Não compareci ao almoço, tendo comido em meu quarto. Às duas horas fui até a saída para o jardim esperar por Mattia. Ele apareceu cinco minutos atrasado.
— O senhor só tem ternos em seu armário? — brinquei ao vê-lo usar uma roupa muito semelhante a de todos os outros dias em que o vi.
— Devo ter uma ou duas camisetas — entrou na brincadeira — Vamos? — perguntou me estendendo o braço.
Balancei a cabeça e segurei seu braço.
Caminhamos pela estrada de pedra por alguns minutos, até que pedi para que sentássemos por estar me sentindo um pouco fraca.
— Seu resfriado parece ter piorado durante a noite — ele falou se ajoelhando em minha frente e colocando a mão contra minha testa.
Era verdade que nem toda a maquiagem do mundo conseguiria esconder minha pele pálida e o nariz vermelho de tanto fungar. Eu estava péssima, essa era a verdade.
— Mal consegui dormir — admiti, embora não quisesse preocupá-lo.
— Não acha melhor faltar ao programa de hoje? — sugeriu — É a sua saúde em jogo.
Neguei.
— Não posso faltar, e Alice disse que me liberaria se eu descansasse.
Mattia não pareceu satisfeito com isso.
— Eu... posso conversar com Jun, pedir que a libere.
— Não! — falei um pouco alto demais, pegando Mattia de surpresa — Quer dizer... não comente com ninguém sobre isso. Eu vou estar bem até a noite, prometo.
— Se a senhorita diz — falou se levantando — irei acreditar em suas palavras.
Sorri agradecida.
Mattia se sentou ao meu lado, apoiando os braços no encosto do banco de pedra.
— Esse clima me lembra de Lages.
O observei fechar os olhos e tombar a cabeça para trás.
— Sente falta de sua casa? — a curiosidade falou mais alto.
Ele pareceu refletir sua resposta.
— Não exatamente. — voltou a abrir os olhos — Soto se tornou minha casa quando eu e minha irmã nos mudamos para o palácio. Lages é apenas...
— O lugar em que você nasceu — completei.
— Exatamente.
Eu entendia esse sentimento. Embora eu vivera minha vida inteira em Crestel, não considerava aquele ducado um lar. Isso nunca me foi permitido, de qualquer forma. O tempo que vinha passando no palácio estavam sendo de certa forma libertador.
— Arabel gosta daqui? Digo, de Soto.
— Ela não tem do que reclamar.
Não sei se aquela era bem a resposta que eu esperava.
Sem saber o que mais perguntar, fechei os olhos e deixei que a brisa do final da primavera alcançasse meus cabelos e roupas, os balançando de leve.
Em Crestel eu raramente podia ir para o jardim, talvez era por isso que eu frequentava tanto o do palácio.
Quando abri os olhos, vi que Mattia me observava. Sua expressão era um mistério.
— O que foi? — questionei franzindo o cenho.
Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu.
— Cuidado para não entrar mosca — brinquei, finalmente tendo uma reação de sua parte.
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Ela não é Princesa
Fanfiction+18 Onde 8 garotas da nobreza de Jales disputam pelo coração do príncipe Jun, mas uma delas decide não se apaixonar por ele. *Baseado em A Seleção