Capítulo 9 parte 1

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Não compareci ao almoço, tendo comido em meu quarto. Às duas horas fui até a saída para o jardim esperar por Mattia. Ele apareceu cinco minutos atrasado.

— O senhor só tem ternos em seu armário? — brinquei ao vê-lo usar uma roupa muito semelhante a de todos os outros dias em que o vi.

— Devo ter uma ou duas camisetas — entrou na brincadeira — Vamos? — perguntou me estendendo o braço.

Balancei a cabeça e segurei seu braço.

Caminhamos pela estrada de pedra por alguns minutos, até que pedi para que sentássemos por estar me sentindo um pouco fraca.

— Seu resfriado parece ter piorado durante a noite — ele falou se ajoelhando em minha frente e colocando a mão contra minha testa.

Era verdade que nem toda a maquiagem do mundo conseguiria esconder minha pele pálida e o nariz vermelho de tanto fungar. Eu estava péssima, essa era a verdade.

— Mal consegui dormir — admiti, embora não quisesse preocupá-lo.

— Não acha melhor faltar ao programa de hoje? — sugeriu — É a sua saúde em jogo.

Neguei.

— Não posso faltar, e Alice disse que me liberaria se eu descansasse.

Mattia não pareceu satisfeito com isso.

— Eu... posso conversar com Jun, pedir que a libere.

— Não! — falei um pouco alto demais, pegando Mattia de surpresa — Quer dizer... não comente com ninguém sobre isso. Eu vou estar bem até a noite, prometo.

— Se a senhorita diz — falou se levantando — irei acreditar em suas palavras.

Sorri agradecida.

Mattia se sentou ao meu lado, apoiando os braços no encosto do banco de pedra.

— Esse clima me lembra de Lages.

O observei fechar os olhos e tombar a cabeça para trás.

— Sente falta de sua casa? — a curiosidade falou mais alto.

Ele pareceu refletir sua resposta.

— Não exatamente. — voltou a abrir os olhos — Soto se tornou minha casa quando eu e minha irmã nos mudamos para o palácio. Lages é apenas...

— O lugar em que você nasceu — completei.

— Exatamente.

Eu entendia esse sentimento. Embora eu vivera minha vida inteira em Crestel, não considerava aquele ducado um lar. Isso nunca me foi permitido, de qualquer forma. O tempo que vinha passando no palácio estavam sendo de certa forma libertador.

— Arabel gosta daqui? Digo, de Soto.

— Ela não tem do que reclamar.

Não sei se aquela era bem a resposta que eu esperava.

Sem saber o que mais perguntar, fechei os olhos e deixei que a brisa do final da primavera alcançasse meus cabelos e roupas, os balançando de leve.

Em Crestel eu raramente podia ir para o jardim, talvez era por isso que eu frequentava tanto o do palácio.

Quando abri os olhos, vi que Mattia me observava. Sua expressão era um mistério.

— O que foi? — questionei franzindo o cenho.

Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu.

— Cuidado para não entrar mosca — brinquei, finalmente tendo uma reação de sua parte.

Ela não é PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora