Capítulo 1

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Acordei assustada.

Suor escorria pelo meu pescoço e costas. Minhas mãos agarravam o lençol com tanta força que eu conseguia sentir as unhas fincando em minha pele através do tecido.

Mais um pesadelo me assombrou naquela noite, como aconteceu em todas as outras.

Toquei meus pés no gelado piso de mármore, os puxando para cima em um reflexo.

Desde quando era tão gelado?

É claro, eu estava no castelo. Às vezes esquecia desse pequeno detalhe.

Aquele quarto passou a ser meu fazia poucos dias, quando fui sorteada para participar da Seleção. Oito nobres de diferentes estados e um príncipe a ser conquistado, o quão errado isso poderia dar?

Bem, desde que meu pai me obrigou a me inscrever, passei a fazer parte dessa loucura.

Só de lembrar daquele homem repugnante, calafrios atravessaram todo meu corpo. Era melhor não pensar nele, nem no que fazia comigo, nem nas palavras que ele adorava direcionar a mim: "Ingrata", "Imprestável", e muitos outros prefixos igualmente humilhantes.

Suspirei cansada, e voltei a colocar meus pés no chão em busca das pantufas felpudas que deixei ao lado da cama no dia anterior. Quando as encontrei, me permiti caminhar até a janela do quarto.

Ainda era noite, a Lua brilhava imponente no céu como se quisesse mostrar o quão linda ela era. Eu concordava, não havia nada mais belo que a Lua.

Embora fosse verão, uma brisa noturna me acometeu fazendo com que eu envolvesse meus braços tentando esconder minha pele exposta, já que a camisola de seda não podia fazer esse trabalho.

Roupas chiques, elas eram tão desconfortáveis.

Peguei meu robe pendurado no cabide e o vesti, indo quarto afora para o único lugar em que eu sabia que poderia passar o tempo, já que dormir não era mais uma opção.

A biblioteca do palácio era linda. Suas paredes de pedra subiam até um teto redondo, com pinturas que eram difíceis de se distinguir à noite, mas que faziam o lugar se assemelhar à uma catedral. Estantes de carvalho ocupavam quase todo o espaço, deixando uma área aberta no centro com algumas mesas e poltronas para leitura.

Desde que descobri a biblioteca, passei a ir lá quando tinha tempo livre, ou quando não conseguia dormir, como agora. Lá o ambiente era silencioso, bom para pensar. Me trazia certa paz, coisa que nunca tive em Crestel, o ducado que meu pai comandava.

Caminhei pelas estantes, deslizando meus dedos pelas lombadas dos livros.

Eu não era uma leitora assídua, embora de vez em quando gostasse de me perder nos livros. Ainda não havia aberto nenhum livro do palácio, mesmo tendo permissão para isso. Gostava de ir lá apenas para ter um pouco de silêncio, e para fugir daquela confusão que me meti há alguns dias.

Ir morar no palácio para disputar um príncipe não estava em meus planos, mas acabou sendo esse meu destino.

A família real morava em Soto, a capital de mesmo nome que o estado. Jales, nosso país, tinha oito capitais ao todo: Soto, Abyur, Nova Paz, Lages, Tolke, Lisia, Nebe e Prega. Eu vivia em Prega com meu pai, meu irmão morava fora do ducado, e minha irmã se mudou para Lages quando casou.

Uma nobre de cada estado veio a Soto para disputar a mão do príncipe, tendo sido selecionadas em um sorteio realizado ao vivo no canal real, onde ficávamos sabendo sobre tudo que acontecia com a família governante de Jales.

Não preciso dizer que fiquei extremamente aborrecida quando vi meu rosto na televisão. Isso fazia cinco dias.

Quando cheguei no centro da biblioteca, me deparei com um abajur aceso. Naquela mesa, uma silhueta preta estava de pé mexendo em uma pilha de livros. O rosto dela levantou quando ouviu meus passos.

Ela não é PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora