é aberta por uma das empregadas, passo por ela e procuro com os olhos o homem que sempre me causou sofrimento, o homem que estragou minha infância, boa parte da minha juventude, mas que eu não irei deixar estragar minha vida.

Desta vez não.

Eu não vou deixar Richard Collins estragar minha vida, não vou deixá-lo tirar de mim a única mulher que me fez sorrir como um bobo, a única mulher que me fez pensar em casamento e filhos, a única mulher que me fez pensar em formar uma família, a minha família.

Não vejo ninguém conhecido. A menina tenta falar algo, mas eu não a deixo terminar. Até que ele desce as escadas, junto da minha mãe que me olha preocupada.

— VOCÊ — vou até ele e aponto meu dedo no seu rosto — Desta vez não, não vou te deixar tirar o que eu amo, não vou te deixar estragar minha vida, RICHARD, eu te juro, que desta vez, você não vai conseguir! Você não vai tirar a mulher que eu amo — solto as palavras com ódio enquanto ele tenta manter sua postura firme.

— Filho, o que aconteceu? Meu Deus Adrian — minha mãe tenta me puxar pelo braço, mas a impeço esperando que ele diga algo, eu preciso ouvir algo da sua boca.

— Veremos Adrian, veremos. Você sabe que não é nada comparado a mim, você é só um moleque, um moleque que sempre dependeu da mamãezinha. Você não é um homem de verdade, e a sua secretariazinha, com certeza é só mais uma vadia, sabe que você não vai mais ser o CEO então preferiu te largar, eu só dei um empurrãozinho — ele ri — E sinceramente acho que agora que eu irei assumir o cargo é na minha cama que ela irá querer estar.

É a gota d'água. Pela primeira vez na minha vida, faço algo que sempre tive vontade, mas sempre me faltou coragem.

Eu dou um soco na cara do meu pai.

— Adrian — minha mãe diz com as mãos na boca.

Richard cambaleia para trás e quando para, com a mão na boca, vejo que ele está sangrando, mas continua sorrindo, como se quisesse me deixar ainda mais nervoso. E sinceramente, ele está conseguindo.

— NUNCA, nunca mais ouse falar da Julie, sei que adoraria tê-la na sua cama, mas acredite, isso nunca irá acontecer.

— Tem tanta certeza filhinho? — pergunta rindo e mais um vez levanto minha mão para distribuir outro soco em seu rosto, porém, minha mãe me impede segurando meu braço.

— Por favor Adrian, não faz isso meu filho — ela está chorando — Adrian, isso tudo é culpa minha, por favor, para meu filho.

Eu estou com a respiração ofegante, meu peito sobe e desce em alta velocidade, meus punhos continuam cerrados e meus olhos devem estar mais escuros que o céu em noite de inverno.

— A culpa é sua mesmo Lilian, por ter mimado esse bast... — não termina — esse pirralho! — Para Richard, para com isso.

Minha mãe tenta dizer algo, mas não quero ouvir, o único que quero é sair deste lugar, mas antes, olho nos olhos de Richard Collins e com toda raiva que sinto e senti durante todos os anos que se passaram, digo:

— Você sempre disse que eu não era nada, mas sabe quem não é nada? Você! Você não passa de um velho fracassado. Não conseguiu fazer em anos, o que eu fiz na empresa em meses. E quanto a ficar com a empresa, veremos quem irá ganhar! Não pense que será assim tão fácil, eu tenho minhas acções, vamos esperar para ver quem os outros accionistas irão querer ter no comando.

Não espero por uma resposta e saio andando. Quando passo pela porta suspiro pesado e paro por alguns segundos.

Sigo o caminho até onde meu carro está. Pensei que depois disso estaria mais tranquilo, mas me enganei, minha cabeça está a mil, minha respiração está tão acelerada como se tivesse corrido uma maratona.

Em alta velocidade faço o caminho em direcção ao meu apartamento, mas acabo parando num bar.

— Uma cerveja por favor — peço e prontamente a mulher que está atrás do balcão me serve. Peço mais uma.

Mais outra.

E quando dou por mim já estou completamente bêbado, jogado no balcão de um bar praticamente vazio com a mulher me olhando com pena. Eu devo estar horrível.

Suspiro e pago o que ainda devo. Levanto me apoiando nos bancos para não acabar no chão.

Quando já estou em frente ao meu carro, passo alguns minutos procurando pelas chaves que no final encontro no bolso traseiro da calça.

Dirijo pelas ruas pouco movimentadas, mal consigo abrir os olhos, quase bato duas vezes, mas no final chego no meu prédio são e salvo.

Todos me olham admirados, mesmo sem dizer nada. Talvez porque nunca viram Adrian Collins chegando a casa sem conseguir andar sem se apoiar em algo.

Mas para tudo há uma primeira vez.

Meu Chefe E EuOnde histórias criam vida. Descubra agora