Capítulo 10

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Depois de assistirem a trilogia de Jurassic Park, Sherlock foi para seu quarto onde passou o resto do dia. Durante os outros filmes, não conversou mais com Watson, mas isso não foi um problema. Aquele diálogo entre os dois, e os segundos que ficaram de mãos dadas, já tinham dado muita coisa o jovem pensar. Tentou colocar os pensamentos em ordem, mas dessa vez não era sua mente que estava confusa, e sim seu coração. Então Sherlock resolveu pegar mais um caso, algum fácil que pudesse resolver sem sair de casa. Disse para si mesmo que era pelo dinheiro e para acelerar sua carreira, mas sabia que era também para se manter ocupado. E funcionou, pois durante toda a tarde, John Watson não cruzou sua mente. Ele apenas se lembrou do hóspede quando desceu para jantar e viu que ele não estava lá.

-Ele já saiu com os amigos, informou Wanda, colocando a mesa apenas para três.

Sherlock sentou -se a mesa com o resto da família, mas sentiu falta de ter Watson sentando ao seu lado, sendo o único a rir de seus comentários. Enquanto seus pais conversavam, ficou imaginando se John estaria se divertindo. Ele parecia tão triste as vezes que realmente desejou que ele estivesse tendo um bom momento com os amigos. Mas então lembrou quais eram esses amigos que ele estava encontrando, e ficou um pouco preocupado de eles serem alguma má influência. Pensou também na possibilidade de ele conhecer alguma mulher no pub, e...

-Sherlock? - chamou seu pai, o despertando de seus pensamentos.

O jovem se desculpou e se forçou a ouvir a conversa dos pais. Quando acabou de jantar, foi para seu quarto e voltou a trabalhar em seus casos, até bem tarde da noite. Depois de horas de trabalho, sentiu sede e foi para a cozinha beber água. Quando estava voltando para o quarto, ouviu a porta da casa sendo aberta.

- Watson? - perguntou.

John entrou na casa. Ele parecia cansado. Estava molhado, indicando que não levara nenhum guarda-chuva e que a típica chuva de Londres o pegara de surpresa. Sherlock percebeu que, pelo seu jeito de andar, parecia estar bêbado. E pelo cheiro, o detetive deduziu que o que causara esse estado fora alguns copos a mais de cerveja.

-Tudo bem? - perguntou Sherlock, preocupado.

-Claro. Desculpa se eu te acordei com o barulho... ah, espera. Eu não preciso pedir desculpa. Verdade. Mesmo eu sendo um merda de ser humano, com uma merda de vida, não preciso me desculpar por isso. Tinha me esquecido. - disse, rindo no final com ironia e dor na voz.

-John, você não é...

-E como você sabe? Nos conhecemos há pouco tempo, por que você tem tanta certeza que eu sou um cara legal? - perguntou, irritado.

Sherlock tentou não ficar irritado também, sabendo que aquele discurso era fruto do álcool em excesso, então resolveu não responder.

-Aconteceu alguma coisa no pub? - perguntou.

John passou as mãos pelos fios desarrumados de seu cabelo, irritado.

-Sherlock, por favor, não estou no clima agora para suas perguntas. Eu só sai com meus amigos, está tudo bem. -disse, com mais calma.

- Eu pensei que você disse que esses seus amigos eram idiotas como você na época da faculdade. Lembro que você disse que nem sabia se podia considerá-los seus amigos. -continuou, apesar do pedido do outro.

-Sherlock...

- Para que sair com eles? Para que insistir em companhias ruins e voltar bêbado para casa?

-Porque eu não tenho ninguém! Porque eu sou um ninguém, e eu preciso tentar ter minha vida normal de volta! Pode ser que você não entenda isso, mas eu não quero ficar sozinho! Ao contrário de você, eu não vejo as pessoas como objetos de casos, as enchendo de perguntas pessoas apenas pela minha curiosidade insensível. Eu vejo as pessoas como uma necessidade, eu preciso de pessoas, pois eu não aguento mais não ter ninguém! - respondeu, com raiva.

John percebeu, assim que terminou, que falara mais alto do que gostaria. Mas estava alterado demais para pedir desculpas, então apenas subiu as escadas aos tropeços em direção ao seu quarto. Sherlock ficou um tempo na cozinha, digerindo as palavras do outro. Também foi para seu quarto, mas dessa vez não correu. Apenas deitou na cama, cansado, pensando que sua rotina se tornara se aproximar de seu hóspede, apenas para brigar com ele horas mais tarde.

***

Dia seguinte, Sherlock acordou e não quis levantar da cama. Sabia que seus pais estariam trabalhando, Timothy no escritório de advocacia e sua mãe como professora de física na faculdade. Logo, a casa estava ocupada apenas por ele e seu não tão querido hóspede. Pensou em ficar no quarto até seus pais voltarem, mas depois se sentiu idiota por ter essa ideia. Ele não sabia quanto tempo Watson ficaria na casa com eles, e ele não poderia se esconder para sempre. Determinado a resolver a briga de ontem, levantou e foi até a cozinha, encontrando John tomando chá. Ele parecia ainda mais acabado, provavelmente não tinha dormido bem. Sherlock deduziu que provavelmente o excesso de álcool o havia privado do sono, sem saber que a briga dos dois também tinha um peso no cansaço do outro.

-Bom dia. - disse o moreno.

O hóspede levantou os olhos, e esse simples gesto parecia ter causado dor, pois ele imediatamente colocou a mão na cabeça.

-Bom dia. - respondeu.

Sherlock caminhou até o armário e pegou pílulas para dor de cabeça, oferecendo ao outro.

-Vai ajudar na ressaca.

John sorriu agradecido, e o moreno sentiu seu coração aquecer ao ver aquele sorriso sincero de volta, e não aquele irônico que ele havia visto ontem a noite.

-Sherlock, eu... - disse, depois de tomar os remédios.

-Não, eu começo. Você tem razão, eu sou insensível as vezes. Eu culpo muito os outros por não ter amigos, e é verdade que as pessoas não são legais comigo, mas eu preciso admitir minha parcela de culpa. Eu não sei ser amigável, eu não entendo a necessidade de ter amigos. Então eu entendo você não querer responder mais minhas perguntas, e eu prometo não perguntar mais nada sobre sua vida. -disse, rápido, antes de perder a coragem.

-Eu não quero que você pare de me perguntar sobre minha vida.

-Mas você disse...

-Eu estava bêbado, cansado e triste. Não deveria ter falado daquela maneira com você. Eu admito que as vezes você é muito curioso, e certos assuntos são delicados para mim, mas desde o primeiro dia você me fez sentir muito a vontade nessa casa. Você não é insensível, Sherlock. É apenas diferente das outras pessoas, e isso não é ruim. Na verdade, é ótimo.

-Sério? - perguntou, sentindo o coração acelerar com o elogio.

-Sério. Acho que podemos chegar num consenso. Você pergunta menos, e eu te respondo mais. O que acha? - respondeu sorrindo.

-Parece um pouco paradoxal.

John riu, e de repente parecia que os dois nunca haviam brigado na vida, e que eles se conheciam há muito mais tempo.

-Acho que se não fosse paradoxal não teria graça.

Sherlock riu e concordou. Nada que fosse convencional combinava com ele, e pelo visto, não combinava com seu hóspede também.

-Que tal eu preparar um café da manhã descente para gente? Enquanto isso, eu posso te explicar um pouco sobre o que aconteceu no pub ontem. - sugeriu.

-Você não precisa...

-Mas eu quero. Chegou a hora de eu contar um pouco sobre a família Watson.


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