Capítulo 38

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Os dois voltaram para casa em completo silêncio. Sherlock disse que não deixaria John se encrencar com a polícia por conta de Richard, mas o outro nem parecia lhe escutar. O loiro no fundo não se importava se algo lhe ocorresse. Sua única preocupação no momento era tentar fazer suas mãos pararem de tremer.

Quando chegaram em casa, Watson estava indo para seu quarto, quando Holmes o chamou:

-John, espera. Eu.. sinto muito. 

O hóspede sorriu e disse:

-Não foi sua culpa, querido. Está tudo bem.

-Da última vez que você disse isso, você anunciou depois que iria sair de casa. Só me prometa que, se não estiver tudo bem, você vai me contar. 

John engoliu em seco. Como contar que não estava bem? Como contar que toda noite tinha pesadelos com a guerra? Como contar que, mesmo não estando mais no Afeganistão, ainda se sentia em uma guerra diária contra sua própria mente? Era complicado demais. 

-Estou bem. Prometo. - mentiu. 

Sherlock era inteligente, e sabia que seu hóspede estava mentindo. Mas, de repente, sentiu uma distância enorme entre eles. O jovem começou a se questionar o que teria acontecido se ele não  estivesse lá. Será que John atiraria em Richard? O moreno balançou a cabeça, afastando esses pensamentos. 

-Tudo bem então. - respondeu.

Cada um seguiu para seu quarto, e pelo resto da tarde, não se falaram direito. A noite, no jantar, John estava agindo como sempre. Sorridente, brincalhão e carinhoso. Mas agora o detetive conseguia enxergar uma dor em seus olhos que não havia reparado antes. 

***

2 semanas se passaram desde esse incidente, e nenhum dos dois tocou mais no assunto. Apenas agiam como se, a cada dia que passasse, esse assunto ia ficando cada vez mais para trás. Sherlock as vezes pensava em tentar conversar, mas nunca sabia como. E uma parte sua tinha medo de tentar resolver, mas no fundo só piorar tudo. Estava gostando da sua relação com John da maneira como estava, e não queria que mais nada pudesse servir como empecilho. Por isso, apenas fingiu que nada aconteceu e continuou aproveitando a companhia de seu hóspede. 

Um dia, Sherlock estava em seu quarto quando ouviu batidas na porta. Sorriu, pensando que seria John, mas eram seus pais. 

-Por que vocês estão tão arrumados?- perguntou, ao ver os pais com roupa formal. 

-Nós vamos para a festa da empresa que seu pai trabalha. Nós te avisamos, lembra? - respondeu Wanda.

-Não, eu geralmente apago informações inúteis da minha mente. - disse, dando de ombros. 

-Bom, nós já avisamos ao Watson, vamos voltar bem tarde. Eu ia dizer para você não se esquecer de jantar, mas com o doutro em casa você come, certo? - disse Timothy, rindo. 

O moreno mordeu o lábio, torcendo para seu rosto não ter corado. 

-Comporte-se, certo? - disse Wanda, o olhando bem no fundo dos olhos do filho.

Sherlock apenas assentiu e seus pais saíram do quarto. Depois de ter certeza que eles já haviam saído de casa, o jovem desceu as escadas e encontrou seu hóspede na sala, lendo um livro. 

-Seus pais acabaram de sair. - disse. 

-Eu sei, eles falaram comigo. 

-Seu pai pediu para eu te fazer jantar alguma coisa. - respondeu, sorrindo.

-Céus, toda vez ele faz a mesma piada. - disse, revirando os olhos.

-Mas pelo o que eles falam, você realmente começou a comer mais depois que eu cheguei. 

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